Desde 29 de setembro, o bitcoin obteve alta de 20% e é negociado acima dos 50 mil dólares, enquanto o S&P 500 caiu em 2,6% (Francesco Carta/Getty Images)
Coindesk
Publicado em 5 de outubro de 2021 às 17h42.
Última atualização em 6 de outubro de 2021 às 10h37.
Recentemente, o bitcoin se dissociou da fraqueza dos mercados de ações, reanimando a especulação de que a criptomoeda pode estar começando a gerar demanda como um ativo de proteção à riscos, como o aumento da inflação.
Desde 29 de setembro, a maior criptomoeda do mundo em valor de mercado obteve alta de 20% e é negociada acima dos 50 mil dólares, enquanto o S&P 500, principal índice de refeência sobre o mercado de ações dos EUA, caiu 2,6%, atingindo o patamar de 4.300 dólares.
A alta no preço do bitcoin tem contraste acentuado em comparação com as correções anteriores no preço, que coincidiram com quedas do S&P 500.
Especialistas da indústria cripto afirmam que a resiliência do bitcoin nos últimos tempos está pautada no apelo da criptomoeda para ser uma reserva de valor, na entrada de investidores institucionais, na especulação de que os EUA em breve aprovarão um ETF de criptoativos e na sazonalidade positiva.
“A inflação veio para ficar, e famílias começam a ver os preços de mercadorias e serviços irem às alturas em todo o país”, afirmou Carlos Betancourt, cofundador da BKCoin Capital. “Muitos investidores mais espertos buscam por oportunidades assimétricas e uma proteção contra a inflação, e sempre tem um ativo em comum que lhes vêm à mente... lembre-se, o bitcoin é o único ativo que não pode ser manipulado por governos ou bancos centrais”.
Um questionário lançado recentemente pelo Federal Reserve de Nova Iorque demonstrou que as expectativas para uma alta na inflação do próximo ano aumentaram pelo décimo mês seguido e chegaram a 5,2% em agosto. As expectativas de aumento na inflação também cresceram na zona do euro.
O bitcoin pode ser uma reserva de valor por conta de seu código programado chamado “halving”, que reduz o ritmo da expansão do fornecimento da criptomoeda em 50% a cada quatro anos, o completo oposto da impressão infinita de dinheiro do FED. Diversas empresas, inlucindo a MicroStrategy, listada na Nasdaq, adotaram o bitcoin como um ativo que preservaria o valor de sua tesouraria.
Marcie Terman, diretora de operações do fundo de hedge em criptomoedas Pandora Group, afirmou que tanto a pressão da economia global por altas nos preços quanto a incerteza sobre o teto de gastos norte-americano são fatores negativos para o mercado de ações, mas positivos para o bitcoin porque “as pessoas estão utilizando a criptomoeda (como o ouro) como uma proteção contra a inflação”.
O mercado de ações anda pressionado nas últimas semanas por conta de preocupações de que o FED irá impulsionar o programa de estímulo à economia norte-americana para controlar a inflação e o teto de gastos.
“O medo da inflação aumenta as expectativas quanto ao futuro das taxas de juros do Federal Reserve”, afirmou Max Boonen, fundador da empresa do mercado cripto B2C2. “Como sempre, isso poderia pesar nos títulos de ações. Por outro lado, o bitcoin é visto como algo mais isolado dos efeitos da inflação graças ao seu fornecimento fixo”.
Instituições e empresas de Venture Capital estão investindo no mundo cripto, não tendo demonstrado sinais de arrependimento durante o período recente de quedas e pessimismo no mercado.
“Os últimos trimestres tiveram muitos fluxos de entrada no ecossistema”, afirmou Shiliang Tang, CIO do fundo de hedge em criptomoedas LedgerPrime. “Então os fundos precisam colocar o capital para trabalhar, o que foi benéfico nesse caso”.
“Alguns fundos com os quais conversamos, receberam fortes fluxos de entrada esse semestre”, afirmou Tang. Dados da ByteTree Asset Management demonstram que os ETFs europeus e canadenses, e os fundos fechados norte-americanos e canadenses acumularam mais de 3 mil bitcoins nas últimas quatro semanas.
De acordo com Jeff Dorman, CIO da Arca Funds, as “altas de início do mês” do bitcoin e do mercado cripto mais amplo são “motivadas essencialmente pelos fluxos de fundos não-rastreáveis – investimentos de venture capital, fundos de hedge, e compras diretas de ativos digitais via Fidelity, Coinbase e outras”.
“Pergunte para qualquer negociante especializado em ativos digitais ou qualquer gerente de fundo de liquidez de ativos digitais, e todos eles irão pontuar fluxos de entrada significativos e constantes”, escreveu Dorman em sua nota semanal de pesquisa.
De acordo com dados da PitchBook, companhias de cripto angariaram 7,5 bilhões de dólares no período entre julho e setembro, recorde que ultrapassa o anterior de 7 bilhões de dólares no primeiro trimestre.
Alguns investidores podem comprar a criptomoeda por conta de expectativas de que os últimos três meses do ano trarão altas mais substanciosas, assim como ocorreu no passado.
O gráfico de sazonalidade acima demonstra que o mês de setembro é tipicamente o pior mês do ano enquanto outubro e o quarto trimestre em geral, são os melhores.
“De certa forma, a sazonalidade pode ser uma profecia auto-cumprida”, afirmou Betancourt, da BKCoin. “No entanto, sobre cripto particularmente, os novos fluxos são definitivamente o motivo essencial para esse histórico”.
Os efeitos sazonais podem ter certa influência, contudo, não são confiáveis. “Desde que tomamos por certo que o bitcoin é um mercado viável desde 2013, tivemos apenas oito pontos de dados que fazem essa previsão. Isso é muito pouco para uma análise racional”, notou Terman, da Pandora.
Um otimismo recente de que a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos EUA irá aprovar em breve um ETF de futuros de bitcoin também aparenta estar motivando altas no mercado.
“O Canadá aprovou oficialmente um ETF de cripto que inclui bitcoin e ether, e o presidente da SEC Gary Gensler já demonstrou seu apoio a um possível ETF de futuros de bitcoin, e isso certamente foi interpretado por investidores como um sinal otimista”, disse Betancourt. “A SEC está analisando mais de 20 solicitações de ETFs e ETFs de futuros de produtos conectados ao bitcoin e ao ether’.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube