Pilão, CEO da Orizon: Venda de créditos de carbono deve acelerar este ano ( (Leandro Fonseca/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 11h18.
A Orizon chegou ao mercado em fevereiro de 2021, num IPO que não chamou tanta atenção em meio ao boom de novas entrantes na B3 na breve euforia do juros de um dígito baixo no Brasil.
A proposta era consolidar o mercado de aterros sanitários, extremamente fragmentado no Brasil e com um vento de cauda importante.
Além da ascensão da agenda ESG, o novo marco do saneamento prevê o fim dos lixões a céu aberto, para onde vão hoje 40% dos resíduos brasileiros, numa das estatísticas mais aterradoras de subdesenvolvimento.
Três anos e meio depois, boa parte das empresas se listaram naquela leva morreram na praia.
Mas a Orizon segue firme e forte, com uma valorização de 100% nas ações – a maior entre as listadas naquele ano na B3 –, e um crescimento de receita na casa dos 35% já contratado para os próximos anos, graças principalmente ao desenvolvimento de novos negócios que usam o lixo como matéria-prima. O destaque fica para o biometano, o substituto renovável do gás natural.
Neste episódio do videocast Vozes do Mercado, o CEO Milton Pilão conta a estratégia por trás da companhia que se provou uma das mais resilientes da bolsa, apesar da macroeconomia em vertigem.
“Criamos um negócio com perenidade, garantia de receita, num setor essencial e com um crescimento orgânico forte, que não é o normal para o setor de infraestrutura”, resume o executivo.
Após diversas aquisições, a Orizon saiu de cinco para dezessete aterros sanitários em todo o Brasil e hoje é o maior player do setor, com market share de 11% em termos de volume de resíduos – e planeja seguir com o plano de consolidação.
“Hoje, nossos aterros recebem 9 milhões de toneladas de resíduos e temos 4 milhões de toneladas em potenciais M&As sob diligência”, diz Pilão, fazendo a ressalva de que não há garantia de que essas transações progridam.
A prioridade, por ora, no entanto, está no crescimento orgânico, extraindo mais valor do mesmo resíduo que vai para os aterros. No terceiro trimestre, o volume de resíduos aumentou 5%, enquanto a receita aumentou 29% e o EBITDA, 70%, na comparação com o mesmo período de 2023.
“Somos uma empresa que não tem pressão por M&A porque o viés de crescimento orgânico que está contratado pelos próximos cinco anos multiplica a companhia em quatro, cinco vezes”, explica. “Dentro desses 4 milhões de toneladas, eu consigo escolher o que dá mais valor para o meu acionista.”
A prioridade total está em plantas de biometano, feito a partir do biogás que é um subproduto do lixo. A Orizon já tem R$ 1,2 bilhão em investimentos contratados para os próximos 24 meses para construir plantas do biocombustível em quatro de seus dezessete aterros – e quer escalar o plano para todo o portfólio.
A estratégia é sempre fechar contratos de venda de longo prazo para o biometano e usar o contrato para fazer o financiamento via project fiance.
“Esse mercado está maduro, os contratos estão aí. Eu não só tenho diversos contratos assinados, como devo ter a maioria dos contratos de biometano assinados nos próximos três a seis meses”, diz o executivo.
Numa conversa de uma hora, Pilão falou ainda sobre novas linhas de negócio dentro da Orizon, como a venda de créditos de carbono, que está começando a escalar. A previsão é de ter venda recorrente de créditos já a partir de 2025, uma linha de receita "carismática" que deve chegar a 7% do faturamento no longo prazo.
Com tantas opcionalidades – que incluem ainda reciclagem e fertilizantes –, o executivo trouxe ainda lições sobre como manter o foco e entregar resultados, a despeito do cenário externo. "Nossa cultura é uma cultura de entrega independente de fatores externos."