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Varejo tem pregão de ressaca com dados macro e competição asiática

Magazine Luiza é destaque de queda e sofre mais por ter sido ação de maior consenso do setor

Varejo: empresas vivem tempestade perfeita na bolsa com inflação, juros altos e ainda competição interna e externa forte (Leandro Fonseca/Exame)

Varejo: empresas vivem tempestade perfeita na bolsa com inflação, juros altos e ainda competição interna e externa forte (Leandro Fonseca/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 8 de dezembro de 2021 às 12h43.

Última atualização em 8 de dezembro de 2021 às 12h51.

O setor de varejo, especialmente de comércio eletrônico, começou essa quarta-feira tomando uma surra dos investidores. E, na liderança do movimento de queda, está Magazine Luiza, com um tombo superior a 8,50%, levando a ação para baixo de R$ 7,00. A companhia, que já foi avaliada em mais de R$ 160 bilhões na B3, negocia agora com uma avaliação inferior a R$ 50 bilhões — mais precisamente, em R$ 47 bilhões.

Na sequência, aparecem Via, com recuo de 2,24%, e Americanas, caindo 2%. Logo pela manhã, saíram os números de vendas do varejo divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados vieram bem abaixo da expectativa. O consenso indicava que após a queda de 4,1% em agosto e de 1,1% em setembro, poderia haver uma recuperação de 0,6% em outubro. Mas, nada disso: o resultado ainda ficou em terreno negativo, ainda que em 0,1%. A grande questão é que a tendência não está se revertendo mesmo com a proximidade da temporada de compras de fim de ano e com a base de comparação fraca dos meses anteriores — os percentuais informados são as variações mensais, e não anuais.

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Não pode escapar da análise que esses ativos eram quase de consenso dentro das carteiras e os investidores estavam carregados nessas posições desde 2020, o ano em que o comércio surpreendeu e que o canal de digital galgou novos patamares.

Assim sendo, a própria aversão a risco que afeta a bolsa de forma geral acaba tendo impacto sobre o setor, em especial Magalu — a queridinha presente em dez entre dez carteiras de investimento. Diminuir posição em bolsa implica, portanto, em vender ações da companhia, o que ajuda a explicar a força maior da queda frente as suas pares (assim como foi na valorização).

Mas é fato que uma combinação de fatores tem pressionado as companhias. Por isso, o setor saiu de uma posição privilegiada de consenso positivo para uma aposta de médio prazo e que, no caminho, ainda deve encarar muita volatilidade e com muitos ruídos. O cenário macroeconômico é um repeteco do que acontece no mundo, mas com força ainda maior: inflação ainda mais alta e juros, idem. Os balanços do terceiro trimestre já deixaram claro — e foi só o começo — como isso afeta o consumo, de forma generalizada.

O analista do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) Luiz Guanais revisou os preços-alvo para as empresas. No caso de Magazine Luiza, por exemplo, a estimativa de target para os papéis saiu de R$ 26 para R$ 16, um corte de quase 40%. Dessa correção das projeções, 70% está relacionado com fatores macroeconômicos. O novo cálculo equivale a um potencial de valorização de quase 130% sobra cotação de hoje na bolsa. Só que até lá há uma montanha-russa pela frente, o próprio especialista da instituição admite.

No curto prazo, há um componente que afeta especialmente o desempenho em 2021: a base de comparação. Não se trata apenas de 2020 ter sido um ano muito forte. A questão é que durante a pandemia houve uma grande concentração na compra de eletrônicos, que ainda representam grande parte das vendas dessas companhias. Dessa forma, não há como esperar vendas tão forte tão cedo – já que estamos falando de bens duráveis.

A cereja no bolo vem da própria força das companhias. Magazine Luiza, Via e Americanas, assim como a líder de market-share Mercado Livre, são, indubitavelmente, os grandes participantes desse setor e estão capitalizadas para crescer. Tipicamente, quando isso acontece em um segmento da economia, o que se vê é grande crescimento nas vendas e redução do lucro.

Uma vez que elas estão competindo agressivamente entre elas, o custo de aquisição de clientes e, nesse caso, de sellers (outros varejistas para a plataforma de market place) aumenta. Logo, as margens caem. Isenção de fee sobre as vendas de terceiros, frete grátis, cashback: toda essa lista significa mais dinheiro investido em conquistar e reter clientes e menos lucro imediato.

A soma de todos os efeitos fez o preço-alvo de Via, que também sofrerá redução de capacidade de investimento em razão de problemas com provisões de ações trabalhistas, ser cortado de R$ 21 para 8, o de Westwing caiu de R$ 22 para R$ 7 e o de Enjoei, de R$ 18 para R$ 7. O target para Americanas é de R$ 45, mas não possui comparativo porque a empresa em meio a um processo de reestruturação societária, com a união das bases de acionistas das antigas Lojas Americanas e B2W.

As asiáticas

No comportamento deste pregão, um dado que corre no boca-a-boca forte é de uma apresentação da companhia de logística Sequoia, que acompanha o desempenho do setor por trabalhar para ele. Em uma apresentação a investidores recente, a empresa mostrou que as empresas asiáticas de comércio eletrônico saíram do zero para uma participação de 25% de participação de mercado em 21 meses, partindo de 2019 até setembro deste ano. E aqui, o destaque vai para Alibaba e a nova entrante Shopee.

Ainda que muitos especialistas destaquem que, no curto prazo, os posicionamentos são muito distintos, o gigantismo asiático, seu conhecimento sobre o setor e sua capitalização sempre assustam. E falando em gigantes, a Amazon, que no Brasil ainda está muito concentrada no eixo São Paulo-Rio e nas classes mais altas (o que a deixa com um market-share de um dígito no total do setor), também está falando em investir mais por aqui e expandir. A competição, portanto, vem de todos os lados.

Nas estimativas do analista do BTG Pactual, depois de crescer 66% em 2020, o ecommerce brasileiro vai ter uma expansão de 21% neste ano e, depois, uma média de 24% até 2025, quando deve alcançar R$ 505 bilhões de vendas (GMV). Vale destacar aqui que as previsões sempre foram revisadas para cima, nunca para baixo, no total movimentado pelo comércio online — e ainda assim o Brasil segue bem distante da média de países desenvolvidos. Em 2025, o percentual digital do comércio total deve alcançar 20,5%, comparado a 9,1% do ano passado — de acordo com estimativa Neo Trust e BTG Pactual.

Na visão do analista Guanais, as companhias que ele considera que serão as três vencedoras no longo prazo no setor, Mercado Livre, Magazine Luiza e Americanas, vão deter 80% do mercado de comércio eletrônico, o que implica em um grande crescimento de seus market-places. Entretanto, há uma boa parte do valor desse mercado que deve ficar nas mãos de varejistas e market-places especializados, com destaque para varejo de moda, seja vestuário ou calçadista.

Tempestade

A despeito da volatilidade no curto prazo, os especialistas — analistas e gestores — acreditam que não existem dúvidas sobre o crescimento das companhias e a capacidade de execução. O espaço no Brasil é enorme. Contudo, essa combinação de desafios descrita acima colocou um ponto de interrogação a respeito do curto prazo e da sustentabilidade das margens das empresas. Para quem quer comprar e fechar os olhos para o sobe e desce, porém, os espaços para valorização estão evidentes nos preços-alvos dos papéis.

 

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