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Via Varejo: lucro de R$ 1 bi em 2020 e plano de ser maior market-place do Brasil

Vendas on-line representaram 48,5% do total do GMV de 2020, que somou R$ 38,8 bilhões

Roberto Fulcherberguer: “acabou meu turnaround. Daqui para frente, eu só estou concentrado em evolução e crescimento” (Leandro Fonseca/Exame)

Roberto Fulcherberguer: “acabou meu turnaround. Daqui para frente, eu só estou concentrado em evolução e crescimento” (Leandro Fonseca/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 2 de março de 2021 às 18h43.

Última atualização em 4 de março de 2021 às 10h02.

A Via Varejo, dona das bandeiras Casas Bahia e Ponto Frio, teve lucro líquido contábil de R$ 1 bilhão no ano passado, ante perda de R$ 1,4 bilhão no ano anterior. O desempenho quase zerou a fatura dos problemas encontrados no balanço de 2019, que levaram ao ajuste bilionário no balanço do quarto trimestre daquele ano, herança da gestão anterior.

Mas o número do ano passado também tem efeitos extraordinários, dessa vez, positivos. Sem esse impacto, o lucro teria sido de R$ 167 milhões, que reflete melhor o desempenho operacional. “Mesmo assim, acima do consenso de mercado que apontava para R$ 140 milhões”, conta Roberto Fulcherberguer, presidente da empresa, em entrevista exclusiva ao EXAME IN.

Só que o que mais anima Fulcherberguer, apesar das conquistas de 2020, não é o passado, mas o que está por vir. “Acabou meu turnaround. Daqui para frente, eu só estou concentrado em evolução e crescimento”, sentencia, com uma lista de anúncios a fazer sobre o que já está vendo no desempenho de 2021.

Mesmo com a pandemia, que deixou 80% das lojas fechadas durante pelo menos um trimestre inteiro, a empresa teve receita líquida de R$ 28,9 bilhões em 2020, crescimento de 12,7% na comparação com o ano anterior. O Ebitda contábil ajustado ficou em R$ 2,9 bilhões, ante R$ 1 bilhão em 2019.

No quarto trimestre, descontados todos os efeitos de impostos do balanço, a receita líquida subiu 24,5%, ante os três últimos meses de 2019, para R$ 9,5 bilhões. O GMV dos três últimos meses do ano foi puxado pelas vendas online, que tiveram alta de 110,5%, para R$ 5,66 bilhões. As vendas brutas nas lojas físicas ficaram estáveis em R$ 7 bilhões — algo que incomodou os investidores na prévia do Natal, e não foi pouco. O Ebitda saiu de R$ 625 milhões para R$ 709 milhões, e o lucro líquido subiu de R$ 78 milhões para R$ 209 milhões, na comparação anual.

Os extras

No ano, o impacto tributário positivo da Via Varejo ficou em R$ 1,216 bilhão de reais, sendo R$ 447 milhões só no quarto trimestre. “É tudo com transitado em julgado. Sem risco de execução”, explica Orivaldo Padilha, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Via Varejo.

O efeito líquido no balanço anual é inferior ao total — R$ 837 milhões — porque a companhia realizou alguns reforços para contingências no período e fez algumas provisões adicionais. Do volume tributário, mais de 80% tem efeito caixa e em um período de até dois anos.

GMV e Digital

O total vendido na plataforma da Via Varejo em 2020, o  GMV (Gross Merchandise Value), alcançou R$ 38,8 bilhões, um aumento de 21% na comparação com 2019. Do total comercializado, 48,5% foram vendas online, tanto das bandeiras Via Varejo quanto de terceiros, numa soma de R$ 18 bilhões — o volume inclui os produtos comprados pela internet, mas retirados na loja. A participação das vendas digitais no total mais do que dobrou na comparação anual, passando de 23,9% para 48,5%.

“O potencial de crescimento ainda é enorme. Se pensarmos, antes da pandemia, a população brasileira que comprava pela internet era entre 6% e 7%. Com a digitalização após o lockdown, esse percentual pode ter alcançado 12%. Mas ainda existe 88% da população fora do mercado online”, destaca Fulcherberguer.

De acordo com o executivo, a Via Varejo teve uma conquista de market-share, na soma de vendas físicas e online de 3,7 pontos percentuais, passando de 10,4% para 14,1%, no ano.

A margem bruta da Via Varejo, um indicador que o mercado estava muito interessado para verificar o quanto a logística do e-commerce poderia prejudicar a rentabilidade, saiu de 28,6% para 32,8% na comparação anual.

As vendas online de produtos só das bandeiras da empresa tiveram aumento de 174% em 2020 e somaram R$ 12,7 bilhões.

Questionado, Fulcherberguer afirma que o desempenho do quarto trimestre é bom parâmetro, quando o indicador ficou em 30,5%. “Se pensar bem, o custo do online já está ali, pois metade do que eu vendo é via internet. Essa é uma boa referência para o investidor.”

