Eneva (Eneva/Divulgação)
Beatriz Correia
Publicado em 20 de abril de 2020 às 18h28.
Última atualização em 20 de abril de 2020 às 19h31.
A administração da AES Tietê está disposta a negociar com a Eneva uma oferta que possa atender ao melhor interesse de seus acionistas, para uma eventual combinação dos negócios. Essa é a promessa, um dia após ter negado uma oferta, na noite de domingo. "Vamos sentar com a Eneva e tentar trabalhar uma proposta que possa ser interessante para nosso acionista. Estamos apenas aguardando um sinal deles nessa direção, de que essa conversa pode acontecer”, afirmou Ítalo Tadeu de Carvalho Freitas Filho, presidente da companhia, em entrevista ao EXAME IN.
O conselho de administração da AES Tietê rejeitou ontem a oferta anunciada pela Eneva em 1º de março, que avaliava a empresa, na ocasião, em 6,6 bilhões reais – um prêmio de 13% sobre preço da bolsa. A proposta é para incorporação da Tietê e é composta por parcela do pagamento em dinheiro, 2,75 bilhões de reais, mais ações da Eneva. A cada unit da AES Tietê, o acionista recebe 6,89 reais mais 0,2305 ação ordinária da Eneva.
Hoje, Tadeu de Carvalho fez apresentação a investidores na qual passou todos os pontos da recusa. Conforme o EXAME IN apurou, a percepção de minoritários foi que a AES Tietê rejeitou a oferta e não ofereceu nada novo no lugar, apenas o compromisso de manter o que vem fazendo: uma administração focada em energia limpa, mercado livre e alta distribuição de dividendos.
O entendimento de alguns investidores é que a Tietê não precisou ser agressiva em novas “promessas” aos seus acionistas porque o prêmio da operação anunciada pela Eneva não é elevado. O assunto promete render discussão. Não está claro, até o momento, se a Eneva tem disposição para ampliar sua oferta – feita em ambiente pré-pandemia, onde o preço dos ativos era mais alto que o atual. Mas é o que os minoritários da AES Tietê gostariam de ver.
“Não tenho promessa de acelerar retorno para o acionista porque já faço tudo que pode ser feito para o melhor valor da companhia. Não estava trabalhando para esperar uma oferta hostil e, daí então, acelerar minha execução”, disse o presidente da Tietê, na entrevista.
Tadeu de Carvalho enfatizou diversas vezes o argumento que vem se tornando a bandeira da Tietê – o foco em energias renováveis, limpas, enquanto a Eneva tem parte importante da matriz em termelétricas e gás, ou seja, combustíveis fósseis. Para o executivo, isso, somado ao foco em mercado livre, faz com que o preço justo pelo negócio esteja “muito acima” do que a Eneva ofereceu.
O EXAME IN apurou que importantes acionistas da Eneva que já se tornaram acionistas da AES Tietê, após o anúncio da proposta, estão ampliando ainda mais sua participação, na tentativa de fazer a negociação ganhar tração. Parte deles teme que o discurso da AES Tietê de que tem planos de negociar seja “retórico”.
Tadeu de Carvalho foi enfático em afirmar que seu “dever e compromisso é gerar valor para o acionista da AES Tietê.”
O modelo societário usado pela Eneva dá amplos poderes aos investidores de mercado da companhia alvo. A oferta foi feita na forma de uma incorporação, que é matéria privativa da assembleia de acionistas. A Tietê é uma companhia listada no Nível 2 da B3, cujo regulamento determina que incorporação é pauta na qual os preferencialistas têm direito a voto. Ou seja, a participação majoritária da AES Corp. no capital votante da Tietê, acima de 61%, não lhe garante vitória, pois a fatia total no negócio é de apenas 24,3%.
Ao conselho de administração da AES Tietê cabe apenas uma recomendação, uma opinião sobre a transação. O colegiado – que rejeitou a oferta por unanimidade – entendeu que para essa proposta não convocará assembleia, a menos que os acionistas assim solicitem. Contudo, deixou claro que levaria à votação o que chamou em seu fato relevante de “oferta final” da Eneva. Dessa forma, há espaço para investidores de mercado que sozinhos ou em grupo tenham 5% do capital possam chamar uma assembleia para avaliar a proposta.
O grande fiel da balança do negócio é o BNDES, que possui 28,3% do capital total e até o momento não se pronunciou. O Exame IN publicou neste domingo informação que o banco de fomento recebeu uma proposta da AES Corp. por parte de suas ações na empresa brasileira. Não está claro qual será a linha de conduta da instituição diante dessa informação. Caso aceite vender à gigante americana controladora da Tietê, qualquer possibilidade de combinação com a Eneva termina.
Se a Eneva não retirar sua oferta da mesa, o tema promete esquentar bastante nos próximos dez dias – prazo oficial de validade da oferta apresentada em 1º de março.