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Unipar vai investir R$ 1,4 bilhão em projetos ESG até 2030

Em seu primeiro relatório de sustentabilidade, companhia traz ESG para o planejamento estratégico e define metas

Unipar: foco para os próximos anos é organizar atuação da companhia em critérios ESG (Unipar/Divulgação)

Unipar: foco para os próximos anos é organizar atuação da companhia em critérios ESG (Unipar/Divulgação)

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Karina Souza

Publicado em 14 de setembro de 2022 às 11h30.

Última atualização em 14 de setembro de 2022 às 11h32.

A Unipar, produtora de cloro-soda e PVC, vai investir R$ 1,4 bilhão em (pelo menos) 30 projetos ESG até 2030. O anúncio é o destaque do primeiro relatório de sustentabilidade da companhia, divulgado ao mercado nesta quarta-feira. Dentro dessa quantia, estão contempladas 10 metas com projetos já em andamento, de olho tanto 'dentro de casa' quanto da porta para fora — estabelecendo objetivos para o relacionamento com fornecedores e clientes.

Colocar a companhia nessa rota e trazer o ESG para o coração da estratégia é um projeto, uma diretriz, estabelecida pelo próprio controlador da empresa, o empresário Frank Geyer, que até julho deste ano estava à frente do conselho de administração. "Somos uma empresa de origem familiar nascida em 1969. Sempre tivemos em nosso DNA o olhar de longo prazo. Nossa diretriz passa por necessariamente aprender com o passado, buscar evoluções e construir resultados que garantam perenidade", afirma Geyer ao EXAME IN. Segundo ele, o objetivo é estabelecer um pacto duradouro com as comunidades, tomada de decisões a partir de análises empresariais profundas, avaliação de risco e oportunidades. "Neste contexto é importante termos um olhar sustentável e humano para toda a nossa operação."

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Começando pelo que será feito dentro da empresa,  é possível identificar quatro metas principais: utilizar 60% da energia elétrica de fonte renovável, reduzir em 30% as emissões de CO2, impactar mais de dois milhões de pessoas com programas e projetos de desenvolvimento humano, além de ter 80% do ácido clorídrico fabricado com hidrogênio verde.

“Nós queremos ser um agente de transformação por um mundo mais sustentável. Vamos começar dentro da Unipar e avançar no nosso ecossistema. Não queremos sair fazendo coisas para qualquer lado. Nosso plano é atuar onde temos controle e os relacionamentos certos para contribuir de forma efetiva. Não vamos ‘fazer por fazer’, mas queremos alocar os recursos para de fato gerar impacto”, diz Maurício Russomano, CEO da Unipar, em entrevista.

Hoje, 85% do consumo da companhia vem de fonte hidrelétrica, seguindo a matriz energética brasileira. O foco é migrar para outras formas de abastecimento, consideradas limpas, priorizando a fonte solar e a eólica. Para isso, a empresa está construindo três usinas (uma solar e duas eólicas), que devem ficar prontas entre o fim deste ano e o meio do ano que vem, com 100% da geração destinada ao consumo da Unipar. Segundo Russomano, a ideia é já começar a procurar outros locais que possam ser novas usinas, de olho em manter a proporção de energia limpa conforme a empresa avança. 

No que diz respeito à meta de redução de emissões, entram em jogo tanto o uso de hidrogênio verde para produzir ácido clorídrico quanto o desenvolvimento de novas iniciativas para compensar o carbono emitido pelo etileno, usado para fabricar PVC. Entram em jogo uma série de projetos, como aumentar a densidade de florestas e iniciativas de reflorestamento. E na meta social, de impactar dois milhões de pessoas (foram 218 mil em 2021, para referência), a companhia deve buscar projetos maiores de apoio às comunidades, além de já ter fechado patrocínios de museus — atuando como mantenedores. Em São Paulo, o MASP e o MAM são alguns exemplos. 

Olhando para ‘fora de casa’, também estão previstos projetos com clientes — como garantir que 65% do volume de produtos fabricados use energia elétrica renovável até 2025. No relacionamento com fornecedores, a ação é mais para garantir que todos cumpram critérios de sustentabilidade nos próximos três anos. De acordo com o relatório da companhia, em 2021, 11% das empresas na cadeia de fornecimento foram classificados como críticos em termos ambientais.

Todos estes critérios dizem respeito a iniciativas que já foram aprovadas pela companhia para serem realizadas daqui para frente. Mas, lembrando, o orçamento bilionário não contempla só isso. De olho em novos projetos que ainda estão em estudo — ou mesmo nos que vão surgir daqui até lá — a empresa definiu 13 áreas-foco dentro das quais eles poderão ser desenvolvidos.

Internamente, os pilares são: segurança e saúde, energia limpa, gestão de riscos, gestão de resíduos, inclusão e diversidade e uso responsável da água. Pensando no relacionamento com a comunidade, estão os critérios de saneamento e desenvolvimento humano; com os fornecedores, está o engajamento deles em sustentabilidade e logística responsável; com os investidores, entra principalmente o uso de melhores práticas de mercado para governança; e com os clientes, entram critérios como o foco em habitação e em inovação de soluções e serviços.

