Projeção de Selic a 6,50% até o fim do ano é mais um atrativo para investidor migrar de ativo no país (Andrey Popov/Thinkstock)
Angela Bittencourt
Publicado em 15 de junho de 2021 às 14h26.
O real menos desvalorizado – mais perto de R$ 5 do que de R$ 6 – não está afugentando o investidor estrangeiro da Bolsa brasileira. Acelerando o ritmo de ingresso na B3 registrado a partir de abril, o estrangeiro injetou, em apenas 10 dias de junho, montante de recursos quase equivalente ao registrado em maio inteiro. Neste início de mês, R$ 12,099 bilhões chegaram ao mercado secundário de ações – resultado de R$ 130,959 bilhões em compras e R$ 118,860 bilhões em vendas. No mês passado, a colocação líquida foi de R$ 12,2 bilhões. Os dados são da B3.
Com esse resultado parcial de junho, no ano o aporte de estrangeiros no mercado secundário da B3 atinge R$ 43,380 bilhões. Considerando a participação desses investidores em ofertas iniciais ou subsequentes de ações, o ingresso acumulado no ano avança aproxima-se de R$ 47,3 bilhões.
Essa firme presença eleva a participação dos estrangeiros a 49,7% entre modalidades de investidores, a terceira melhor do ano. Em fevereiro, os estrangeiros bancaram 49,9% do total de negócios e, em março, eles responderam por 52%. Por tipo de investidor atuante no mercado de ações da B3, atrás dos estrangeiros estão os investidores institucionais (24,9%), pessoas físicas (20,3%), instituições financeiras (3,8%) e empresas (1,2%).
A perspectiva de mais um aumento da taxa Selic a 4,25% ao ano nesta quarta-feira, ao final da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), é outro atrativo aos investidores estrangeiros que, estando no país, podem remanejar recursos para outros ativos, migrando de ações para renda fixa em títulos do governo. Embora a Selic caminhe agora em junho para mais que o dobro do nível praticado em março, quando o BC retomou o aperto monetário, a aposta majoritária de bancos e consultorias é de elevação da taxa básica a 6,50% até dezembro – nível extraordinário se comparado aos juros praticados nas principais economias que seguem perto de zero.
Em abril, mostram as estatísticas mais recentes do Tesouro Nacional, os estrangeiros detinham R$ 472,95 bilhões em títulos federais denominados em reais e negociados no mercado interno, montante equivalente a 9,75% do total. E com a posição altamente concentrada (89,9%) em papéis com retorno prefixado. Apenas 5,9% da carteira dos estrangeiros estão atrelados a índices de preços e 3,8% a outro tipo de remuneração.
Outro fator nada desprezível na mobilização de estrangeiros, um ciclo de alta de juro como o atual no Brasil, que ainda deve prosseguir, aumenta a atratividade de prefixados de longo prazo que travam a rentabilidade da aplicação em patamares que talvez não sejam alcançados no futuro, sobretudo, se o BC for bem-sucedido na convergência da inflação para o centro da meta. Neste ano, a meta perseguida é de 3,75% e, em 2022, de 3,50%.
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