Casas Bahia: custo de aquisição de cliente da loja física dilui a cara atração de usuários online (Casas Bahia/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 11 de março de 2022 às 14h03.
Última atualização em 11 de março de 2022 às 14h15.
A Via, dona das marcas Casas Bahia, Ponto Frio e Extra Pontocom, vai investir em uma frente nova: atrair investidores de longo prazo e mais estratégicos para a companhia e que possam valorizar o projeto e o trabalho realizado nos últimos dois anos.
Roberto Fulcherberger, presidente da empresa, contou em entrevista ao EXAME IN que parte no domingo à noite para Londres, junto com outros executivos, para um “olho no olho” com grandes fundos globais. “Não fizemos isso antes por causa da covid. Mas agora vamos finalmente começar e há um cronograma extenso, que avança pelo ano de 2022.” A pandemia se instalou no mundo pouco meses após a nova administração assumir a operação.
O executivo explica que hoje 70% da base de investidores têm perfil de curto prazo e precisa atrair fundos com percepção de valor em um prazo mais longo para acompanhar a empresa em sua evolução. “Não está relacionado à nenhuma emissão. Queremos mostrar a oportunidade do negócio no mercado secundário mesmo”, explica. A Via também está entre as 10 empresas da B3 com maior base de pessoas físicas, são quase 500 mil CPFs.
Na B3, a Via ficou estagnada desde que anunciou inesperadas e relevantes provisões trabalhistas no terceiro trimestre. Desde então, o negócio foi deixado de lado por alguns gestores que estavam mais atentos ao processo de reestruturação iniciado em junho de 2019. A companhia está agora avaliada em pouco mais de R$ 5 bilhões, sendo que já valeu perto de R$ 60 bilhões, no auge da febre com o digital.
A empresa ainda segue na luta de demonstrar que as provisões trabalhistas anunciadas, de R$ 2,5 bilhões — agora o valor está em pouco menos de R$ 2,25 bilhões, pois algumas foram compradas pela empresa —, não afetam sua saúde financeira.
Orivaldo Padilha, diretor financeiro e de relações com investidores, tem variadas tabelas para mostrar que os créditos fiscais que a empresa possui, próximos de serem monetizados, mais do que compensam a surpresa que saiu do armário de repente, referente às administrações anteriores. O saldo total é de pelo menos R$ 9,5 bilhões. Para este ano, são esperados R$ 2,25 bilhões e mais outros R$ 2 bilhões para 2023.
No ano passado, conforme o prometido, a Via consolidou sua tese de market-place e tem agora mais de 130 mil sellers plugados em sua plataforma, com mais de 41 milhões de itens disponíveis.
No acumulado de 2021, a soma geral das vendas (GMV) nas plataformas da empresa, física e digitais, somaram R$ 44,6 bilhões, um aumento de 15% sobre o ano anterior. Do total, praticamente 60% foram vendas digitais, ante os 49% desde 2020 — auge da pandemia. O GMV do market-place dobrou no ano passado e atingiu R$ 6,4 bilhões. A receita líquida consolidada da empresa avançou 7% para R$ 31 bilhões.
O que a Via quer apresentar aos investidores é que fez seu crescimento de marketplace e mesmo de expansão de categorias próprias sem prejudicar suas margens. A margem bruta do ano teve até mesmo uma ligeira alta de 29,9% para 30,6%. O Ebitda cresceu mais do que a receita, 9,8%, e somou R$ 2,45 bilhões — a margem passou de 7,8% para 8,0%, de 2020 a 2021.
Dessa forma, não fosse as questões trabalhistas, a empresa teria registrado um lucro líquido de R$ 538 milhões, um aumento superior a 32% sobre o ano anterior.
A estratégia de usar a loja física para dar suporte ao crescimento digital segue firme e forte. A Via já se antecipou ao discurso de que as lojas físicas são um problema porque as vendas caem. E não foi pouco. Embora no acumulado do ano a queda foi de 2,3%, devido à retomada da abertura, no quarto trimestre, o recuo foi superior a 24%.
A companhia quer mostrar que é justamente a estrutura física de suas mais de 1.100 lojas que ajudam na expansão do digital. Neste ano, há mais 80 a 100 novas unidades programadas. E mais do que isso: diluem custo também.
A companhia mostrou que nas praças onde foram abertas lojas novas, as vendas digitais se multiplicam por 3. Além de aumentar as vendas, a presença física dilui — e bastante — o custo de aquisição de cliente (CAC). Enquanto o CAC de um cliente na loja é de R$ 18, a média do mercado para conseguir um cliente novo online é de R$ 80 a 100. E quando se fala em usuário para as fintechs, esse CAC é ainda maior, de acordo com estimativas de especialistas.
Fulcherberger destacou, durante a entrevista com o EXAME IN, que se 2021 foi o ano do marketplace, 2022 será o ano de consolidar a logística como serviço para os vendedores e também o crediário e serviços financeiros, via BanQi.
O executivo sempre reforça o conhecimento e a estrutura que a empresa possui para logística. “Logística pesada Brasil a dentro, só eu faço”, provoca ele, quando questionado sobre o cenário competitivo no ecommerce que tem feito as varejistas perderem margem na média.
“Agora, com esse serviço para os sellers, eu vou diluir muito meu custo fixo”, enfatiza. “O aumento da frequência de carga faz isso de forma muito rápida”, completa o presidente da Via.
Outra frente que na qual haverá grande foco em 2022, é fornecer crédito para o seller na forma de crediário ao usuário. Se um pequeno varejo plugado à plataforma da Via não conseguia vender mais do que em 3 parcelas, poderá oferecer pagamento em 10 vezes, com a intermediação da BanQi. “Esse aqui é outro negócio que todo mundo quer fazer, mas que ninguém domina como a gente”, afirma. “Quanto tempo para trás eu quiser olhar, eu vejo que minha inadimplência não ultrapassa 5%”, comenta Padilha, desafiando a olhar os números da concorrência.
O TPV (volume total transacionado) do ecossistema financeiro da Via alcançou R$ 11,1 bilhões no quarto trimestre, antes mesmo que o serviço de crediário esteja sendo usado em larga escala. Um ano antes, o total movimentado foi de R$ 9,7 bilhões. São, nesse momento, 170 sellers plugados - uma fatia diminuta do total, porque a solução estava em ritmo de teste ainda. O total de contas abertas no BanQi está em 4,33 milhões. O download do aplicativo passou de 2,6 milhões para 10,6 milhões no quarto trimestre, na comparação anual. A loja da Via também funciona como hub financeiro, onde o cliente pode sacar e pagar contas de sua carteira.
Essa é a rota de expansão que a companhia quer mostrar aos investidores que possui pela frente e que não será o passivo trabalhista que vai atrapalhar os planos.
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