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B3 (Nelson Almeida/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 1 de março de 2025 às 11h00.
Eu sempre acreditei no mercado de criptomoedas desde 2014, quando comecei a trabalhar dentro desta indústria. E, sim, o otimismo era algo muito presente na minha vida, por isso as apostas neste setor. Mas dizer que veria um crescimento tão rápido, principalmente no Brasil, talvez fosse uma dose alta de exagero.
Porém, o mercado é como ele é. E a cada dia que passa, vemos um avanço muito interessante em termos de adoção, política e produtos baseados em criptomoedas.
Enquanto os Estados Unidos apenas deram o sinal verde para o "início" de uma discussão sobre a regulamentação dessa classe de ativos, o Brasil – seguindo na contramão do senso comum – traciona muito melhor, sendo capaz de conectar com mais eficiência o mercado de criptomoedas com o mundo tradicional.
Mas isso me faz pensar: Até que ponto essa conexão é vantajosa ao consumidor?
Não é uma grande novidade que a B3, responsável pela bolsa de valores brasileira, já estava oferecendo produtos criptográficos ao mercado. No caso, os investidores poderiam negociar, diretamente pela bolsa, contratos futuros de bitcoin.
Esta foi uma jogada muito inteligente da B3 que não só atendeu a demanda de vários clientes, como também aproveitou muito bem a euforia do mercado, lá em abril do ano passado.
Os futuros de bitcoin – que tem o ticker BIT – foi o primeiro produto de uma criptomoeda dentro de um ambiente tradicional deste nível. Evidentemente, a gente comemorou bastante. Afinal, a decisão era um marco para que mais pessoas pudessem participar deste segmento.
Mais do que isso, o movimento confirmou o que eu já digo há algum tempo: o mercado de criptomoedas já está consolidado. Quem não participa, uma hora ou outra vai participar. Não há como parar este desenvolvimento.
Bom, se já temos a possibilidade de negociar contratos futuros de bitcoin na bolsa de valores, o que mais poderia haver de novidades? Muitas coisas
Recentemente, fiquei muito animado com o discurso do presidente da B3, Gilson Finkelsztain, indicando que a B3 estava se preparando para ampliar ainda mais sua atuação e oferta de produtos referenciados por criptomoedas.
Então, o que vem por aí?A proposta se baseia em duas frentes. A primeira delas é expandir as variações de ativos presentes nos contratos futuros. Assim, se hoje só há futuros de bitcoin, a ideia é trazer o mesmo tipo de produto, mas para Ethereum e Solana.
Na minha visão, a seleção desses dois produtos é bastante responsável e apresenta muito sentido. Bitcoin é a principal criptomoeda do mundo, enquanto o Ethereum é o protocolo de maior hub de desenvolvimento em blockchain. Solana segue em uma linha parecida com o ether, mas com o charme da especulação e “hype”, como alguns dos analistas da Foxbit gostam de chamar.
Por fim, o bitcoin vai ganhar uma nova variação, com a negociação de opções da criptomoeda. Com isso, a cesta de produtos da B3 fica com:
Até agora, o lançamento de todos esses novos produtos ainda não tem data oficial. Porém, Finkelsztain deixou no ar que a disponibilidade de negociação desses ativos deve acontecer até o final deste ano.
Para além da B3 em si, outros movimentos acontecem em paralelo, como é o caso dos ETFs de XRP – token da Ripple –, que foi recém-aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A gestora responsável pelo produto, a Hashdex, disse ainda não ter uma data oficial de lançamento, mas que faria o anúncio em breve.
O jeito, então, é aguardar!
Desde que a B3 lançou os contratos futuros de bitcoin, muitas pessoas do mercado financeiro me questionaram como isso impactaria as operações das exchanges – não apenas da Foxbit. No discurso dessas pessoas, as corretoras poderiam ficar para trás, já que a bolsa brasileira estaria oferecendo o mesmo serviço.
Confesso, que eu consigo entender essa fala, mas essa situação não é algo preocupante, mas, sim, de comemoração.
As diferenças começam logo de cara na conceituação do produto.
Em uma exchange, você está comprando o ativo em si, ou seja, a criptomoeda. Já na B3, a negociação é de um contrato que lhe dá o direito de compra ou venda daqui algum tempo.
Fora isso, você tem as distinções do modelo de negócios e funcionamentos de cada plataforma.
Poderíamos ficar com parágrafos e mais parágrafos discutindo as diferenças mais peculiares das negociações de criptomoedas entre exchanges e B3. Mas vou me ater aos pontos mais “simplistas” do cenário.