A participação do vendedor de loja nas vendas digitais, o “Me chama no Zap”, lançado pela companhia durante a pandemia respondeu por R$ 2,8 bilhões em vendas em 2020 e, desse total, R$ 1 bilhão apenas no quarto trimestre. Nos três últimos meses do ano, esse canal respondeu por cerca de 21% das vendas online.

Presente e Futuro - same day já é 15%

A Via Varejo entregou há duas semanas um de suas maiores promessas: uma nova plataforma tecnológica para os ‘sellers’, ou seja, para o varejo que quer vender no canal digital do grupo, o chamado market-place ou 3P.

“Eu quero ser o maior market-place do Brasil. Não importa se vou precisa de 80 mil ou 90 mil sellers”, destaca o presidente da empresa. “Agora, com três minutos, qualquer varejo se pluga em mim”, explica ele. Esse era um gargalo assumido por Fulcherberguer desde que assumiu a gestão, em julho de 2019, com a saída do Casino, por meio do Grupo Pão de Açúcar (GPA), do controle.

Em 2020, o GMV do market-place totalizou R$ 3,2 bilhões, com um aumento de praticamente 90%.

O que anima o executivo é evolução logística, que, na opinião dele, fará a diferença para a atração de novos vendedores na plataforma daqui para frente. Ele conta com orgulho: “Em fevereiro, 15% de tudo que eu vendo, eu consigo entregar em menos de 24h, é o ‘same day’. E eu não estou falando de alimentos, os ultra-leves, estou falando de geladeira, televisão, produtos grandes e pesados. Ninguém faz isso hoje no Brasil.”

A Via Varejo tinha 3 mil vendedores parceiros no meio do ano no seu market-place. Esse total terminou o ano em 10 mil e, agora em fevereiro, já alcançou 15 mil. A companhia fará uma ampla campanha de divulgação, inclusive com anúncios em TV, para atrair novos parceiros. Haverá isenção de três meses das taxas, em um movimento super agressivo de quem está, de fato, em busca de seu lugar ao sol, após arrumar a casa.

Quando o prazo é de 24h, mas que muda para o dia seguinte, esse percentual já é de 42%, segundo o executivo. A expectativa é que essa estrutura de ‘same day’ esteja à disposição dos sellers parceiros a partir do segundo trimestre deste ano. Hoje, metade dos clientes do market-place usam o Envvias, sistema logístico para terceiros. A expectativa é que esse percentual aumente consideravelmente após os investimentos e melhorias realizados.

A Via Varejo vai colocar, inclusive, suas lojas à disposição dos sellers para alocação de estoques. A companhia sempre destacou que suas unidades têm em média 900 metros quadrados, cerca de 40% do que a média da concorrência, e acredita que esse poder ser um diferencial.

Para quem começou a pandemia com 180 lojas que funcionavam como mini-hubs, a Via Varejo terminou 2020 com todas as lojas integradas no sistema omnicanalidade, cerca de 1.000 unidades, tanto para retirada em loja quanto para última milha da entrega.

Investimentos

Com a situação financeira confortável desde a oferta pública realizada no ano passado, que trouxe mais de R$ 4,5 bilhões ao caixa, os investimentos de 2021 vão aumentar cerca de 50%, de acordo Daniela Bretthauer, que chegou ao time de relações com investidores da companhia em dezembro de 2020.

“Investimos na casa dos R$ 400 milhões nos últimos dois anos. Agora, vamos passar para cerca de R$ 600 milhões”, afirma a executiva. Desse total, 60% vai para tecnologia. “Mudamos de patamar.”

A companhia, conforme o EXAME IN antecipou no ano passado, planeja inaugurar 120 lojas ao longo de 2021. Dessas, 15 foram abertas até fevereiro. Fulcherberguer explica que essas unidades todas trarão expansão de receita, pois não vão dividir com outras lojas na região. “São todas praças novas para a Via Varejo.”

Crediário e banQi

Fulcherberguer também enche a boca para contar o desempenho do crediário, uma das legítimas tecnologias Casas Bahia. “Meu estoque cresceu na pandemia, mesmo com as lojas fechadas, mais de R$ 1 bilhão”, destaca. O volume ativo no crediário da companhia estava em cerca de R$ 5 bilhões no fim de 2019 e terminou o ano passado em R$ 6,4 bilhões.

“Além disso, eu tenho mais R$ 11 bilhões em crédito pré-aprovado”, conta ele. De acordo com o presidente da Via Varejo, a inadimplência está no menor patamar da história do negócio. As parcelas em atrasado há mais de 90 dias equivalem atualmente a 4,9%.

Atualmente, pouco mais de R$ 2 bilhões do crediário já estão no banQi, a fintech adquirida pelo grupo. “Já são mais de 1,8 milhão de clientes cadastrados”, de acordo com o executivo. O volume total de pagamentos feito por essa rede alcançou R$ 300 milhões no quarto trimestre, 147% a mais do que no terceiro trimestre de 2020.

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