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Vale: operacional no 1º tri desaponta mais uma vez e eleva pressão por eficiência

Frustração com custos só aumenta expectativa por participação da Cosan no conselho e olhar 'empresarial' do conglomerado

Minério de ferro: decepção com execução, faz Vale ficar à mercê de preço da commodity (Beawiharta/Reuters)

Minério de ferro: decepção com execução, faz Vale ficar à mercê de preço da commodity (Beawiharta/Reuters)

Graziella Valenti
Graziella Valenti

Editora Exame IN

Publicado em 27 de abril de 2023 às 10h57.

Última atualização em 27 de abril de 2023 às 11h00.

“A Vale (VALE3) apresentou resultado abaixo da média de seus pares australianos e vai precisar de um tempo para se recuperar.” A avaliação é do analista do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) , Leonardo Corrêa, a respeito dos números publicados pela mineradora ontem à noite. O problema maior dos números – e os investidores já estavam negativos em função dos dados de venda anunciados na semana passada – foi o aumento de custos reportado.

Tudo indica que o novo conselho de administração, cujos nomes serão submetidos à votação em assembleia de acionistas amanhã, precisará de fato contribuir com o corpo executivo da companhia para melhorar a execução operacional. A pressão quanto a isso só cresce. Parte dos 12 nomes sugeridos já estava no colegiado e alguns são novos. A formação, se confirmada, marca a estreia da Cosan (CSAN3), a participação do CEO do conglomerado Luis Henrique Guimarães. O grupo construído por Rubens Ometto investiu cerca de R$ 20 bilhões na aquisição de uma fatia de 4,99% da mineradora.

O Ebitda de US$ 3,7 bilhões da Vale nos três primeiros meses de 2023 – 26% abaixo do trimestre anterior e 42% menor na comparação anual – foi 12% menor do que as estimativas do especialista do BTG. O custo dos finos de minério entregues para China alcançou US$ 61,7 por tonelada, ante US$ 52,3 no quarto trimestre de 2022 – 9% acima da projeção de Corrêa.

A crítica a um custo caixa elevado também é feita pela especialista do Credit Suisse, Vanessa Quiroga. O número veio 7% acima dos cálculos projetados pela analista. Para ela, a reação dos investidores será negativa, uma vez que o custo ficou “pior do que o esperado” - mais uma vez. A companhia tem sucessivamente desapontado investidores.

A ação da companhia, que era negociada em torno de US$ 16 na bolsa de Nova York até a semana retrasada, ontem fechou o dia US$ 13,96. Hoje, no pré-mercado, o papel começou o dia com queda próxima de 3% (o que é consideravelmente alto para um ativo tão líquido quanto a Vale). Há pouco, porém, o movimento estava bem mais suave, com recuo de 0,30%. No Brasil, no começo do pregão, a queda estava em torno de 1%.

Colocando em bilhões, a mineradora perdeu quase R$ 40 bilhões em valor de mercado – na B3, onde está avaliada em R$ 313 bilhões. A Vale é hoje negociada com um desconto entre 20% e 25% frente às pares australianas. Em grande medida, esse deságio reflete a descrença a respeito da capacidade de execução operacional da companhia, que há anos vem desapontando os investidores. A administração enfrenta forte pressão neste momento.

Não por acaso, os analistas e investidores apontam que a Vale é hoje uma empresa guiada por temas macro, como preço do minério de ferro e economia chinesa. Falta uma narrativa própria de eficiência e expansão.

O analista do BTG destacou que mantém a recomendação de compra para as ações da companhia, com preço-alvo de US$ 23 por ação. Ele aponta que a administração se mantém cautelosa na alocação de capital, que a alavancagem continua muito controlada, com a relação entre dívida líquida e Ebitda abaixo de 1 vez. Assim, acredita que a geração de caixa, em boa medida, deve ser usada para remuneração de acionistas, em um mix de dividendos e recompras de ações. Com isso, espera um ‘yield’ de 11% a 13% para 2023. Vanessa Quiroga, do Credit Suisse, também tem indicação de compra para as ações (outperform), com preço-alvo de US$ 25,50.

Porém, não resta dúvida que a lupa dos investidores sobre a companhia, a maior do Brasil, só aumenta. E agora, sobre a Cosan também. Embora o grupo de Ometto não se apresente como acionista de referência, uma vez que sequer é o maior investidor, há grande expectativa no mercado que a presença no conselho traga um olhar empresarial à gestão. E haverá um grande escrutínio sobre retorno do maior investimento, em uma só tacada, já feito pelo grupo.

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