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Vitalk, startup de saúde mental, recebe aporte de R$ 24 mi da Vox Capital

Companhia lançada em 2019 já atende mais de 220 mil vidas, com cerca de 60 clientes corporativos

Michael Kapps: paixão pelo "mato" e pelo tema da saúde mental ajudaram na trilha de criação da Vitalk (Vitalk/Divulgação)

Michael Kapps: paixão pelo "mato" e pelo tema da saúde mental ajudaram na trilha de criação da Vitalk (Vitalk/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 4 de novembro de 2021 às 09h06.

Última atualização em 10 de novembro de 2021 às 23h09.

Em 2011, Michael Kapps experimentou na pele o que é esticar os limites da exigência quando estava perto de concluir o curso de economia na universidade de Harvard e trabalhava no mercado financeiro. Precisou parar tudo: passou um mês trabalhando em uma fazenda no Pantanal brasileiro e se apaixonou “pelo mato” e pelo país. "Eu nem falava português", conta ele ao EXAME IN. A vivência no tema ajuda a entender o empenho e a dedicação na criação da Vitalk, uma health tech voltada à saúde mental que acaba de receber um aporte de R$ 24 milhões em uma rodada série A liderada pela gestora de investimentos de impacto Vox Capital. Também participaram da capitalização Goodwater Capital, Valor Capital, mais o family office da família Moll, dona da Rede D'Or, e a Greenrock, que já tinham aplicado na startup antes.

Lançada em 2019, a empresa encontrou um mercado B2B farto para estreia, com empresas que aprenderam a valorizar como nunca a saúde mental de seus funcionários. A pandemia que veio no começo de 2020 tornou o assunto urgente.

Kapps trabalhou no desenvolvimento de uma assistente virtual inusitada. Baseada em inteligência artificial e com treinamentos feitos por psicólogos, a empresa criou a Viki (daí o nome Vitalk, Vi fala), que presta suporte, por meio de conteúdos de voz e escritos, para pessoas em situações de estresse, burnout e até para problemas de relacionamento no trabalho e no home office.

A ideia de usar tecnologia para esse atendimento veio do objetivo de reduzir o custo e democratizar o acesso a ferramentas e suporte para saúde mental, explica Kapps. Antes, ele tinha uma empresa de chatbot para o setor de saúde chamada TNH. Então, em 2019 começou a tatear o segmento de saúde mental, que é sua "grande paixão".

"Fui pesquisar e percebi que nos Estados Unidos existem unicórnios que atuam nesse mercado e soluções que inclusive são prescritas por médicos, com serviços reembolsados por convênios." Veio, então, a certeza do tamanho da oportunidade e a revolução no negócio, com o desenvolvimento da Vitalk, que já recebeu R$ 6 milhões em capital semente. "Na TNH, eu me dei conta que as pessoas conversavam e até falavam de emoções com os atendimentos automáticos." Agora, essa próxima rodada vem para aprimorar a plataforma e dar conta da forte expansão.

Estigmatizada, a questão da saúde mental de funcionários tem sido um desafio para empresas. Não por acaso, a Vitalk, que chega como uma solução para as áreas de recursos humanos (RH) das companhias, já tem mais de 220 mil vidas atendidas e grandes clientes como Vale, Johnson & Johnson, Grupo Soma e Grupo GSK, entre outros — são mais de 60. A base de empresas clientes corporativos deu um salto de 10 vezes neste ano, de janeiro a novembro, e a receita cresce a uma média de 30% ao mês. Kapps, contudo, não revela valores.

Desde o lançamento, o aplicativo que os colaboradores das companhias passam a ter acesso quando o serviço é contratado acumula mais de 250 mil downloads. Mas essa não é a única solução. Como é voltado ao RH, a Vitalk também faz o mapeamento de saúde mental (que levanta índices de burnout, estresse e ansiedade dentro das empresas), capacitação para lideranças conscientes, rodas de conversa com psicólogas, webinars, fornece ebooks e materiais de comunicação interna que ajudam na transformação da cultura e busca da construção de um ambiente psicologicamente seguro.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), casos de ansiedade e depressão impõem uma perda de produtividade e prejuízo econômico de US$ 1 trilhão por ano para a economia global. De acordo com estudos da Fortune Business Insight, a vertical de saúde mental pode alcançar US$ 11,8 bilhões em 2027, como mercado. Nos EUA, os negócios voltados ao suporte a colaboradores de empresas captaram US$1,5 bilhões em 2020 para soluções nessa área.

Agora, o sonho do empreendedor é levar a Viki até a saúde pública, em um acesso mais amplo à população. Os recursos levantados vão ajudar a manter o ritmo. “Não se trata de substituir a terapia. A Viki ajuda as pessoas em emergências, em situações de muito estresse, e também a se conhecer. A partir daí cria uma trilha individualizada do que a pessoa precisa fazer, o que pode envolver atendimento humano. Dessa forma, acaba tendo um papel de educação, prevenção e representa um caminho para o tratamento”, destaca Kapps.

O uso de inteligência artificial traz uma grande capacidade de dar escala à companhia. “Só o fato de se dedicar à questão da saúde mental, um mercado tão carente, inexplorado e ainda repleto de preconceitos, já desperta interesse. Há muitas oportunidades. E considerando ainda o propósito de democratização do acesso a ferramentas para lidar com esse desafio, a Vitalk faz todo sentido como investimento para a Vox”, explica Marcos Olmos, head de venture capital da gestora, criada em 2012, quando tanto investimento de risco como de impacto eram ainda uma grande novidade. O investimento na companhia faz parte do terceiro fundo da casa, que já acumula R$ 500 milhões em ativos sob gestão.

Para quem acha estranho o uso de um avatar para um atendimento tão pessoal, há pesquisas que demonstram o quanto essa, na verdade, pode ser uma saída determinante para ajudar a cuidar da saúde mental. “Muitas pessoas preferem isso, falar com um robô, porque ainda sentem vergonha por precisar de ajuda”, explica o criador da Viki.

vitalk - a viki

Viki: o avatar que cuida das crises de ansiedade e já recebeu 250 mil acessos (Vitalk/Divulgação)

 

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