Amos Genish: empresas poderão se concentrar na qualidade de serviços para os clientes, no atendimento final, enquanto a V.tal cuidará da infraestrutura (V.tal/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 13 de junho de 2022 às 15h07.
Última atualização em 13 de junho de 2022 às 19h45.
A V.tal finalmente nasceu como empresa independente da Oi. O acordo definitivo foi assinado na quinta-feira da semana passada. Amos Genish será, num primeiro momento, presidente do conselho de administração e presidente executivo da companhia, que conta com 3.000 funcionários e neste ano deve ter uma receita líquida estimada em R$ 5 bilhões. “É uma mudança de paradigma do setor muito significativa. É o que chamamos de game changer”, afirma ele, em entrevista ao EXAME IN. "Eu nunca imaginei voltar ao setor, mas fico muito feliz em poder fazer a expansão da fibra no Brasil."
Com uma rede de fibra ótica equivalente a 16 milhões de casas passadas, Genish conta que o investimento projetado para ocorrer até 2025 é de R$ 30 bilhões e, ao fim desse período, a infraestrutura no país alcançará 34 milhões de domicílios. A meta para este ano são 20 milhões. O intervalo considerado para investimento é de 2020 a 2025. A companhia nasce com uma dívida de R$ 5,7 bilhões, referente a uma linha de crédito concedida por um pool de sete instituições financeiras, para fazer frente aos investimentos que já estão sendo realizados.
Genish é sócio do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) e está envolvido no projeto desde o início. Todo o plano para a V.Tal foi desenvolvido pelo time de private equity da instituição, uma vez que o fundo controlador da empresa é o BTG Economia Real — estruturado com recursos de investidores. Desde setembro de 2020, a estratégia para o negócio estava sendo desenvolvida pela equipe liderada por Renato Mazzola, sócio do banco e head do private equity.
“O Brasil, ao final desse ciclo de investimento da V.tal, passará por uma mudança de infraestrutura de telecomunicações tremenda. Vamos levar a fibra para lugares que jamais se imaginou. Somos uma empresa totalmente neutra em rede, o que é algo novo para o país”, ressalta Genish.
O executivo destaca que, no setor, há anos são as mesmas companhias que fazem, em média o mesmo volume de investimentos. “Aqui, estamos falando de um player totalmente novo, que trouxe todo esse capital para o setor.”
Atualmente, além da Oi, são 30 clientes provedores regionais já na carteira da V.tal. E há outros dez contratos prestes a serem concluídos, contou Genish. Porém, mais importante do que isso, na visão do empresário e executivo, que fundou a GVT Brasil, e depois presidiu a Telefônica Brasil e a TIM, na Itália, é a mudança que isso vai causar no modelo de negócios. “As empresas vão poder se preocupar muito mais com os serviços que oferecem aos consumidores, do que com a rede”, enfatiza.
“Vamos ter contratos com os provedores regionais de internet banda larga, mas também com as grandes OTT do setor”, diz ele, em referência às grandes operadoras. “A tecnologia de 5G precisa ser entendida como uma rede de fibra que termina numa grande teia wireless”, reforça ele, lembrando que fibra não é apenas tecnologia para acessos fixos de banda larga. “A demanda não para de crescer. Além de haver oportunidade para aumentar a penetração dos serviços, a demanda por capacidade é crescente. Antes, as pessoas se contentavam com 200 mega de velocidade, agora querem 500 e já se fala de 1 giga."
A separação da rede da prestação do serviço final ao consumidor e o impacto disso sobre o mercado é algo que nem investidores, nem consumidores compreenderam ainda totalmente. As companhias que venderão acesso à internet poderão ser totalmente diversas daqueles que o público estava habituado até o momento.
“Entre as empresas interessadas em parcerias com a V.tal está uma grande rede varejista, bancos digitais e seguradoras. As próprias operadoras não vão mais competir na infraestrutura, mas no serviço, e com preços novos”, explica Genish, oferecendo uma pista do tamanho da mudança que há pela frente.
Depois de mudar o setor com a criação da única companhia espelho que se desenvolveu no país, a GVT (adquirida primeiro pelo grupo francês Vivendi e depois pela Telefônica), Genish agora volta para mudar o funcionamento e a estrutura do setor, à frente de uma das maiores companhias de rede neutra do mundo.
Na visão do executivo sobre o futuro, cada vez mais, com o decorrer do tempo, as OTTs e os provedores regionais — e outros players que chegarem — entenderão que a manutenção da rede e a constante necessidade de investimentos em atualização e expansão oneram o retorno aos acionistas. Dessa forma, poderão deixar cada vez mais essa função para as empresas dedicadas à rede.
O nascimento da V.tal marca também a estreia da nova Oi, que será a maior cliente da companhia de infraestrutura. A Oi será, assim, um negócio essencialmente de varejo — consumidor individual e clientes corporativos. Desde que a transação foi anunciada até seu fechamento, houve ajustes no modelo. Com isso, a participação final da Oi, que seria de 42,1%, será de 38,5%, num primeiro momento, pondendo cair para 34,7%, dentro de 18 meses.
Há dois motivos para os ajustes. O primeiro, que levou aos 38,5%, é que a V.tal foi entregue ao novo controlador, o fundo gerido pelo BTG Pactual, com menos caixa do que inicialmente estimado para o momento final da transação. A Oi poderia ter colocado recursos na empresa para compensar a diferença, mas escolheu reduzir sua fatia no negócio. A segunda razão, que conduz até os 34,7%, é que houve uma redução no valor combinado que será pago pelo uso infraestrutura, para manter a competitividade da oferta e evitar um aumento de churn. A contrapartida acertada também foi mais uma nova diminuição na participação final da Oi.
Pelos termos do contrato, a V.tal nasceu como uma empresa com valor de equity de R$ 22,3 bilhões. O negócio total entre o BTG Pactual e a Oi movimentou quase R$ 13 bilhões, considerando R$ 1,5 bilhão aportados referente à Globenet, que foi aportada na companhia.
Além da definição de Genish como CEO da V.tal, também foi anunciado um time de executivos do setor que estarão no comando das 11 diretorias que a companhia passa a ter: Pedro Arakawa (Negócios de Infra para Varejo), Bento Louro (Negócios de Wholesale), José Cláudio Gonçalves “Naval” (Novos Negócios & Inovação), Marcelo Souza (Operações), Cícero Olivieri (Engenharia), Sandro Simas (Tecnologia), José Miguel Vilela (Finanças), Eduardo Silveira (Estratégia), Marcelo Del Vigna (Jurídico), Maria Cláudia Cunha (Governança, Risco e Compliance) e Anna Karla Ribeiro (Pessoas & Cultura).
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