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Tudo pronto para crescer: Iguá tem R$ 500 mi, sócio novo e metas ESG

Companhia assina aporte do CPPI e anuncia plano estratégico com metas de sustentabilidade para curto e longo prazo

Rosane Santos, diretora de sustentabilidade da Iguá: plano com execução e metas transversais (Iguá/Divulgação)

Rosane Santos, diretora de sustentabilidade da Iguá: plano com execução e metas transversais (Iguá/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 22 de março de 2021 às 17h25.

Última atualização em 22 de março de 2021 às 19h02.

A companhia de saneamento Iguá, controlada pelo fundo IG4, de Paulo Mattos, está  pronta para pensar só em crescimento. E os planos não são pequenos: incluem a participação em leilões de privatização, os grandes, e ainda potenciais aquisições. A companhia concluiu ontem, dia 21, uma capitalização de R$ 514 milhões pelo Canada Pension Plan Investments (CPPI). A transação toda é da ordem de R$ 1,1 bilhão, pois a gestora também comprará as ações detidas pelo fundo Cyan e ainda desmontará um derivativo detido pelo Bradesco. Daqui para a frente é só futuro, passado resolvido.

A lista de sócios está completa e eles veem a Iguá com potencial para ser a maior operação privada do setor no Brasil. Não por acaso, foi a escolha do CPPI.

Menos de quatro anos se passaram desde que, em julho de 2017, o então recém-lançado IG4 assumiu a antiga CAB Ambiental em um processo de reorganização de dívida e agora a companhia já organizou, além dos compromissos, sua estrutura de acionistas com nomes parrudos, e também sua governança e cultura. Esta segunda-feira, dia 21, marca dois movimentos importantes.

Não se trata mais de virar a página. Mas sim de um novo livro.

Hoje, no dia Mundial da Água, o próprio objeto social da companhia, a Iguá também tornou público a inclusão do SERR em seu planejamento estratégico. Trata-se da atualização do plano de sustentabilidade, para que a companhia seja referência no setor na percepção dos fatores ESG — ambientais, sociais e de governança. Os fatores ESG são temática central para os acionistas, para além da própria atividade. A IG4, por exemplo, é a única gestora de private equity brasileira que é uma “companhia B”.

Rosane Santos, que assumiu como diretora de sustentabilidade da Iguá em outubro do ano passado, conta em entrevista ao EXAME In que, para dosar todas as três letrinhas, a companhia decidiu se nortear pela combinação dos padrões internacionais do Sustentability Accouting Standars Board (Sasb), da Global Reporting Initiative (GRI) e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. “Cada um acaba sendo complementar ao outro, nas diversas frentes”, explica a executiva.

O plano SERR tem quatro pilares, cujas iniciais resultam em sua identidade: Segurança Hídrica; Eficiência na produção e distribuição de água; Responsabilidade na coleta e tratamento de esgoto; e Respeito às pessoas.

O desenvolvimento incluiu diversas metas, tanto técnicas, do setor, quanto gerais: o compromisso público com a universalização do saneamento em suas áreas até 2030 e, alcançando uma pegada neutra de carbono, mais a ampliação da presença de mulheres em cargos de liderança dos atuais 23% para 45% e a presença de negros em toda a organização para 50% até 2025.

A atual injeção de recursos feita pelo CCPI traz recursos para os investimentos em curso, mas muito mais: a disposição de novos aportes para passos importantes. O objetivo, portanto, é que o plano SERR, por ser transversal para todas as áreas da companhia, seja levado às novas operações.

Fôlego para novidades, não falta. Além do CPPI, a empresa tem outro fundo canadense, a AIMCo (Alberta Investment Management Corporation) como grande acionista. Juntos, eles têm quase 85% da empresa. O controle é exercido pela IG4, que concentra as participações e também tem recursos próprios aplicados. A gestora fundada por Mattos foi diluída, mas mantém uma fatia de 5% de uma empresa maior e menos alavancada.

