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Um desfecho para a Natura&Co? A gestora interessada na Avon Internacional

Documentos do Chapter 11 da Avon mostram negociações com a IG4, de Paulo Mattos – que disse publicamente que mira uma aquisição de uma indústria de consumo no Reino Unido com atuação "em vários países da Europa"

Avon: Natura&Co apartou operação na América Latina, para dar foco à região que é seu core (Michal Fludra/Getty Images)

Avon: Natura&Co apartou operação na América Latina, para dar foco à região que é seu core (Michal Fludra/Getty Images)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 17h55.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2025 às 18h03.

Depois de um plano frustrado de internacionalização, a Natura&Co passou os últimos dois anos e meio revendo a rota: vendeu a Aesop, sua joia da coroa, e a The Body Shop e separou os ativos da Avon Internacional e da América Latina, para voltar a focar nessa última geografia.

O desfecho mais esperado para deixar para trás o capítulo da arrumação é a venda dos ativos internacionais da Avon, com sede no Reino Unido. É uma operação encrencada e altamente deficitária, que opera na Ásia e na Europa. Em meio às dúvidas sobre o processo, uma nota publicada hoje pela XP matou a charada sobre ao menos um interessado: a IG4, de Paulo Mattos.

Focada em ativos estressados, principalmente em infraestrutura – com a aposta na Iguá, de saneamento, como seu caso de vitrine –, a gestora está lançando um novo veículo de distressed voltado para o mercado internacional. Para isso, está trazendo para a casa Octávio Lopes, que já comandou a Light e a Equatorial.

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Em entrevista ao Pipeline, do Valor Econômico, Mattos e Lopes disseram hoje que a gestora “já tem uma negociação em exclusividade e em fase de diligência no Reino Unido, de uma indústria de consumo com atuação em dezenas de países na região.”

Foi a senha para a analista Danniela Eiger, da XP, unir os pontos. Em documentos de um acordo firmado no processo de Chapter 11 da operação internacional, divulgados em novembro, a IG4 já aparecia com uma potencial fonte de financiamento ou sócia.

“Portanto, acreditamos que a notícia sinaliza um potencial interesse da IG4 na API [operação internacional da Natura], fortalecendo nossa visão que a Natura&Co deve endereçar o futuro da Avon Internacional no primeiro semestre de 2025”, escreveu a analista, ponderando que não tem visibilidade exata sobre os alvos da IG4.

Logo após a divulgação da nota por volta das 15h30, as ações da Natura&Co mudaram de direção, passando de queda de mais de 2%, para uma máxima de mesma magnitude. As ações devolveram parte da valorização, mas operavam no azul próximo do fechamento, com alta de próxima de 1%.

Procurada pela reportagem, a IG4 disse que não ia comentar o assunto.

Não está claro qual é o formato em estudo com a IG4. A Natura&Co já havia sinalizado algumas possibilidades para a Avon Internacional, como o fechamento de operação em algumas geografias e a venda de outras operações, mais rentáveis. Uma solução pode passar pelo misto das duas opções.

No mercado, analistas têm se debruçado sobre o quanto poderia custar passar a régua.

Uma gestora com posição na companhia avalia que, no pior caso, para fechar todas as operações e ficar apenas com a unidade Latam, há apartada, a Natura&Co gastaria algo em torno dos US$ 250 milhões, próximo de R$ 1,5 bilhão.

Uma solução com venda parcial dos ativos poderia amenizar o prejuízo. De toda a forma, o consenso é que o desinvestimento ajudaria a estancar uma sangria e não deveria trazer caixa para dentro da companhia. Na reportagem do Pipeline, a IG4 afirma que vai assinar cheques de até US$ 100 milhões e que vai atuar na forma de club deals, trazendo recursos para operações em específico.

“É mais sobre passar a régua nesse assunto e dar mais visibilidade para a operação de Natura em Latam, que está indo muito bem”, pondera um analista. “É deixar o passado para trás e trazer uma história de crescimento para a frente, o que poucas empresas estão conseguindo entregar.”

A Natura&Co divulga seus resultados no próximo dia 13.

Há alguma expectativa sobre uma eventual distribuição de dividendos extraordinários. Após a venda de ativos, a companhia está com uma relação entre dívida líquida e EBITDA de 0,5 vez. Em teleconferência com analistas, a direção da companhia sinalizou que vê espaço para levar esse índice para 1,5 vez.

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