ESG no planejamento estratégico

O trabalho para atingir esse conjunto de resultados nos próximos oito anos não começa agora, apesar de só em 2022 a companhia ter o primeiro relatório de sustentabilidade. Ao longo dos 53 anos de existência, a empresa já tinha boas práticas estabelecidas, como ter sido a primeira empresa certificada pelo Programa Atuação Responsável da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), além de já ter processos de segurança de trabalho estabelecidos — no próximo mês a empresa vai completar um ano sem nenhum acidente — e contar com áreas de preservação ambiental.

A Unipar já tinha 1.000 hectares de preservação ambiental na Serra do Mar, além de áreas de reserva particular em Cubatão e investimentos sociais, esportivos, de educação e cultura no entorno das fábricas. Também já fazia reuso de água e destinação adequada de resíduos. 

O relatório vem muito mais para dar foco às novas iniciativas e organizar o que a empresa já fazia dentro dos critérios de sustentabilidade, sociais e de governança. De olho no futuro, a linha mestra que guiará os investimentos da empresa é a de fazer projetos que tenham alto impacto, que tragam retorno econômico e que estejam presentes no planejamento estratégico. “Têm de ser projetos autofinanciados. Porque senão vem uma crise, corta orçamento e as coisas não andam. Obviamente, teremos algumas iniciativas que não devem trazer retorno, mas o conjunto dos projetos tem de ser autossustentado. E tem de ter foco. Sustentabilidade não pode ser algo isolado da empresa, tem de estar próxima à estratégia da companhia”, diz Russomano.

Da teoria para a prática, a Unipar colocou pela primeira vez esse critério como um pilar para todos os novos projetos desenvolvidos pela empresa. Portanto, hoje, a empresa tem cinco tópicos que guiam sua estratégia de futuro, sendo os demais: crescimento sustentável, excelência operacional, competitividade e equipe e cultura. Para ficar ainda mais claro o que esse movimento significa que qualquer nova iniciativa de negócios terá de levar em consideração se vai trazer algum novo parâmetro de sustentabilidade companhia ou se vai evoluir o que já existe, levando a empresa para um novo patamar. 

Questionado a respeito de possíveis atrasos em novos projetos, uma vez que terão de levar esse critério em consideração pela primeira vez, Russomano assegura que as metas de crescimento permanecem. “Estamos em uma situação financeira muito boa, temos R$ 2 bilhões em caixa. Estamos obviamente em uma indústria cíclica. Viemos de um momento muito positivo, que junto com a empresa ‘redonda’ trouxe resultados excelentes. O que vemos até agora é que os juros altos impactam a construção civil e isso deve reduzir as nossas vendas no próximo ano. Mas continuamos com o compromisso de manter a empresa em sua rota de crescimento. Temos um capacidade muito boa de alavancagem. Conseguiríamos financiar do nosso próprio bolso todos esses projetos e nosso plano de expansão”, diz o executivo. 

Em 2021, ano-base para o relatório de sustentabilidade, a companhia faturou R$ 6,2 bilhões, aumento de 62% na comparação com 2020. Além disso, o Ebitda mais do que triplicou, para R$ 3,1 bilhões, com um lucro líquido de R$ 2 bilhões e geração de caixa de R$ 1,6 bilhão. Para chegar a esses resultados, foco em produtividade foi um fator-chave. No ano passado, a utilização média da capacidade instalada das plantas ficou em 78%, dois pontos percentuais acima de 2020. No segundo trimestre deste ano, os indicadores melhoraram ainda mais, superiores aos 80%, e o lucro líquido cresceu 118% na comparação anual, para R$ 540 milhões, reflexo do trabalho de aumento de produtividade em meio ao ‘boom’ de demanda.

"A Unipar está pronta para crescer e gerar ainda mais resultados, sempre embasada por uma análise de longo prazo, que permita identificar as melhores oportunidades para expansão de negócios próprios ou por meio de fusões e aquisições. Atualmente, temos recursos e estamos aptos a ampliar nossas operações nos próximos anos, sempre priorizando o crescimento sustentável dos negócios. O meu papel como controlador e de todo o conselho, em distâncias diferentes, é zelar pela governança e pelo cumprimento da estratégia de negócios", enfatiza Geyer.

De olho em 2050

Apesar de as metas da Unipar abrangerem principalmente os próximos oito anos da companhia, a empresa já tem bem clara uma visão a respeito do que quer atingir em longo prazo. Pensando em 2050, data definida pelo Acordo de Paris para que companhias zerem as emissões, a Unipar também já tem compromissos mapeados. Entre eles, estão: ser net zero, acelerar o acesso à água limpa e saneamento, entregar emissões de CO2 evitadas para os clientes, colocar em cascata os compromissos para a cadeia de fornecimento e permanecer (considerando que a meta de 2030 seja atingida) uma das referências de sustentabilidade da indústria química. 

“Não queríamos divulgar compromissos a serem cumpridos só daqui a 28 anos, porque não seríamos nós que estamos hoje na companhia a colocá-las em prática. Por isso criamos metas de 2025 e 2030, que obviamente estão alinhadas com a visão de longo prazo mas que podemos acompanhar e monitorar. A ideia é, daqui oito anos, estabelecer novas metas para 2035 e 2040. Não vou apenas jogar no ar e dizer que ‘em 2050 cumpriremos tais e tais resultados’. Nossa empresa é mais pé no chão. queremos que a equipe sinta desde o início a pressão e a responsabilidade para entregar o resultado. Isso nos traz mais robustez, reforça nossos objetivos e aumenta o engajamento”, diz Russomano.

 

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