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Verde ainda não vê S&P barato – e alerta para ‘otimismo exagerado’ com a Bolsa no Brasil

Fundo de Luís Stulhberger está ‘levemente vendido’ em bolsa global e segue apostando em alta de juro real no Brasil

Verde, de Stulhberger: alocação zerada em Bolsa brasileira e aposta em aumento de juro real (Patricia Monteiro /Bloomberg)

Verde, de Stulhberger: alocação zerada em Bolsa brasileira e aposta em aumento de juro real (Patricia Monteiro /Bloomberg)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do Exame INSIGHT

Publicado em 8 de abril de 2025 às 12h36.

Última atualização em 8 de abril de 2025 às 12h50.

O Fundo Verde, de Luís Stulhberger, ainda não vê um ponto de entrada na bolsa americana, apesar da queda histórica do S&P 500 nos dias que se seguiram ao anúncio das tarifas de Donald Trump.

“A reação recente dos mercados até aqui nos parece razoável”, afirmou a equipe do fundo em carta aos cotistas, referindo-se à queda de 9,6% do principal índice de bolsa americana nos primeiros dias de abril, uma performance que não acontecia desde os primeiros dias da pandemia.

As commodities e as taxas de juros também caíram, com uma dicotomia importante em moedas, com o dólar se apreciando diante do euro e do iene, mas se apreciando contra moedas emergentes.

“É um clássico cenário de aversão a risco originado nos Estados Unidos. Nos parece cedo ainda para dizer que os ativos estão baratos, dados os enormes riscos que se avolumam sobre a lucratividade da maioria dos negócios”, disseram os gestores.

O Verde está levemente vendido (apostando na queda) em bolsa global através de opções – e voltou a aumentar algumas posições depois de manter um nível de risco bastante reduzido ao longo de março.

Nos Estados Unidos, voltou a comprar inflação. E, em moedas, montou posições vendidas no renminbi chinês contra o euro e o dólar.

Um choque ‘rocambolesco’

Na carta, o Verde define o aumento tarifário de Donald Trump irrestrito a todos os países do globo como um choque de proporções históricas, e com contornos ‘rocambolescos’. (De fato, não era o cenário básico da gestora, que esperava uma versão mais 'paz e amor' do presidente americano em relação à China.)

“Mesmo ilhas habitadas por pinguins foram tarifadas, ilustrando à perfeição os aspectos rocambolescos da decisão.”

Na avaliação da gestora, o aumento da tarifa efetiva sobre importações de 2,5% para 27% com a canetada do presidente americano tende a ter um efeito parecido com o choque tarifário da Grande Depressão.

“O Smoot-Hawley Tariff Act de 1930 nasceu como uma política para proteger a economia americana dos desafios de uma recessão, e dado o ciclo de retaliação, acabou contribuindo para piorar de maneira significativa o ciclo econômico.”

O efeito agora deve ser de uma “desaceleração econômica importante”, alerta a gestora, trazida pela explosão de incertezas sobre as cadeias de suprimento globais, que tende a paralisar decisões de investimento em grande parte das grandes corporações.

A necessidade de repassar preços num contexto de demanda desacelerando dificulta em muito a vida do Fed, aponta o Verde. “O Banco Central deve se ver preso temporariamente entre uma alta da inflação, piora de emprego e pressões políticas vindas de um presidente pouco afeito aos protocolos de um banco central independente”, dizem os gestores.

Enquanto isso, no Brasil...

O Verde não está comprado na teoria de que o Brasil é um dos beneficiários do movimento das tarifas de Trump: o fundo segue com alocação zerada em bolsa brasileira.

Na visão dos gestores da casa, a alta de 6,1% do Ibovespa em março, motivada por fluxos estrangeiros e uma rodada de otimismo com a eleição de 2026 foi exagerada.

“Nos parece um otimismo excessivo tão longe do pleito e diante de um panorama global tão complexo, ainda mais desconectado de uma queda nas taxas de juros longas”, argumentam.

“Mais ainda, com a correção importante dos valuations das ações americanas, temos alguma dificuldade em ver as ações brasileiras tendo espaço para ficar substancialmente mais caras.”

Do lado dos fundamentos, o Verde vê um governo em busca de estabilizar sua popularidade. O novo consignado, apesar de ser uma medida “estruturalmente positiva” vai dar fôlego à economia ao longo do ano, melhorando as perspectivas de crescimento, mas dificultando o trabalho do Banco Central.

“É mais um capítulo da longa novela de aceleradora fiscal versus freio monetário que o país vive nos últimos anos.”

Nesse cenário, o fundo aumentou suas posições compradas em juro real, e manteve “pequena alocação” em inflação implícita.

Além disso, segue alocado em cripto, com uma “pequena posição” comprada em petróleo, assim como os livros de crédito high yield local e global, aponta a carta.

Em março, o Verde rendeu 0,58%, contra 0,96% do CDI. No acumulado do ano, o multimercado tem valorização de 2,79%, levemente abaixo do benchmark acumulado, de 2,98%.

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