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Um IPO pode doer menos: Klarna enfrenta corte de 85% no valuation

Enquanto isso, no Brasil, fundadores que conseguiram ir para bolsa aproveitam queda no preço para recompor participação nas empresas

Bolha? Para captar dinheiro novo, sueca Klarna vê avaliação sair de US$ 45 bilhões para US$ 6,5 bilhões (Malte Mueller/Getty Images)

Bolha? Para captar dinheiro novo, sueca Klarna vê avaliação sair de US$ 45 bilhões para US$ 6,5 bilhões (Malte Mueller/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 12 de julho de 2022 às 11h40.

Última atualização em 12 de julho de 2022 às 13h06.

A Klarna deu um susto na indústria do venture capital e mostrou que não é preciso estar na Nasdaq ou qualquer outra bolsa para sentir a força do mau-humor dos investidores. Ser uma companhia privada não a protegeu dos temores sobre recessão, inflação e alta no custo do dinheiro que se abatem sobre as empresas listadas, avaliadas minuto a minuto.

A fintech sueca do buy now pay latter estava em busca de US$ 1 bilhão e havia sido avaliada em US$ 45 bilhões quatro anos atrás. Quando começou a farejar o mercado, já com o cenário mais azedo, as estimativas eram que poderia conseguir recursos avaliada em US$ 30 bilhões ou pouco menos.

Mas o corte foi muito mais dramático: os investidores entenderam que a companhia vale agora US$ 6,5 bilhões, ou seja, 85% menos. E isso para conseguir menos dinheiro que o pretendido, pois a captação ficou em US$ 800 milhões. Haja down round! Na lista de investidores, os já acionistas Sequoia e Silver Lake e os novos, CPP e Mubadala.

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Os down rounds são cruéis com os fundadores das empresas privadas, muito mais do que as quedas em bolsas. Contratos de investimento de startups contêm cláusulas que buscam dar proteção aos fundos e venture capital e, na maioria das vezes, são os fundadores que arcam com a maior diluição quando o negócio não se valoriza.

A tendência é que, no atual ambiente, as cláusulas fiquem cada vez mais duras, podendo colocar muitas empresas e seus acionistas originais em maus lençóis. Não será de se espantar que, para dar uma conta de um corte tão dramático, algumas companhias (desde que tenham as mínimas condições para isso) possam preferir ir direto para uma operação em bolsa, mesmo com o ambiente adverso. É só no mercado aberto que os contratos são “zerados” e os acionistas passam a ser todos iguais, em termos de direitos econômicos.

Na semana passada, a plataforma de música Deezer resolveu encarar o mesmo valuation que recusou há sete anos, de pouco mais de US$ 1 bilhão, para se tornar uma companhia aberta. O movimento foi um IPO às avessas, por meio da incorporação por um SPAC. E isso para levantar 60% menos do que pretendia em 2015. Colocou no caixa US$ 135 milhões.

Já fundadores de companhias que encararam um IPO antes da bolha estourar — para quem acredita que houve uma bolha — vivem um cenário totalmente diferente. Aqui, no Brasil, durante essa derrocada da bolsa, alguns fundadores que se diluíram com a abertura de capital, aproveitam a derrocada dos preços para recompor suas posições, ainda que não em uma só tacada.

Mais do quem uma recompra de ações, nas quais as empresas usam o caixa para sinalizar ao mercado o quanto os seus papéis estão baratos e são um bom investimento, o movimento aqui é de fundadores tirando dinheiro do próprio bolso para comprar mais ações de sua empresa.

No mês passado, Eduardo L’Hotellier, fundador e CEO da GetNinjas, ampliou sua participação na empresa para cerca de 17,5%. Quando estreou na bolsa, a empresa foi avaliada em R$ 1 bilhão e agora é negociada por R$ 130 milhões. Do IPO, L’Hotellier saiu com pouco mais de 14% da empresa. Desde então, vem comprando papéis e o maior movimento ocorreu em junho.

Mesmo não sendo uma startup, na Multilaser, parte da história é parecida. Alexandre Ostrowiecki, CEO e criador do negócio, teve sua fatia diluída de 51% para cerca de 39,5% na abertura de capital, em julho do ano passado, quando a empresa foi avaliada em R$ 9 bilhões. Agora, com a empresa valendo R$ 3,3 bilhões na B3, o empresário subiu sua fatia para cima dos 40%.

Quando o horizonte voltar a se acalmar, os fundadores de algumas empresas poderão pensar em captar novamente, com preços mais interessantes, e terão conseguido se proteger de novas diluições. Se o tempo não está bom para vender, tudo indica que está para comprar.

 

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