Para começar, as corretoras, como a Foxbit, cobram taxas na compra e venda. Mesmo que você deixe seus bitcoins parados por um ano na plataforma, não há qualquer tarifa de administração, por exemplo. Algo que os ETFs já apresentam, independentemente do resultado que o produto esteja oferecendo.
Já os contratos futuros de bitcoin da B3, assim como as exchanges, não aplicam este tipo de taxa. Porém, seu funcionamento exige certa atenção com alguns números.
Neste produto da B3, seu vencimento é mensal, ou seja, não são contratos perpétuos, que podem ser rolados ad aeternum. Isso já tira uma carga importante dos custos de manutenção da posição – em produtos sem vencimento, é preciso pagar uma taxa regular para que seus contratos continuem ativos.
Mesmo assim, há uma série de regras e ajustes de preços que ocorrem diariamente, além de uma tarifação mais complexa, como PIS, COFINS e ISS – antes que digam, esta não é uma crítica à tributação, apenas uma contestação de funcionamento do produto.
Outra grande diferença é que a negociação de futuros (e opções) operam apenas “contratos” e não o ativo. Isso quer dizer que ao comprar o produto, você não está adquirindo bitcoin, apenas uma posição que lhe permite comprar ou vender o contrato, conforme oscilação do preço.
Este é o movimento contrário das corretoras, que não só permite a compra e venda direta do ativo, como também o saque da criptomoeda para uma carteira particular. Neste caso, você é capaz de fazer a autocustódia do seu token, tendo muito mais controle sobre ele.
E, mais uma vez, esta não é uma possibilidade para os ETFs, já que o fundo é administrado por uma empresa e apenas os resultados são compartilhados.
A B3 atua ainda em um ramo centralizado. Por isso, acaba atuando como o mercado financeiro tradicional, com dia e hora de abertura e fechamento.
Porém, se você está negociando futuros de um ativo que opera 24/7 no mundo todo, os riscos aumentam consideravelmente, já que você pode estar com uma posição travada, em meio a um evento importante que poderia lhe render resultados mais expressivos ou evitar uma perda significativa.
O que não acontece nas exchanges. Sejam elas centralizadas, como a Foxbit, ou descentralizada (UniSwap), você pode fazer negociações o dia e a hora que quiser. Lembro bem que, por volta das 22h, de 24 de dezembro de 2021, estava eu com meus familiares para comemorar o Natal, mas também havia realizado uma negociação bem favorável de bitcoin.
Então, as exchanges são melhores que a consolidada B3?
As diferenças breves que apresentei entre comprar bitcoin em uma exchange, e negociar contratos futuros na B3 não quer dizer que um produto seja melhor que o outro.
Meu ponto, aqui, é que cada um desses serviços está disponível para todos. Porém, nem sempre eles vão fazer sentido para 100% dos investidores.
No caso dos contratos futuros, estamos falando de uma estratégia muito mais elaborada, em que é possível obter resultados positivos, mesmo com a queda de preços do bitcoin. Afinal, você pode adquirir um contrato de venda.
Já em relação aos ETFs, você pode registrar lucros a partir de operações diárias, sem precisar movimentar um único dedo ao longo do mês.
Em ambas as situações, você está delegando seu investimento a um terceiro. E não há problema algum com isso.
Quando a gente olha para as exchanges, o cenário é outro. Você pode, sim, contar com a custódia e serviços de uma corretora de criptomoedas. Entretanto, você tem a possibilidade de controle total dos seus ativos, sem a tarifação extra de administração, por exemplo.
O parceiro da Foxbit Marcelo Alemi, tem uma frase que gosto muito: “ETFs de bitcoin é o produto para quem tem preguiça de cuidar dos próprios ativos”.
Não há críticas à preguiça. Ao contrário, sou favorável a ela em muitos momentos. Porém, no meu estilo de administração, minha opção é sempre ter o máximo de controle possível sobre meus investimentos.
No caso, eu optei por guardar meus bitcoin em uma carteira particular, do que me movimentar pelos ETFs ou apenas negociar futuros na B3.
O que é importante entender é que o mundo não é binário. Uma ação não exclui a outra. Ao contrário, elas podem ser complementares, já que são estratégias muito distantes, permitindo que você utilize os serviços de uma exchange para HODL, enquanto a B3 para especulação de curto prazo.
Conforme o mercado se expande, mais opções de participações aparecem, e por isso é tão importante que você conheça o setor em que está investindo, assim como as vantagens e desvantagens de cada produto ofertado.
Mas fato é que essa disseminação de produtos coloca o mercado de criptomoedas de vez no ambiente tradicional. Somos, cada vez mais, criptoativos financeiros e não apenas criptomoedas.
*João Canhada é fundador da Foxbit, corretora de criptomoedas.
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