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‘Trump Tractor’ traz recado para Brasília – mas, no mercado, quem manda é o fluxo

Expectativa de ajuste fiscal faz preço, mas comportamento com a vitória de republicano parece mostrar que gringo já viu o fundo para ativos brasileiros

No Brasil, Trump Trade não fez o preço que o mercado imaginava

No Brasil, Trump Trade não fez o preço que o mercado imaginava

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 15h42.

Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 15h56.

O ‘Trump Tractor’, ou a vitória com mais vantagem que o esperado de Donald Trump, nos Estados Unidos, definitivamente não é uma boa notícia para mercados emergentes.

A tese do America Great Again deve turbinar a economia americana e transformá-la num aspirador ainda mais potente de liquidez do restante do mundo.

Mas o comportamento dos ativos brasileiros no dia de hoje mostra uma leitura um tanto contraintuitiva.

O dólar chegou a bater alta de 2% no começo do dia contra o real e alcançou R$ 5,86, mas logo deu uma pirueta. Por volta das 16h, sobe 1,4%, superando o peso mexicano e a lira turca que também inverteram o sinal e se valorizam neste momento.

Da mesma forma, o Ibovespa chegou a cair 1,5%, mas agora está próximo à estabilidade. A curva longa de juros, já pressionada, também não esticou – pelo contrário, fechou.

Há uma leitura doméstica: a expectativa que o resultado das urnas americanas traga um recado potente para o governo, que terá que dar sinais mais efetivos em relação ao ajuste fiscal para conter a desvalorização do dólar e fazer uma guinada mais ao centro.

“O governo está vendo esta vitória, com o dólar estruturalmente mais forte podendo impactar o real e a inflação. Portanto, tem uma necessidade maior de vir com algo mais crível do lado dos gastos”, resume um gestor de ações com ampla experiência no mercado.

“Nesse sentido, seria um ponto positivo não terem anunciado nada antes e esperado a vitória do Trump.”

Mais que essa leitura, no entanto, há um ponto relevante: com juros já esticados e o real bastante desvalorizado, ficou barato demais para os investidores de mais longo prazo finalmente entrarem e arbitrarem.

“O gringo estava em compasso de espera olhando se ia haver uma disparada muito grande no câmbio. Não teve. Ele olha: 13,5% com câmbio perto de R$ 5,90 sem muita volatilidade e entra. O fluxo importa”, pondera o CIO de um grande fundo de ações local.

Com a Bolsa barata e bons resultados na temporada de balanços, há investidores internacionais já olhando para cá com mais atenção. A BlackRock, por exemplo, vinha aumentando posição em Brasil, segundo fontes próximas à empresa.

Outro ponto: nos últimos meses, os institucionais locais tinham construído uma posição vendida em índice Bovespa futuro para hedgear sua exposição em bolsa à véspera da eleição, que foi parcialmente desmontada hoje, dando mais fôlego à alta.

“O técnico estava muito, muito leve”, resume um gestor de multimercados.

2026 é agora

O resultado dos Estados Unidos também antecipa nas mesas aquele que deve ser o trade para o próximo ano: a eleição presidencial de 2026 no Brasil.

“O resultado pode causar alguma dor de curto prazo, porém achei que é algo bullish, no sentido de que empurrará o governo para o centro e para a responsabilidade. Além de consolidar o cenário de centro-direita para 2026”, escreveu em post no Linkedin o CIO da TAG Investimentos, André Leite.

Nos últimos meses, os ativos de risco brasileiro vêm operando em compasso de espera, na expectativa de um risk on caso se desenhe a possibilidade de vitória de algum candidato mais alinhado à austeridade fiscal e uma agenda pró-empresas na próxima eleição presidencial no Brasil.

Uma candidatura de Tarcísio de Freitas, hoje governador de São Paulo, especialmente depois da vitória de seus candidatos e da centro-direita nas eleições municipais, é algo que anima a maior parte dos investidores.

Há quem especule ainda que Jair Bolsonaro possa voltar a se tornar elegível, com o PT entendendo que o antagonismo de Lula em relação a ele seja sua maior possibilidade de vitória.

A questão é que é possível fazer duas leituras a partir dos resultados nos Estados Unidos.

“O governo pode entender que precisa de austeridade fiscal e ir para a direção certa. Ou aposta que a esquerda precisa entregar o que prometeu, acenar para a base e dobra a aposta, aumentando gastos antes do período eleitoral”, afirma um dos gestores.

Passada a incerteza sobre o cenário eleitoral nos Estados Unidos, o Brasil barato no cenário global, por sua vez, começar a fazer algum preço.

Mas se o efeito Trump não atrapalhou, também não ajuda – e uma Bolsa mais forte, juros efetivamente mais baixos e um real mais apreciado precisam de uma ajudinha de Brasília.

E que o ajuste fiscal efetivo vá além de um wishful thinking.

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