Exame IN

Venture capital para “todo mundo”: Equitas fará IPO de 1º fundo crossover

Modalidade de fundos mistos é nova no Brasil, embora já movimente bilhões no mercado internacional

Startups: Fundo mistura companhias listadas com investimentos em empresas em fase pré-IPO (Feodora Chiosea/Getty Images)

Startups: Fundo mistura companhias listadas com investimentos em empresas em fase pré-IPO (Feodora Chiosea/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 17 de junho de 2021 às 19h00.

Última atualização em 17 de junho de 2021 às 19h30.

Tem inovação na praça. E dessa vez não é feita por uma startup. A gestora de recursos Equitas Investimentos, especializada em renda variável e com cerca de R$ 5 bilhões sob gestão, vai inaugurar um novo produto de investimento no mercado brasileiro. E, na prática, vai trazer para o varejo o acesso a fundos de venture capital, uma modalidade hoje restrita ao investidor profissional.

A casa, fundada em 2006, vai lançar o primeiro fundo crossover do país. Crossover? É um produto que mistura, em uma mesma carteira, investimento em companhias abertas e em empresas fechadas, alvos do venture capital dedicado ao chamado “late stage”. Normalmente, as investidas são empresas pré-IPO, que já estão rodando comercialmente e em fase de forte expansão. A ideia é que essa parcela da carteira traga retornos maiores e amplie o rendimento global do que seria um fundo só de companhias listadas.

O nome do jogo para isso é um só: crescimento. O dinheiro pré-IPO serve para a companhia dar aquele gás em projetos que aumentem seu tamanho até o ponto em que possam acessar o mercado público diretamente.

O fundo será listado na B3 e exigiu, conforme o EXAME IN apurou, um esforço conjunto da Equitas, com a própria Bolsa e ainda com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O pedido de registro da oferta pública inicial (IPO) do fundo foi registrado hoje no regulador. A carteira não oferece resgate. Quem quiser sair, vende as cotas no mercado. Procurada, a Equitas não comentou o assunto e preferiu também não confirmar os dados apurados.

Idealmente, o objetivo é que o fundo capte entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão, de acordo com informações que circulam no mercado. A indústria está agitada com a novidade e muitos vão acompanhar de perto o movimento.

O regulamento diz que o limite para investimento privado é de 40% do patrimônio. Porém, idealmente, a proporção deverá ficar em torno de 1/3 — ou seja, ligeiramente abaixo do limite permitido. Poderão comprar cotas do fundo investidores qualificados, aqueles que dispõem de ao menos R$ 1 milhão livre para aplicações. O valor mínimo do investimento ainda não está definido.

Venture capital não é mais novidade na Equitas. A casa tem, desde outubro de 2020, um fundo dedicado. A diferença é que, nessa carteira inaugural, os recursos são até o momento exclusivamente dos sócios e somam R$ 20 milhões. O portfólio tem uma equipe dedicada conduzida por Felipe Mansano, co-fundador da Beleza na Web, 12 anos atrás — o que o torna um dos pioneiros do e-commerce totalmente digital. Nesse fundo, o Equitas VC, o foco são empresas em fase bastante inicial, em que os aportes podem ser classificados como capital semente, com tíquete de R$ 500 mil a R$ 3 milhões.

Já no fundo crossover, a seleção dos investimentos será feita pela equipe de renda variável da casa. A estrutura de custos do fundo para o investidor será diferente da que o mercado está acostumado também. A taxa de administração inicial será de 0,5% nos três primeiros anos para, em seguida, subir. Mas, quando o fundo crescer, a taxa cai novamente. A cobrança de performance é de 15% sobre o prêmio em relação a indicadores de inflação.

Fora do Brasil, essa é uma indústria já desenvolvida. São destaque, por exemplo, a escocesa Baillie Gifford, com 325 bilhões de libras escocesas sob gestão, e a americana Durable Capital Partners, com US$ 12 bilhões, conforme publicação disponível no site da Equitas sobre o assunto.

Equitas fará IPO de 1º fundo crossover do Brasil

Luis Felipe Amaral: fundador da Equitas, casa dedicada à renda variável, criada em 2006 (Equitas/Divulgação)

No Brasil, a demanda de investidores pessoas físicas para acessar oportunidades no venture capital é crescente, seguindo a tendência global. Já existe, inclusive, uma discussão na Iosco, órgão que reúne as comissões de valores mobiliários de mercado mundo afora, sobre como atender esse anseio. O grande drama da questão é que se trata de um investimento de risco ainda maior que os fundos de private equity. A carteira crossver da Equitas será registrada como um Fundo de Investimentos em Ações (FIA).

Enquanto as carteiras de venture capital continuam restritas aos profissionais, a CVM acredita que o crowdfunding vinha dando alguma vazão ao interesse do varejo pelas startups. Algumas empresas têm optado por essa modalidade de captação e estão surgindo plataformas dedicadas a esse mercado. Agora, os fundos crossover serão um caminho para esse acesso, dentro de um ambiente de mercado mais regulado.

No início de 2021, o gestor da Constellation Asset Management, Florian Bartuneck, em entrevista ao EXAME IN, previa que esse seria um ano de grande atividade nesse mercado. Para ele, já era irreversível o fluxo do dinheiro para esse tipo de ativo, pois o público investidor consegue ver como o consumo se comporta e como estão ocorrendo as mudanças de comportamento. Portanto, quer acompanhar esse movimento em seus investimentos. “É só olhar para onde o dinheiro do consumo está indo”, comentou ele, na ocasião.

Os dados da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) também dão sinais claros da direção do dinheiro. Em 2020, essa indústria de fundos fez um total de R$ 23,7 bilhões. Pela primeira vez, no agregado do ano, a maioria do total — 62% — foi destinada ao capital de risco. Na fotografia do primeiro trimestre deste ano, as cores dessa fotografia estão ainda mais saturadas. De um total de R$ 10,7 bilhões investidos nos três primeiros meses do ano, R$ 8,8 bilhões foram aportes de fundos de venture capital, ou seja, 82% do total.

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