Luis Felipe Amaral, sócio fundador da Equitas: "o mais legal é a sensação que estamos aprendendo o tempo todo" (Equitas/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 14 de junho de 2021 às 08h41.
Última atualização em 23 de junho de 2021 às 17h19.
Em outubro do ano passado, a gestora de recursos Equitas, que tem um total de R$ 5 bilhões em ativos sob gestão, entendeu que era chegada a hora de entrar no mercado de venture capital. E o fez com uma combinação que parece um paradoxo, mas não é: parcimônia e ousadia. Parcimônia porque, naquele primeiro momento, montou um fundo apenas com capital proprietário, o Equitas VC, no valor de R$ 20 milhões, aproximadamente. E ousadia pois escolheu o mercado conhecido como ‘early stage’, ou fase inicial dos empreendimentos. Em tese, onde está o maior risco de sucesso.
O fundo deu seus primeiros passos em outubro de 2020, mas parte relevante dos investimentos foi realizada em dezembro e janeiro. Passados oito meses, a carteira tem sete investidas e mil projetos pela frente, em parceria com essas eleitas. Para quem acha rápido, um alerta: a taxa é mais ou menos de um investimento a cada 100 ou 200 oportunidades avaliadas. Ainda cabem alguns novos investimentos na carteira atual.
“Curiosamente, achamos que escolhemos bem. Não tem nenhuma com sinal ruim. Todas, surpreendentemente, parecem estar na direção correta”, reforça Luis Felipe Amaral, sócio fundador da casa, em entrevista ao EXAME IN. Diversos dos empreendimentos estavam ainda na fase de ideia quando o aporte foi feito e agora todas já têm em mãos um produto acabado, no mínimo em fase de teste, para vender. A maioria já entrou em estágio comercial.
“Ter alguém que compre seu produto, que pague por ele, é o grande definidor de agregação de valor e geração de riqueza”, enfatiza Felipe Mansano, que chegou na Equitas para liderar o time desses aportes. E ajudar a definir o que e como “vender” é exatamente a experiência que a casa entende que de melhor tem para compartilhar.
Amaral explica que a empreitada teve como motivo, inclusive, o aprendizado e o desenvolvimento da casa, até mesmo para avaliar as grandes companhias listadas na B3 — mercado de origem da gestora. “Todos os negócios hoje podem ser disruptados — e serão, em algum momento — e precisamos estar preparados para isso. Essa é uma forma, também, de se preparar”, comenta, deixando claro que esse não é nem o único, nem o principal motivo dessa nova frente.
A decisão pelas empresas em fase inicial combina a expectativa dos maiores retornos que se espera obter — associada ao maior risco — com o tíquete que os sócios queriam dispor numa primeira incursão no segmento: R$ 500 mil a R$ 3 milhões por rodada.
Mansano, à frente do time de venture capital, se destacou nesse ambiente por ser um dos co-fundadores de uma das primeiras empresas de e-commerce do Brasil, a Beleza na Web, quando tinha apenas 26 anos — uma dúzia de anos para trás.
É da experiência de Mansano e do que ele tem para entregar em uma sociedade, para além do capital, que se definiu o foco do fundo: a Equitas foi buscar oportunidades entre fundadores com perfil muito técnico e que precisam de ajuda e experiência para formatar o produto para ser colocado no mercado. "Ajudamos nesse go to market. É quase como se estivéssemos à disposição da diretoria das investidas."
Quando questionado sobre sua principal lição como empreendedor, Mansano não pensa duas vezes: “Aprendi que o empreendedor dessa fase inicial tem uma grande tendência a priorizar produto, em detrimento de canal. Mas canal de distribuição é absolutamente fundamental e você precisa ter clareza sobre isso o mais cedo possível. Nas startups, quando algo não dá certo, é comum os fundadores mexerem no produto. Porém, muitas vezes, é possível que a distribuição é que não esteja adequada”, compartilha ele.
Amaral complementa e explica que a ideia da Equitas é ser totalmente mão na massa, o que ele acredita ser um diferencial para essa fase inicial das empreitadas. “O Brasil já tem muita gente ali no meio do mercado, no growth [crescimento], mas não tem tanto na ponta inicial e nem nos estágios mais avançados, que ainda dependem de grandes nomes internacionais.”
No portfólio da Equitas, há duas companhias secretas no segmento de games, sobre as quais a casa prefere não falar para não atrapalhar a rotina de desenvolvimento do negócio, e uma no segmento de adquirência e crédito, sobre a qual a casa também prefere manter a discrição.
Se fosse para simplificar o portfólio do EquitasVC, o fundador diz que estaria voltado principalmente para o segmento conhecido como “software as a servisce”, que ganhou fama com a sigla SaaS, uma abreviação. Mas, não precisa mais que uma rápida passada de olho na seleção para perceber a diversidade.
Logo no início, uma das primeiras escolhas foi a ElvenWorks, pioneira no Brasil no desenvolvimento de uma tecnologia para monitoramento de aplicações de computação em nuvem. A aproximação com os fundadores foi feita por um dos parceiros nesse ecossistema, o guru Paulo Silveira, criador do Grupo Alura, de capacitação para jovens desenvolvedores, programadores e criadores de softwares digitais.
Além da Elven, está na carteira a R2U, uma empresa que aposta na tecnologia de realidade virtual aumentada para o futuro do e-commerce, no lugar das tradicionais fotos tediosas em duas dimensões. “Com a solução, quem comprar um móvel, pode vê-lo dentro da casa antes de gastar.”
Tem ainda a Lexter.AI, para análise, interpretação e revisão de contratos jurídicos, e, por fim, a Singular, que possui um software de gestão para casas de cuidado com idosos e home care, com facilidades que vão desde a gestão de estoque de medicamentes, prontuário médico até o controle financeiro e a comunicação com a família.
Um segredo do momento da seleção: além de eleger fundadores com perfil altamente técnico e capazes de criar produtos de tecnologia, com potencial de escala, Mansano prefere times ímpares de sócios. "O trio traz um dinamismo nas decisões, porque sempre dá para formar maioria. Em dupla, as questões, às vezes, ficam paradas por divergências, o que também gera desgaste nas relações."
Perguntar à Equitas se há planos para novas captações ou de novos fundos, é um exercício curioso. Em primeiro lugar porque a empolgação com o assunto é evidente e é notória a percepção de enriquecimento intelectual dos sócios. Ao ponto de ser digno de nota. "O mais legal é a sensação de estarmos aprendendo o tempo todo", destaca Amaral.
Em segundo lugar porque os planos são muitos, mas há um esforço por discrição. Depois de muito cutucar, Mansano comenta que um empreendedor de um dos mais recentes unicórnios brasileiros estuda fazer parte da estrutura de investimento da casa. “Não é exatamente abrir para captação. Mas faz sentido avaliarmos dar espaço para novos conhecimentos que queiram se associar ao nosso ecossistema e tenham o que acrescentar”, explica, cheio de mistério.
Tanto Amaral como Mansano frisam que ninguém tem pressa com os investimentos e falar em prazo é quase pecado. “Queremos acompanhar essas companhias por um longo período”, diz. Se possível, a casa gostaria de estar preparada para outras rodadas, no futuro, desses negócios.
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