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Um ano de governo Lula: o que pensa o mercado financeiro?

Pesquisa da casa de análises políticas Fatto mostra otimismo com Haddad e pessimismo ainda latente com Lula

 (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)

(Ricardo Stuckert / PR/Flickr)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 7 de dezembro de 2023 às 17h15.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 15h44.

Desconfiança de Lula, confiança em Haddad e uma percepção regular sobre o trabalho do Congresso. É assim que o mercado financeiro vê o novo governo, 12 meses depois de seu início, de acordo com uma pesquisa realizada pela casa de análises políticas Fatto, enviada com exclusividade ao EXAME In. As impressões foram coletadas a partir de 32 entrevistas realizadas com bancos, gestoras e corretoras entre os dias 27 de novembro e 1º de dezembro. 

O histórico do governo Dilma — mais precisamente, da "nova matriz econômica" — e do próprio PT pesa na avaliação do mercado sobre o presidente. Antes mesmo de Lula assumir, apenas 6,3% dos entrevistados o tinha como preferência para o cargo. Doze meses depois, mais da metade o avalia como ruim ou péssimo (respectivamente, 46,9% e 6,3%).

A principal 'dor' tem a ver com a disciplina fiscal: hoje, 71% dos participantes considera o governo irresponsável nesse quesito.

“Há muita confusão sobre o que é pauta do Lula, do governo e do PT. São coisas diferentes e o mercado tende a colocar numa mesma caixa. De um modo geral, há um contraponto entre o presidente e um grupo formado por Lira, Pacheco e, recentemente, Haddad. São pessoas que já demonstraram apreço por uma pauta pró-mercado”, diz Bernardo Livramento, analista da Fatto e coautor do estudo.

Essa dinâmica fica clara também de forma quantitativa. Apesar de o mercado criticar o fiscal, 56,2% dos entrevistados avalia Haddad como bom ou ótimo, 31,3% como regular e apenas 12,5% como ruim.

Ao serem questionados sobre três personalidades de destaque no ministério, o nome do ministro foi uma unanimidade, com 84,4% das respostas — sem nenhum secretário se aproximar desse percentual.

Ampliando a visão sobre o trabalho do ministério, há diferenças sobre a percepção das medidas arrecadatórias. Entre os agentes do mercado financeiro que lidam mais com o macro, há maior aprovação (25% consideram o trabalho bom) e, entre os que trabalham com o micro, há maior reprovação (28,1% consideram o trabalho péssimo).

Uma unanimidade, entretanto, é a reforma tributária, que teve uma nota média maior do que a do arcabouço fiscal e maior do que a da gestão fiscal do governo. Um ponto que também se reflete na popularidade de Bernard Appy.

O secretário aparece atrás de Haddad na lista de destaques do ministério, com 68,4% dos votos, refletindo os avanços atuais e o conhecimento sobre o tema desde que a PEC 45 foi apresentada em 2019.

Congresso

Saindo do Executivo para o Legislativo, mais da metade dos entrevistados (56,3%) avalia como regular o trabalho do Congresso Nacional. "Há uma confusão conceitual sobre a postura do Congresso [revelada nas respostas qualitativas]: se é liberal, conservador ou fisiológico", diz o estudo.

Alguns pontos mencionados nas respostas têm a ver com a PEC de transição, um ponto negativo na visão do mercado, sob o ponto de vista de que abriu espaço para um gasto maior nesse ano — além de ter sido aprovada no governo anterior, fator também levado em consideração nas análises. Para o mercado, o Congresso deu aval para aumentar gastos com a PEC de forma rápida e na hora de compensar isso com aumento de receita, demorou mais. 

Além disso, soma-se uma expectativa de que o Congresso conseguiria fazer uma reforma administrativa sozinho, cortando gastos. É um fator que não deixou de existir, com acompanhamento constante da eleição dos presidentes da Câmara e do Senado.

"Um cenário provável, em nossa avaliação, que é a eleição de Marcos Pereira na presidência da Câmara e Davi Alcolumbre na presidência do Senado, é bem-visto por uma parte considerável dos entrevistados, razão pela qual a avaliação do Congresso Nacional dificilmente fugirá do 'regular' em curto e médio prazo", diz o estudo.

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