Conforme a governança antecipada pelo EXAME In em janeiro, com a entrada da CPPI, a Iguá foi avaliada em R$ 2 bilhões pré-capitalização e R$ 2,5 bilhões pós-aporte de recursos. Ao total colocado pelo novo sócio, é possível que a BNDESPar — que tem 11% do negócio — adicione mais recursos para acompanhar a operação e não ser diluída, o que tem potencial para elevar a entrada de caixa total a quase R$ 580 milhões.

A Iguá opera em 37 cidades, distribuídas em cinco estados — São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Alagoas — por meio de 14 concessões e quatro parcerias público-privadas (PPPs). São 6 mil quilômetros de rede de abastecimento de água e quase 4 mil, de coleta de esgoto para tratamento. Essa estrutura atende um total superior a 6 milhões de pessoas.

Com a transação, a dívida líquida deve ser reduzida dos atuais R$ 1,4 bilhão para R$ 870 milhões, o que fará a alavancagem cair dos atuais 4,4 vezes o Ebitda acumulado em 12 meses para 2,8 vezes — sem considerar eventual participação da BNDESPar. Em 2020, de acordo com estimativas de mercado, a Iguá teve receita líquida entre R$ 700 milhões e R$ 750 milhões e Ebitda superior a R$ 300 milhões.

Com esses indicadores, a Iguá se torna a companhia privada de saneamento, altamente intensivo em capital, com os melhores índices de saúde financeira, à frente de Aegea e da própria BRK, controlada pela Brookfield. Na visão de um especialista, com o novo grupo de sócios, a empresa está hoje pronta para ser uma consolidadora e investir até mesmo sobre a própria BRK — que há menos de três anos tentou comprar a Iguá.

A assinatura do acordo com a CPPI interrompe os planos de curto prazo de uma oferta pública inicial (IPO). Mas listar a Iguá na B3 continua sendo um projeto e até um compromisso com o BNDES. O prazo para tanto foi renovado para que sejam feitos os melhores esforços para uma operação nos próximos três anos, portanto, meados de 2024.

O dinheiro novo entra na empresa tão logo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) dê o aval ao negócio, que será avaliado por rito sumário.

Enquanto isso, Bradesco BBI e o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) trabalham para estruturar a participação da Iguá no leilão da carioca Cedae, cujos quatro blocos que serão colocados à venda podem movimentar um mínimo de R$ 10 bilhões — há interesse por todos eles. Além disso, também a companhia também vai avaliar a Corsan, do Rio Grande do Sul.

Conforme o EXAME In apurou, a Iguá já assegurou todo capital que precisa para Cedae, em uma composição de novos aportes de recursos pelos sócios e financiamento. A companhia fechou, em fevereiro, a mais longa linha de crédito de seus vencimentos: R$ 134,3 milhões, com a Caixa, em um prazo de 22 anos. Desde 2017, quando a reestruturação financeira teve início, a empresa obteve mais de R$ 1,3 bilhão em crédito.

O plano SERR não apenas alinha a companhia às práticas ESG como também torna a operação mais eficiente, o que tende a melhorar também seus indicadores financeiros. Até 2025, a empresa vai implantar um plano de aproveitamento hídrico para todos os mananciais de abastecimento, e planeja ampliar para 75% a aplicação do lodo de esgoto na agricultura, e ainda atingir um índice de qualidade de esgoto (IQE) de 100% em todas as estações a partir de 2022 — no ano passado foi de 86,4%, com meta de 92,5% para 2021.

Quando questionada sobre os ganhos ou economias para a Iguá com esse planejamento, Rosane destacou que estão distribuídos por toda a operação e que uma ação ESG guiada apenas por esse olhar econômico estaria ultrapassada em relação às melhores práticas. "Medir esse diferencial é um desafio para todos. Mas ninguém questiona sua existência, que vai desde um prêmio na percepção do valor do negócio até uma maior eficiência operacional."

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