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XP: Os planos de Benchimol para o banco que Berenguer vai liderar

Com a oferta da Priner, no começo deste ano, a XP foi primeiro novo entrante na coordenação de ofertas de ações no mercado em 16 anos

José Berenguer: Missão de coordenar e expandir operação de banco de atacado da XP (Vivian Koblinsky/Divulgação)

José Berenguer: Missão de coordenar e expandir operação de banco de atacado da XP (Vivian Koblinsky/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 15 de junho de 2020 às 14h05.

Última atualização em 15 de junho de 2020 às 15h27.

A XP Investimentos quer fazer com o segmento corporativo o que fez com o varejo: democratizar o acesso ao mercado de capitais. Essa é a missão que foi dada pelo fundador Guilherme Benchimol a José Berenguer, que deixa o JP Morgan para assumir como CEO do banco de atacado da XP, dentro de 90 dias. A chegada do executivo à sociedade foi anunciada hoje pela manhã.

A ideia é que a XP seja vista, pelas companhias, como um local de solução para seus dilemas e planos financeiros, assim como as pessoas físicas enxergam a plataforma de investimentos.

Embora Berenguer, com sua experiência que inclui Gávea, Santander e muitas outras instituições, tenha estatura para trazer também a relação com as grandes corporações brasileiras para dentro da XP, o plano é explorar com força o segmento de pequenas e médias empresas, conforme apurou o EXAME IN. Benchimol sabe bem como o pequeno pode tornar um negócio grande.

Há um vazio no atendimento desse mercado que a B3 já tentou estimular diversas vezes. O próprio presidente da bolsa, Gilson Finkelsztain, não esconde a frustração dessa vertente não ter deslanchado, com o Bovespa Mais lançado e relançado. Por enquanto, as pequenas e médias companhias ficam de fora da relação com a elite financeira do país.

“O tempo foi passando e percebemos que havia um outro segmento tão grande, promissor e mal atendido quanto o anterior [pessoas físicas]. Aos poucos, como sempre, fomos construindo uma estrutura capaz de ajudar as empresas brasileiras a terem as melhores soluções para os seus desafios financeiros. E assim, de forma descentralizada, foi nascendo a nossa vertical de atacado”, escreveu Benchimol em comunicado aos funcionários.

Com 2 milhões de clientes e 385 bilhões de reais em ativos sob gestão, a XP tem tamanho para fazer — se possível e permitido fosse — seus próprios IPOs dentro de casa. Não se trata de estratégia e nem de plano, mas o volume ilustra o espaço para verticalização dos negócios.

Pouco a pouco, o nome da XP tornou-se recorrente na lista de bancos assessores de ofertas de ações — atividade na qual estreou apenas em 2017. Atualmente, a maior parte da receita da companhia ainda vem do varejo. A função de Berenguer vai ser justamente construir a mesma explosão no atacado.

No primeiro trimestre deste ano, a receita bruta total da XP Inc foi de 1,856 bilhão de reais. Desse total, 1,25 bilhão de reais vieram do segmento de varejo, com uma expansão de 79% na comparação anual. A receita no serviço de emissões saltou 137%, para 132 milhões de reais. Isso porque as operações do período foram afetadas pela pandemia. No quarto trimestre de 2019, a arrecadação desse segmento havia alcançado 221 milhões de reais.

Em fevereiro deste ano, a XP coordenou sozinha, pela primeira vez, um IPO, o da Priner. A colocação foi bem diferente do que se vê costumeiramente no mercado: a operação foi de 200 milhões de reais e mais da metade dela foi absorvida pela pessoa física.

Há 16 anos que não se via um novo entrante na coordenação de ofertas no mercado brasileiro. Praticamente, desde a revitalização, marcada pelo IPO da Natura no Novo Mercado, em 2004. Em 2019, a XP participou da coordenação de 15 operações na bolsa, junto com outros bancos, num total superior a 38 bilhões de reais.

Na visão da casa, o investidor individual — com a forte expansão de sua participação no mercado — poderá sair da tradicional fatia de 10% a 20% das ofertas iniciais, para um percentual de 20% a 30%. A estratégia, para isso, além de acesso a informação, é colocar um período de proibição temporária de venda das ações ou de retenção (lock-up), de aproximadamente 45 dias, como vem ocorrendo desde a estreia de Vivara. Com isso, evita-se o que antes fazia os bancos de investimento terem tantas preocupações com esse público: o flipper, aquele investidor que compra na oferta e descarrega tudo ou boa parte no mercado no dia seguinte.

Apesar de ter colocado muitas ofertas e transações no mercado em banho maria, a pandemia, ao que tudo indica, não mudou nem atrasou os planos de Benchimol.

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