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Argentina não vai superar mercado de criptomoedas do Brasil, diz CEO da Ripio

Líder de empresa cripto criada na Argentina avalia que novo governo do país é mais aberto ao setor, mas liderança na América Latina ainda é do Brasil

Sebastián Serrano é CEO da Ripio (Ripio/Reprodução/Reprodução)

Sebastián Serrano é CEO da Ripio (Ripio/Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 29 de março de 2024 às 16h30.

Em fevereiro, uma notícia chamou a atenção: a Argentina teria superado, pela primeira vez, o Brasil em métricas que avaliam os mercados de criptomoedas dos dois países. Mas o mercado argentino realmente é maior que o brasileiro? Para Sebastián Serrano, CEO da Ripio, uma empresa cripto criada na Argentina, não, e não é provável que o Brasil perca sua liderança na área tão cedo.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Serrano falou sobre as diferenças entre os dois mercados, a posição de liderança do Brasil no mercado cripto da América Latina, as novidades de regulamentação do setor na Argentina e as mudanças sentidas após a troca de governo, com a chegada ao poder de Javier Milei.

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Brasil, Argentina e cripto

Par Serrano, uma característica em comum aos mercados na América Latina é a alta adesão às chamadas stablecoins, criptomoedas pareadas a outros ativos, com destaque para as stablecoins de dólar. Essas moedas se tornaram uma opção popular para a dolarização de patrimônio e tem sido ainda mais usadas em países com problemas de inflação, como a Venezuela e a Argentina.

Por outro lado, o executivo vê diferenças claras entre os perfis de investidores no Brasil e na Argentina. Em geral, ele aponta que os brasileiros preferem investir em criptomoedas por meio de corretoras, tanto que a principal operação da Ripio no país é a sua exchange. Já na Argentina, os usuários são mais desconfiados de instituições e preferem focar no uso de carteiras digitais próprias para negociar e armazenar seus ativos digitais.

Serrano ressalta que essa diferença explica porque, geralmente, os dados apontam que a Argentina possui mais usuários por carteira digital que o Brasil, passando a impressão que um mercado seria maior que o outro. "Mas o usuário brasileiro usa pouco a carteira digital, então é uma ilusão", comenta.

Na visão do CEO da Ripio, "não tem como" a Argentina superar o Brasil em termos de volume negociado de criptomoedas, em especial pelas características dos próprios países: a economia brasileira é maior e mais estável que a argentina, dificultando que os argentinos tenham mais recursos para investir que os brasileiros.

O executivo lembra ainda que, se forem considerados "apenas os brasileiros com contas com criptoativos no Mercado Pago, esse grupo já seria superior a todo o total de argentinos com carteiras digitais", mostrando a diferença entre os dois mercados.

Mesmo assim, Serrano aponta um movimento de crescente adoção de criptomoedas na Argentina. Esse movimento, pontua, começou antes mesmo da chegada de Milei à presidência. "Durante as eleições nós tivemos muitas mudanças, um câmbio selvagem, e foi quando nós tivemos muita adoção de stablecoins pela população, é um processo mais longo", diz.

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Regulação

O CEO da Ripio comenta ainda que o Brasil e a Argentina têm semelhanças na própria regulação de criptomoedas, mas com abordagens diferentes. No Brasil, foi aprovado em 2022 o Marco Legal das Criptomoedas, uma lei específica para o setor. Já na Argentina, projetos enviados ao Congresso em 2023 não avançaram, e o governo Milei optou por regular por meio de medidas do Executivo.

"O governo argentino está avançando na regulação. A CVM de lá criou na semana passada um programa de registro de VASPs [Prestadoras de Serviços com Ativos Digitais]. A ideia original era ter uma lei, mas demorou muito. O problema é que esse modelo de regulação é mais fácil de mudar em trocas de governo, então seguimos defendendo a aprovação de uma lei", afirma.

Por outro lado, Serrano comenta que a postura do novo governo tem sido mais positiva para o setor, com uma abordagem mais livre para as empresas. É um cenário semelhante ao do Brasil, que Serrano elogia pela abordagem pró-mercado tanto de regulações quanto de reguladores.

"A Argentina é até mais restritiva, porque bancos e fintechs não podem oferecer compra e venda de cripto", diz o executivo. E, ao mesmo tempo em que o novo governo tem uma postura mais aberta ao mercado cripto, Serrano lembra que ele possui "um desafio econômico muito grande" de estabilização da economia, dificultando ações mais profundas para o setor.

Além disso, Serrano rechaça a possibilidade do país adotar o bitcoin como moeda legal, uma estratégia adotada por El Salvador e que foi levantada por entusiastas de cripto após a vitória de Milei. "Milei compartilha os valores em torno de cripto por ser libertário, mas ele não é um 'bitcoiner' [defensor da criptomoeda]. A Argentina não vai adotar o bitcoin como moeda legal", ressalta.

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