Schmidt: Novos investimentos devem vir dentro das verticais já no portfólio (Foto: Leandro Fonseca/Exame) (Leandro Fonseca/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 2 de abril de 2024 às 11h53.
Última atualização em 2 de abril de 2024 às 12h08.
Um dos maiores conglomerados empresariais do país, a Votorantim vem diversificando sua atuação nos últimos anos para além do DNA industrial, com aumento da participação em mercados internacionais e entrada nos infraestrutura, com a CCR, e saúde, com uma fatia de 5% na farmacêutica Hypera.
Após um 2023 difícil para metais, com a queda nos preços de commodities pesando sobre os resultados da mineradora Nexa e da CBA, de alumínio, a holding quer manter a estratégia de diversificação dos negócios – mas sem movimentos transformacionais, atuando dentro das verticais que já estão no portfólio.
“Estamos com uma boa diversificação e dentro do portfólio devemos ter boas oportunidades de investimento”, afirma o CEO da Votorantim, João Schmidt.
Apontada como uma das possíveis interessadas na Sabesp, a companhia não comenta o caso específico, mas afirma que saneamento é uma das teses que está no radar.
“Temos animação com infraestrutura no Brasil e saneamento faz parte desse contexto. Acho que tem uma oportunidade secular de investimento”, diz.
A vertical de saúde, a mais recente dentro da carteira com um investimento de 5% na Hypera feito em maio de 2023, também é um dos temas de atenção, inserida na estratégia de diversificar o perfil de risco.
Hoje, a Votorantim tem um balanço ainda muito dependente de metais e de cimento, que representam pouco mais de 60% do EBITDA ‘econômico’, medida ajustada que mostra a participação da Votorantim em cada negócio.
Esses setores dão um perfil mais cíclico à holding, que acaba mais dependente das oscilações da economia e do preço das commodities.
“O setor de saúde tem uma dinâmica interessante, primeiro por ter características que compõem bem o nosso portfólio, com crescimento ligado a teses seculares, como longevidade e biotecnologia, e de boas margens. E há um espaço grande de consolidação, com excelentes players.”
Em 2023, a Votorantim teve uma receita líquida de R$ 40,8 bilhões, queda de 8% em relação ao ano anterior, segundo balanço que acaba de ser divulgado. O EBITDA caiu na mesma magnitude, para R$ 9,6 bilhões.
O resultado foi puxado principalmente pela vertical de metais, e compensada em parte pelo negócio de cimentos, que teve um ano de resultados recordes, em virtude principalmente de aumento de preços e volumes na América do Norte e na Espanha, onde opera a plena capacidade.
Os resultados operacionais levam em conta apenas as companhias nas quais a Votorantim tem controle: além da Nexa, da CBA e da Votorantim Cimentos, incorporam também a Acerbrag, produtora de aços planos da Argentina.
Os números das demais empresas investidas – cada vez mais representativos no resultado – são consolidados por equivalência patrimonial e considerados apenas abaixo do EBITDA, afetando somente o lucro.
A última linha do balanço foi de R$ 1,8 bilhão no ano passado, queda de 66% na comparação anual – refletindo principalmente uma série de fatores extraordinários, sem impacto no caixa.
Um deles veio da geradora de energia Auren, que ficou no prejuízo no ano passado como reflexo do reconhecimento de quase R$ 1 bilhão em PIS e Cofins.
Os impostos são referentes a uma indenização de R$ 4,2 bilhões recebida em 2022 referente à hidrelétrica de Três Irmãos, que pertencia à antiga Cesp, que também inflou a base de comparação.
A Votorantim tem participações minoritárias ou é cocontroladora também no banco BV (50%), na CCR (10%), na Hypera (5%) e na Citrosuco (50%), produtora de suco de laranja que divide a liderança de mercado com a Cutrale e teve resultados recordes com a disparada de preços causada pela quebra de safra na Flórida.
Recentemente, a holding também ampliou sua aposta em investimento em estágio de growth, com a criação da 23S, em parceria com o Temasek, além da Floen, voltada para aportes em companhias na fronteira da transição energética.
Além da diversificação setorial, a Votorantim vem buscando a diversificação regional do portfólio, com crescimento principalmente em países desenvolvidos.
Um dos principais vetores de expansão deve vir justamente em cimentos, onde o crescimento fora do Brasil já vem se traduzindo em resultados recordes. “Continuamos muito animados no cimento, especialmente ao redor dos clusters que temos tanto na América do Norte, quanto na Europa”, diz Schmidt.
No Brasil, segundo fontes de mercado, a Votorantim apresentou proposta por alguns ativos da Intercement, do grupo Mover (ex-Camargo Côrrea), e concorre com a CSN pelo ativo. Novamente, Schmidt não comenta.
A Altre, de empreendimentos imobiliários, também está crescendo fora do Brasil. Com um pipeline de projetos comerciais em São Paulo, no ano passado, a companhia fez o primeiro investimento em um edifício multifamily, voltado para aluguel nos Estados Unidos e deve continuar nessa estratégia.
“Cada investimento individual pode ter um porte menor, mas, no todo, a Altre vai representar uma parte importante do portfólio no futuro, especialmente na parte internacional”, afirma o executivo.
Única empresa não listada com grau de investimento pelas principais agências de risco, a Votorantim encerrou o ano com um balanço folgado, com R$ 5 bilhões em caixa e relação entre dívida líquida e EBITDA de 1,08 vez – o que dá folga para novos aportes.
Segundo Schmidt, a holding deve seguir a estratégia de investir junto com parceiros: na Auren, de energia, é sócia do fundo de pensão canadense CCP; na Votorantim Cimentos, fez investimentos na América do Norte com o também canadense CDPQ; na CCR, está no bloco de controle junto com a Itaúsa.
“Olhando para a frente, é provável que você nos veja muito associativo com coisas novas ou até mesmo com os negócios existentes”, diz, acrescentando que a fórmula é sempre de buscar investidores de longo prazo, que compartilham a forma da Votorantim de conduzir os negócios.
Os formatos para novos investimentos podem variar, o que inclui também participações minoritárias fora do bloco de controle, como a que o grupo fez com Hypera no ano passado.
“Temos muita flexibilidade, até pelo modelo da Votorantim, de ter um único acionista que é uma família, com um processo decisório muito dinâmico”, diz.
O movimento mais recente nesse sentido veio de forma discreta, com a compra de 4,6% da AES Brasil por meio da conversão de uma dívida que a Votorantim tinha com a Eletrobras.
Questionado se a entrada tem a ver com o interesse da Auren no ativo, seguindo a cartilha de não falar sobre casos específicos, Schmidt não deu mais detalhes.