Pela primeira vez nesta década os aportes em ETFs de ativos americanos com proteção cambial superaram aqueles sem hedge (Julia Kuznetsova/Getty Images)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 11h56.
Última atualização em 19 de setembro de 2025 às 12h14.
A tese de que o mundo entraria em um grande movimento de 'Sell America', com fuga de capital dos Estados Unidos em meio às atitudes intempestivas de Donald Trump, não se confirmou – vide as bolsas americanas nos maiores patamares históricos.
O que se vê nos fluxos mais recentes é algo mais sutil: o 'Hedge America'. Investidores globais continuam direcionando recursos para ações e títulos norte-americanos, mas cada vez mais recorrem a derivativos para se proteger da desvalorização do dólar.
Pela primeira vez nesta década os aportes em ETFs de ativos americanos com proteção cambial superaram aqueles sem hedge, mostra um levantamento do Deutsche Bank. Mais de 80% das entradas em fundos de ações nos EUA vieram na forma protegida, enquanto no mercado de renda fixa o percentual chegou a 50%, de acordo com nota do estrategista George Saravelos, chefe de pesquisa cambial do banco.
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Uma ampla análise publicada pela Bloomberg mostra que a guinada começou em abril, quando o presidente Donald Trump anunciou o novo pacote de tarifas que abalou bolsas e títulos americanos — e, de forma atípica, também o dólar.
Desde então, mesmo com a recuperação dos índices acionários, a moeda americana acumula queda de quase 9% em 2025, no pior desempenho semestral desde os anos 1970.
O movimento é de retroalimentação. As operações de hedge têm o efeito prático de ampliar a pressão vendedora sobre o dólar no mercado à vista, já que envolve a venda antecipada da moeda em contratos futuros.
Além disso, a expectativa de novos cortes de juros pelo Federal Reserve barateia o custo dessa proteção, que é atrelado em grande parte do diferencial de juros entre os países.
“Acredito que a maior parte do ajuste ainda está por vir”, disse Sahil Mahtani, diretor de pesquisa da gestora Ninety One, baseado em Londres.
Pelas suas contas, o volume de operações de hedge pode chegar a US$ 1 trilhão. Isso significaria apenas a volta ao mesmo nível de hedge que os investidores adotavam na década passada – justamente antes da apreciação do dólar e a grande valorização das ações americanas convencerem o mercado de que eles não precisavam de proteção.
Além do tarifaço, há outros fatores pesando na percepção do dólar. “Se há especulação que o Fed está estimulando a economia com cortes de custos por conta de pressão da Casa Branca, parece fazer sentido amar as ações americanas e a ponta longa da curva de juros, mas odiar o dólar”, disse Steven Barrow, estrategista do Standard Bank, ainda de acordo com a Bloomberg.
Como é difícil mensurar com precisão qual os percentuais efetivos de hedge, os analistas divergem sobre o ritmo da alta.
O Goldman Sachs, por exemplo, aponta para um ajuste mais pontual, já que o dólar começou o ano com uma combinação incomum, de alocações elevadas, mas baixas taxas de hedge. Há um consenso, contudo que o movimento está sendo puxado pelos fundos de pensão globais, que tendem a tomar decisões num ritmo lento, mas consistente.
Se isso se confirmar, o Hedge America ainda está apenas começando.