Capital: Voiter estava com patrimônio de referência negativo em mais de R$ 120 milhões e hoje está acima de R$ 360 milhões (Alberto Chagas / EyeEm/Getty Images)
Graziella Valenti
Publicado em 25 de abril de 2022 às 20h07.
Última atualização em 25 de abril de 2022 às 20h17.
O empresário do agronegócio Roberto Rezende Barbosa, originário do setor de cana-de-açúcar, decidiu romper de repente o contrato de gestão do banco Voiter, antigo Indusval, que possui com a Estáter. Desde março de 2019, a Estáter está à frente da definição da estratégia e desenvolvimento da instituição, para revitalizar o negócio, por meio de um acordo fechado com o próprio Rezende Barbosa, que controla o banco.
O caso promete briga. Ao longo desses três anos, foi a Estáter quem fez desde a contratação dos executivos até a definição de estratégia e posicionamento de mercado. Quem conhece os números de perto, afirma que o Voiter, separado do legado de ativos problemáticos do Indusval, deve registrar lucro em 2022, após voltar a gerar receita e passar por um corte relevante de despesas.
Com a recuperação gradual da instituição e melhoria do negócio, Rezende Barbosa passou a demonstrar incômodo com as condições do acordo que dão direito à Estatér de assumir 50% do capital do banco por R$ 1, se determinada quantia de dinheiro for devolvida ao empresário na forma de retorno — seja pela venda de ativos ou outras formas.
“A Estáter lamenta e repudia a tentativa ilícita de rompimento de contrato comunicada hoje por Roberto de Rezende Barbosa. Com a assessoria da Estáter, o Voiter está se transformando num banco moderno, com resultados impensáveis para uma instituição que há pouco tempo estava em difícil situação financeira. A notificação enviada hoje demonstra, portanto, que Barbosa e alguns de seus familiares pretendem, por meio de seu ato ilícito, assumir exclusivamente para si os ganhos financeiros obtidos com a reestruturação do Voiter e do LetsBank — quando o contrato prevê expressamente que esses ganhos serão divididos igualmente com a Estáter.”
Consultada, a Estáter não quis comentar o assunto, apenas encaminhou ao EXAME IN a nota acima. Claudio Rezende Barbosa, filho do empresário, foi contactado para falar dos acontecimentos, mas não respondeu às mensagens.
A lógica do acordo selado há três anos presumia que Rezende Barbosa, obrigado a aportar recursos no banco dada a insuficiência de capital do Indusval, estava fazendo uma aposta que com uma gestão profissional a operação poderia ser lucrativa e ter valor. No total, desde 2018, ele já colocou cerca de R$ 720 milhões na instituição para recuperar o patrimônio e fazer frente às exigências regulatórias. Já a Estáter, poderia dividir os resultados do trabalho realizado. O acordo tem duração até janeiro de 2024 e pode ser renovado por mais dois anos.
Na época em que as condições foram costuradas com a Estáter, o empresário era o maior acionista individual de Cosan, resultado da venda de sua usina — a NovAmérica — ao grupo de Rubens Ometto, uma década antes. Ele vendeu ações do conglomerado em bolsa para aportar recursos no Voiter.
O clima entre Rezende Barbosa e a Estáter começou a ficar ruim a partir de janeiro, quando pessoas da família do empresário decidiram tentar interferir na operação.
De acordo com dados do Banco Central, o patrimônio de referência do Indusval estava negativo em mais de R$ 120 milhões em 2018 e terminou o ano passado positivo em aproximadamente R$ 360 milhões. Além disso, houve uma redução relevante dos ativos problemáticos da instituição.
Dentro do pacote do Indusval, cuja carteira problemática foi separada do Voiter mas ainda pertence aos mesmos acionistas, a Estáter cuidava também da operação digital do LetsBank e da participação na corretora Guide.
Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.