Patrocínio:
A pastel toned, multi-coloured image of two toned generic coin with Bitcoin symbol, arranged in a row, or chain along a curve against a multi coloured background. Denotes concept of block-chain and crypto-currency. With lots of copy space. (Getty Images/Reprodução)
Especialista em criptoativos
Publicado em 27 de abril de 2025 às 11h00.
O ciclo de alta atual do mercado cripto pode parecer confuso para muitos — mas o que estamos testemunhando, de fato, é um novo momento na história do bitcoin.
O bitcoin tem agido menos como ações e mais como ouro.
Nas últimas semanas, o clima tem sido de incerteza e medo diante da guerra tarifária. O mais interessante? O bitcoin reagiu de forma mais estável do que o próprio S&P 500 e o mercado de ações em geral. No momento em que escrevo, está cotado a US$ 95 mil.
As criptomoedas costumam ser a classe de ativos que mais sofre com a volatilidade, mas o jogo está mudando e o bitcoin vem cativando com força a confiança das instituições.
Cada vez mais, o ativo supera a visão conservadora de meramente especulativo — de ganho de curto prazo e venda — e se consolida como uma reserva de valor.
A liquidez global continua a subir, mesmo que de forma mais lenta, segundo as últimas medições semanais com base nos balanços dos principais bancos centrais — em levantamento feito pelo especialista Michael Howell, da Crossborder Capital.
Ela bateu um novo recorde histórico na semana passada, saltando para US$ 176,2 trilhões. No acumulado do ano, já avançou mais de US$ 5 trilhões.
A melhora na liquidez dos bancos centrais, principalmente por parte do Fed e do BC chinês (PBoC), e a queda do dólar americano são as principais responsáveis por esse crescimento.
Porque a liquidez impacta ativos de risco como as criptos, criando um ambiente fértil para fluxos de capital em busca de proteção contra a desvalorização das moedas fiduciárias.
Segundo as análises de Howell, o efeito do aumento da liquidez é sentido na criptoesfera cerca de três meses depois (gráfico abaixo). O que isso significa? Que a recuperação da liquidez ocorrida no primeiro trimestre pode beneficiar as criptos no segundo trimestre.
Por ora, a cautela segue sendo a prioridade do mercado, com os índices de exposição ao risco ainda em modo “risk off”, como diz Howell, mas os investidores estão voltando aos poucos aos ativos de risco após a queda ocorrida no início de abril.
O bitcoin vem se comportando mais como ouro recentemente, reforçando a tese de ouro digital.
Em setembro de 2024, a BlackRock publicou um relatório apontando qualidades do Bitcoin próximas às do metal precioso: ambos funcionam como refúgio contra a desvalorização das moedas fiduciárias e como alternativa de proteção quando o mercado de ações corre risco de queda.
Para ilustrar essa ideia, a gestora analisou seis eventos recentes que sacudiram o sistema financeiro global, como a pandemia de Covid-19 e a guerra Rússia-Ucrânia, e comparou as reações de ouro e bitcoin. O padrão se repetiu: o BTC costuma ter um baque inicial, mas logo dispara.
60 dias: em 5 dos 6 eventos, o bitcoin superou o ouro.
10 dias: em 3 desses casos, o bitcoin saiu na frente do ouro logo na primeira semana e meia.
(Veja a tabela abaixo da BlackRock atualizada por Sam Callahan no “X”).
Esse comportamento sugere que a atual crise tarifária pode abrir uma janela de oportunidade para o bitcoin alcançar um novo recorde histórico. Com o ouro nas máximas, o hiato entre os dois ativos se transforma em sinal de alerta e possibilidade para quem, como eu, está esperando uma nova pernada de alta.
O Federal Reserve está sob pressão: de um lado, a necessidade de controlar a inflação; do outro, o risco de recessão. Com a grande maioria do mercado precificando pelo menos um corte de juros até julho, o cenário aponta para mais liquidez adiante. Taxas de juros mais baixas tendem a enfraquecer o dólar e incentivar investimentos em ativos de risco, podendo impulsionar as criptomoedas.
Enquanto o varejo hesita, grandes investidores — as "baleias" — estão aproveitando a volatilidade para acumular bitcoin a preços descontados.
Segundo a empresa de research Santiment, essas carteiras (que possuem entre 10 e 10 mil BTC) detêm hoje quase 68% de toda a oferta do ativo. Neste mês de abril, as baleias seguem acumulando e já adicionaram mais de 53,6 mil BTC desde o último 22 de março. Para se ter uma ideia, na última semana, esses players adicionaram 19.255 unidades ao seu saldo de bitcoin, elevando suas participações para um recorde de cerca de 13,47 milhões de BTC.
Não só as baleias entram em campo — as instituições também não ficam para trás. Os ETFs de bitcoin tiveram essa semana sua melhor performance diária desde o início do ano. Na quarta (23), os 10 ETFs spot de bitcoin registraram um fluxo líquido positivo de 9.882 BTC (cerca de US$ 919,84 milhões), de acordo com dados da Farside Investors.
Outro destaque foi o anúncio da criação da Twenty One Capital (21 Capital), uma nova empresa de aquisição de ativos cripto que reúne nada menos que Cantor Fitzgerald, Tether, BitFinex e SoftBank. A proposta é seguir a cartilha de Michael Saylor na Strategy, maior detentora de bitcoin (538.200 BTC).
Diversos países pelo mundo já demonstram interesse em construir suas reservas estratégicas de bitcoin, a exemplo dos EUA.
Além disso, propostas ousadas ganham força: a administração Trump avalia usar receitas de tarifas comerciais para comprar BTC, ao mesmo tempo em que discute realocar parte de suas reservas de ouro para criptomoedas. São iniciativas ainda em fase de ideia, mas que refletem uma mudança de narrativa.
Logicamente, não podemos ignorar os possíveis obstáculos pelo caminho.
Pode adiar cortes de juros e estender a aversão ao risco.
Novas tarifas podem gerar choques de volatilidade nos mercados.
Regulamentações mais duras em regiões-chave, como a União Europeia, podem limitar ganhos de curto prazo.
Mesmo diante das barreiras, o bitcoin tem demonstrado resiliência, com correlação decrescente com ações de tecnologia e maior independência como classe de ativo.
Os fatores que abordamos aqui são importantes para colocar na balança sempre que bater o medo e a vontade de vender os seus ativos.
Eu vejo essa nova valorização do bitcoin com otimismo e como um sinal de que podemos ter uma nova máxima neste ciclo.