Roberto Fulcherberguer, presidente da companhia: próxima fronteira, depois de voltar a fazer varejo, é ir além dele (Leandro Fonseca/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 13 de agosto de 2020 às 20h32.
Última atualização em 13 de agosto de 2020 às 21h26.
“Estamos recuperando participação de mercado.” É assim que o presidente da Via Varejo, Roberto Fulcherberguer, explica ao EXAME In a informação de que percebeu um crescimento de 15% nas vendas de lojas físicas que reabriram durante a pandemia e passaram pelo menos um mês em funcionamento contínuo. “Ainda não dá para saber como será o futuro e a economia. Logo na reabertura, é possível ver algum efeito de demanda reprimida pelo canal físico. Mas ocorre que o tempo está passando e o crescimento continua”, diz. Em outra abordagem, que compara apenas as lojas que voltaram a funcionar até o fim de junho, o crescimento ‘mesmas lojas’ e em dias comparáveis é de 23%.
A companhia registrou uma receita bruta de 6,5 bilhões de reais de abril a junho, com queda de 7,8% sobre igual período do ano anterior. Mesmo com a pandemia e 80% das lojas fechadas durante o trimestre, em média, a empresa conseguiu fazer 36% do volume do ano passado ou 2,18 bilhões de reais. As vendas online tiveram alta de 300%, para 4,28 bilhões de reais — e responderam por 67% do total.
As ações da empresa tiveram alta de 3,41%, para 18,78 reais. Durante o dia chegaram a subir mais de 8%, mas a valorização perdeu intensidade ao longo da tarde. O valor de mercado da empresa, que estava abaixo de 7 bilhões de reais ao fim de março, terminou a quinta-feira em quase 30 bilhões de reais.
O entendimento de Fulcherberguer é que nas lojas vem ocorrendo um ganho de fatia de mercado, como no digital. Ele afirma que, de acordo com dados da consultoria GfK, a Via Varejo conquistou 12 pontos percentuais de participação para pouco mais de 30%, no canal online.
Dona das bandeiras Casas Bahia, Ponto Frio e Extra.com, a Via Varejo teve lucro líquido contábil de 65 milhões de reais no segundo trimestre. O desempenho, porém, foi beneficiado por um crédito relacionado a PIS e Cofins de 241 milhões de reais — sem ele, a empresa teria registrado um prejuízo de 176 milhões de reais. Esse ganho também influenciou o Ebitda, que seria de 291 milhões de reais, com margem de 5,5%, sem esse extra — e não os 532 milhões de reais, com margem de 10,1%.
Ainda assim, o desempenho da empresa ficou acima da expectativa do mercado. Fulcherberguer destacou que o objetivo é mirar uma margem de 10%, mas que não dá para saber o futuro como vai ser. Segundo ele, o custo atual da operação online está muito próximo ao da loja física. Antigamente, as margens das lojas eram tradicionalmente muito superiores ao e-commerce.
Houve grande foco em melhorar a eficiência logística. A Via Varejo acelerou a adoção do modelo em que as lojas se transformam em mini-hubs para entregas, como se fossem estoque. Ao fim de junho, a empresa tinha 180 unidades operando nesse formato — de um total de 1.000. No começo do trimestre, eram apenas 60. Atualmente, são 390 unidades e o plano é fechar setembro com 500.
Junto com seus próprios canais digitais, a próxima fronteira na qual a companhia pretende corrigir o atraso frente suas concorrentes é a plataforma de marketplace, a atração de outros varejos para sua estrutura digital e, sempre que possível, com sua logística. Dos 7,26 bilhões de reais movimentados pela Via Varejo no segundo trimestre, 70% foram pelos canais digitais — nos quais as vendas próprias subiram 311% e a de terceiros, 180%. “Temos muita força para explorar. Vamos colocar nosso crediário, algo que só nós temos e ninguém mais, a serviço do marketplace. E também a banQi”, afirma, referindo-se à fintech de serviços financeiros digitais adquirida neste ano.
Fulcherberguer destacou que nos próximos meses a Via Varejo vai perseguir o objetivo de número 3 do plano estratégico: ir além do varejo. O número 1, quando a nova gestão assumiu em junho do ano passado, era voltar a fazer varejo e o número 2, alcançar um varejo de excelência. “Ninguém que não é digital faz 70% das vendas online.” O executivo não quis fornecer muitas informações, mas destacou que a companhia tem ótimos ativos dentro de seu negócio como sua logística e ainda um banco de dados gigantesco com informações sobre hábitos dos clientes. “Mais do que isso, eu não posso falar, pois estaria antecipando além da conta os próximos movimentos.”