Segurança digital vem ganhando destaque no mercado (Reprodução/Reprodução)
Repórter do Future of Money
Publicado em 19 de julho de 2024 às 17h37.
Última atualização em 19 de julho de 2024 às 18h08.
Um relatório divulgado pela Mastercard aponta que os bancos tradicionais e as fintechs têm grandes diferenças quando o assunto é prevenção a fraudes. Os bancos relataram gastos de US$ 4,8 milhões com fornecedores de soluções para segurança digital, enquanto as fintechs gastam US$ 186 mil, uma diferença de 25 vezes.
Entretanto, mesmo com os gastos maiores, os bancos também são os que mais perdem com fraudes: as instituições tradicionais reportaram perdas de US$ 1,8 milhão, enquanto as fintechs perderam US$ 352 mil. O relatório aponta, ainda, que fraudes de criação de conta e fraudes de tomada de controle de contas são as mais comuns no mercado, mesmo com o crescimento rápido de golpes.
Por outro lado, tanto bancos quanto fintechs apontam que minimizar as perdas geradas pelas fraudes e o atrito gerado nas soluções de segurança para os usuários são os principais objetivos na implementação de estruturas de segurança digital, mostrando a importância da experiência do usuário.
Em entrevista à EXAME, Leonardo Linares, vice-presidente sênior de Soluções para Produtos e Serviços na Mastercard, acredita que os bancos acabam perdendo mais com as fraudes não porque as fintechs sabem "usar melhor" tecnologias de prevenção, mas sim porque as instituições tradicionais possuem mais clientes, dinheiro e exposição, com volumes maiores que acabam atraindo criminosos.
"Não vemos hoje um movimento muito diferenciado do ponto de vista das fintechs serem mais efetivas, até pelo ponto de vista de investimentos. Os bancos também investem mais por serem alvos", comenta. O executivo avalia que a pesquisa confirmou a suspeita de as principais fontes de perda para as empresas ainda estão na criação e perda de controle de contas.
Linares opina que "não tem bala de prata [para combater as fraudes]. As empresas usam uma combinação de ferramentas, independentemente do tamanho, na pesquisa, ouvimos uma média de seis a sete ferramentas por empresas. E é muito comum quando fala de fraudes pensar no balanceamento de prevenção à fraude versus o atrito pro cliente, é uma questão de inteligência, de como elevar atrito dependendo do risco".
"O digital traz mais riscos, é muito mais fácil fazer uma fraude no digital e escalar que no mundo físico. Então no mix de operações, é mais propenso ao risco de fraudes", explica. Mesmo assim, o tema muitas vezes não é uma prioridade para as fintechs.
"Boa parte das fintechs tem como grande desafio a agenda de priorização. A agenda de crescimento é a prioritária, e muitas vezes em detrimento de processos e ferramentas mais robustas no mundo das fraudes. É um desafio grande, precisa escolher o que fazer e aí acabam precisando correr atrás das fraudes só depois que crescem", explica.
Mas o executivo da Mastercard comenta que "quanto mais a fintech cresce, mais cresce o olho do fraudador. É a escala que dá sentido a ter mais ferramentas antifraudes, processos de segurança, mesmo em detrimento do crescimento".
"De certa forma isso é natural, até pelo estágio das fintechs, a maturidade varia muito. As mais estabelecidas, com escala, tem uma maturidade excelente, e outras no meio da jornada ainda estão no ganho de escala e depois correm atrás da fraude, e outras ainda estão no início e vão resolvendo os problemas conforme eles aparecem. Em geral, as que atingem um estágio maior, de escala, tendem a crescer nessa maturidade", avalia.
Observando a crescente importância da segurança digital nas operações de instituições financeiras, velhas ou novas, a Mastercard "já há algum tempo expandido a atuação para ser mais focada em tecnologia, e focando em digital e fraude. É um investimento de US$ 7 bilhões nos últimos anos, 15 empresas adquiridas".
O foco da empresa, diz Linares, é "ajudar com ferramentas, desde a identificação de fraude até as ferramentas de validação de identidade — onde todo o cliente é novo no início —, tokenização pensando em privacidade de dados e aí enriquecer modelos para criar um ciclo virtuoso de retroalimentação de informações e melhorar os modelos. Queremos incentivar que as empresas definam políticas e processos para a área".
E, assim como em outros setores da economia, a inteligência artificial também precisa entrar cada vez mais no radar dos bancos e fintechs, segundo Linares: "IA é uma realidade, cada vez mais tem sido usada pelos fraudadores, cada vez mais profissionalizados".
"Aquela visão quase que romântica do fraudador no fundo da garagem, isoladamente agindo, é cada vez mais distante da realidade. São organizações cada vez mais estruturadas e com várias tecnologias, incluindo IA", afirma.
O importante, destaca, é que as instituições adotam a inteligência artificial "na prevenção", com "modelos que aprendam rapidamente com a mudança de comportamento, consigam ajustar políticas".
Por outro lado, ele acredita que as fintechs têm um desafio específico. "Você tem uma proliferação de ferramentas e a IA sendo usada como uma palavra da moda, mas ela é tecnologia, é um meio para atingir algo, não o fim em si. Não é que IA é a solução, é como vai aplicá-la e no que vai aplicá-la, é preciso ter uma inteligência no uso da inteligência artificial".