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“Equilíbrio fiscal não existe, mas estamos longe de uma crise”, diz Felipe Salto

Um dos maiores especialistas em contas públicas do país, economista-chefe da Warren critica pessimismo exagerado do mercado e diz estar otimista com pacote fiscal: "os juros precificados para o próximo ano estão totalmente fora do razoável"

Felipe Salto, economista-chefe da Warren: "Estamos longe de uma crise fiscal. Mas isso não significa que não haja problemas" (Warren/Divulgação)

Felipe Salto, economista-chefe da Warren: "Estamos longe de uma crise fiscal. Mas isso não significa que não haja problemas" (Warren/Divulgação)

Publicado em 23 de novembro de 2024 às 11h43.

Última atualização em 23 de novembro de 2024 às 13h38.

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Nada tem chamado mais atenção do mercado brasileiro do que o pacote de corte de gastos que vem sendo desenhado pelo governo nas últimas semanas. Felipe Salto, economista-chefe da Warren Rena e um dos maiores especialistas em contas públicas do país, está otimista em relação. Segundo o Ministério da Fazenda, a expectativa é que os detalhes sejam apresentados no início da próxima semana.

“Acho que vai ser um bom pacote. Não vai resolver todos os problemas, longe disso. Mas a demora para apresentá-lo pode ser vista como um bom sinal, pois indica a necessidade de convencimento de todos os atores”, afirma Salto em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame.

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Ex-diretor e conselheiro do Instituição Fiscal Independente (IFI) e com passagem como executivo do setor público, como o mais jovem secretário da Fazenda do Estado de São Paulo em 2022, no governo de Rodrigo Garcia, o especialista reconhece as dificuldades de construir um consenso com os atores políticos.

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E afirma que um bom plano precisa fazer cortes tanto em gastos como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e no abono salarial, mas também tocar na questão dos benefícios tributários que atingem as camadas mais altas da sociedade. "Hoje são R$ 540 bilhões em benefícios, é preciso avaliá-los e mexer também nessa ferida", aponta.

Embora reconheça os desafios fiscais, Salto não acredita que o cenário seja tão catastrófico quanto parte do mercado sugere. Ele critica o que vê exageros nos prêmios de risco no câmbio e nas curvas de juros, que já precificam a Selic a 14% para o próximo ano.

“O juro precificado para o próximo ano é totalmente fora do razoável. O Brasil não terá um juro real de 10%. Isso seria um disparate. Precisamos entender que existem exageros no mercado, que funciona dessa forma. E o governo tem um papel crucial para retirar essas pressões ao adotar medidas fiscais adequadas.”

Segundo Salto, “o país não vai quebrar” por um déficit de 0,5% do PIB. “Estamos longe de uma crise fiscal. Mas isso não significa que não haja problemas, como a má qualidade dos gastos e o déficit, que, junto com a taxa de juro descomunal, aumenta a dívida em relação ao PIB.”

Para ele, a melhora das contas externas é um importante colchão de segurança, que diferencia o atual momento do Brasil em relação ao passado, quando o país rolava dívidas com recursos externos, aumentando sua dependência do FMI e tornando-se mais vulnerável às políticas monetárias agressivas dos Estados Unidos. “Para nós, era um desastre. Agora, as coisas melhoraram. Temos uma balança comercial robusta e reservas internacionais elevadas.”

Apesar disso, Salto afirma que há um desequilíbrio no endividamento do governo. “Como temos déficit primário, um juro real muito alto e o crescimento não é extraordinário, a dívida cresce.”

O início da solução, segundo Salto, seria o governo alcançar superávit primário. “Mas para o mercado acreditar e as pessoas colocarem dinheiro nisso, é preciso mostrar que as medidas estão indo nessa direção. Por isso, o pacote fiscal é importante.”

Em sua avaliação, seria fundamental que o governo equilibrasse cortes de gastos de curto prazo com mudanças estruturais que perdurem pelos próximos anos. “Calculamos que, para cumprir a meta fiscal no ano que vem, o governo precisaria de R$ 43,1 bilhões.”

As sinalizações do governo, porém, são de que não haverá cortes nos gastos com saúde e educação, que são reajustados pelo volume de arrecadação. Para o economista, isso compromete a credibilidade de um plano fiscal que busque sustentabilidade para a dívida.

“É preciso pôr o dedo nessa ferida. Se forem feitas apenas medidas paliativas agora, pode-se gerar alguma economia de curto prazo e dar uma sobrevida, mas não resolverá o problema estrutural.”

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