Corrida no Ibirapuera: Track&Field aposta em fortalecimento de marca ao propagar estilo de vida saudável (Amanda Perobelli/Reuters)
Graziella Valenti
Publicado em 27 de outubro de 2020 às 01h48.
Última atualização em 27 de outubro de 2020 às 16h35.
Com a oferta pública inicial na B3, a rede de moda fitness Track&Field ganhou uma nova e relevante acionista: a gestora de recursos Brasil Capital, que tem entre seus sócios-gestores André Ribeiro, ex-Bradesco Templeton e ex-Fama, Ary Zanetta e Bruno Baptistella, ambos ex-Hedging Griffo. A casa assumiu uma posição de 18,5% do total de ações preferenciais da companhia de moda fitness — as únicas colocadas em circulação no mercado.
A posição equivale a 1,4% do capital total da empresa e a 8,37% de participação econômica no negócio. Na prática, significa que a Brasil Capital investiu 123,6 milhões de reais na empresa fundada pelo trio de amigos Frederico Wagner, Ricardo Rosset e Alberto Azevedo há 32 anos — ou o equivalente a 24% da oferta de ações. Foi, portanto, uma das protagonistas do sucesso da colocação.
As ações da Track&Field saíram por 9,25 reais no IPO — abaixo do piso do intervalo sugerido que ia de 10,65 reais a 14,95 reais. Com a operação, que movimentou 523 milhões de reais, a empresa colocou mais de 78% das ações preferenciais em circulação no mercado. Os papéis estrearam nesta segunda-feira, 26, no pregão da bolsa e fecharam estáveis.
A história da companhia, que foi avaliada em 1,5 bilhão de reais para sua estreia no mercado, é diferente da média dos IPOs realizados na B3 neste ano. A empresa chega com uma marca e um negócio consolidados ao longo do tempo: são 234 lojas espalhadas pelo Brasil (37 próprias e as demais em modelo de franquia). A marca registrou vendas de quase 470 milhões de reais no ano passado.
Apesar de listada no Nível 2 de governança corporativa, aderiu a todas as regras do Novo Mercado — exceto a formação do capital exclusivamente por ações ordinárias. Ao listar suas ações na bolsa, a Track&Field deu mais um passo em direção à perenização do negócio, objetivo principal do movimento.
A empresa não ofereceu aos investidores nenhum projeto que prometa um crescimento exponencial. Ao contrário, veio com uma narrativa de expansão orgânica, onde a visão do trio de fundadores é tão relevante que adotaram um modelo societário de super-preferenciais, mesmo sem nenhuma restrição regulatória. O plano estratégico é o fortalecimento da marca por meio da propagação de um estilo de vida “ativo e saudável” e uma expansão regional seletiva e organizada, além do desenvolvimento acelerado da estratégia digital.
A companhia vem desenvolvendo uma nova frente de atuação com eventos de bem-estar, com destaque para corridas de rua. Foram 162 eventos no ano passado, com 135 mil inscritos. Neste ano, com o mundo ‘preso’ devido à pandemia, a Track&Field realizou 391 eventos, quando consideradas as mais de 370 aulas online em seu hub de conteúdo.
O sucesso do IPO da Track&Field não era nada óbvio, na visão de muitos investidores: uma empresa de médio porte, que terá uma liquidez comedida e que vendeu ações preferenciais — sem aderir ao Novo Mercado, portanto. Mas a longevidade da companhia, o retorno da operação e a experiência dos acionistas contou a favor. Cada ação preferencial da Track&Field recebe 10 vezes o valor do dividendo da ordinária. Portanto, 1 ação preferencial equivale a uma participação econômica de 10 ações ordinárias no negócio. E dividendo é o nome do jogo nessa história — diferentemente do setor aéreo, onde o super dividendo não chega nunca porque são empresas com enormes desafios de lucratividade.
A Track&Field chegou à bolsa com uma posição de caixa líquido de 56,5 milhões de reais — ou seja, dívida não é uma questão. Esse cenário é fruto da lucratividade e estabilidade do empreendimento, que em 2019 teve receita líquida de 276 milhões de reais e lucro líquido de 52 milhões, uma invejável margem líquida de 19%, ante 15% e 14% nos anos anteriores.
A Brasil Capital é uma gestora com mais de 7 bilhões de reais em ativos sob gestão e cuja filosofia de investimentos é centrada no fundamento dos negócios e na participação ativa no desenvolvimento das boas práticas de governança. A casa integra os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) em seu processo de análise para investimentos e tem no setor de consumo uma aposta histórica — em setembro, esse segmento respondia por 23% do portfólio. Entre as posições de destaque dos fundos estão Natura &Co, Magazine Luiza, Centauro, Unidas, Energisa e Yduqs, conforme a carta dos gestores divulgadas sobre o terceiro trimestre.