Zak: solução nasceu dentro da Mimic, dark kitchen dedicada ao delivery de restaurantes médios (Zak/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 10 de novembro de 2021 às 06h58.
Última atualização em 10 de novembro de 2021 às 23h03.
A Zak, empresa de tecnologia que une sistemas de gestão e de pagamento para restaurantes, nem bem nasceu e já conquistou de sócio ninguém menos do que aquela que se tornou uma das maiores estrelas do venture-capital, a gestora Tiger. A companhia acaba de encerrar sua rodada série A e levantar R$ 80 milhões, em uma capitalização liderada pelo fundo americano, junto com Valor Capital, Monashees, Canary e Base 10.
Nesse caso, a presença da Tiger traz mais do que o selo de escolha. Traz um quentíssimo IPO realizado nos Estados Unidos, a Toast, com modelo bastante semelhante à empresa brasileira. Com uma base de 50 mil restaurantes, a investida da Tiger foi avaliada em mais de US$ 20 bilhões para a oferta pública inicial realizada em setembro. Passado pouco mais de um mês da listagem, seu valor já subiu 50%: vale pouco mais US$ 30 bilhões na Nyse.
A criação da Zak foi meio sem querer. Não era para ser um negócio exatamente. Em 2019, os dois melhores amigos equatorianos, David Grandes e Andres Andrade, egressos da economia digital, e ainda Marina Lima, ex-Pátria, queriam empoderar os restaurantes.
Viram na profissionalização da gestão de segmento uma oportunidade. Pensaram em fazer isso criando uma companhia de dark kitchens que operariam o sistema de delivery de algumas cadeias médias de restaurantes. Nasceu, então, a Mimic.
As coisas iam bem. Enquanto isso, desenvolviam soluções de integração e gestão para serem usadas internamente, no cuidado das cozinhas e na união matriz, market-place, cliente, produção. Então, veio a pandemia. Foi quando o trio se deu conta que o prato principal da Mimic não era nem a comida, nem a cozinha, era a tecnologia de gestão. “Os restaurantes não tinham sistemas para se organizar”, comenta Andres Andrade, co-fundador e co-presidente da Zak, em entrevista ao EXAME IN.
O boca-a-boca no setor se espalhou tão rapidamente que, em pouco mais de um ano, a novata já atende mais de 400 unidades de restaurantes, de aproximadamente 100 bandeiras, com nomes importantes como Ráscal, Nakka e Makoto, entre outros. “Nosso cliente, tem em média entre três e quatro lojas”, comenta Marina, a mulher com os números na ponta da língua.
Hoje, a Zak movimenta por mês R$ 100 milhões, sendo 90% disso em São Paulo. Esse seria o equivalente ao seu GMV, a sigla que de forma simples é a soma de tudo que é vendido. Ou seja, pelo menos, R$ 1,2 bilhão em refeições.
Com a capitalização, o plano, conforme contou Grandes, é dobrar o time da empresa, atualmente em 170 profissionais. O foco das contratações, claro, são profissionais da engenharia. “Dinheiro hoje é commodity. Estamos muito focados nessa questão dos profissionais, do time”, enfatiza Andrade.
Em 12 meses, a expectativa da Zak é ter dominado todas as capitais do país e movimentar quase R$ 400 milhões ao mês, o que levaria a um GMV de quase R$ 5 bilhões em 2022. “Em dois anos, queremos nos preparar para o mercado internacional. Gostamos muito do México”, afirma Marina.
O modelo para fazer dinheiro da Zak é ganhar na parte financeira, transacional. A empresa atua como subadquirente e também financia desconto de recebíveis para alguns clientes. Por enquanto, isso é feito com recursos próprios, mas o objetivo é encontrar parceiros.
O mercado de médios restaurantes — e de pequenos — ainda é muito mal atendido, na visão dos sócios. O grande diferencial que eles entendem ter é justamente a integração de plataforma, os softwares de gestão que unem todo o processo, da cozinha ao pagamento da refeição. “Hoje, os restaurantes têm de lidar com uma colcha de retalhos de prestadores de serviços. Temos casos de clientes que reduziram custo de mão de obra em 30%, porque não precisa mais de funcionários integrando manualmente os sistemas”, destaca Grandes.
Toda essa organização digital do negócio, bem como caminhos para o restaurante vender online sozinho ou ser integrado a plataformas como iFood e Rappi, tem custo zero para o cliente. “Por causa disso, temos um churn muito baixo na parte de pagamentos”, enfatiza Andrades. E a Mimic? Bom, a empresa breço deve ser vendida para uma rede que hoje é cliente, pois o entendimento é que os negócios devem ficar totalmente separados.
Quem é o concorrente aqui no Brasil? Por enquanto, não tem. O mais próximo que o trio considera é a combinação Linx e Stone. Porém, não qualificam como “competidores”. Ninguém tem produto específico e dedicado para restaurante, que nasceu dentro de um, dizem ele. São ofertas de sistemas mais generalistas para o varejo.
Agora, a Zak vai correr. Faz bem. O plano da Toast é a internacionalização. E pensar em um mercado com 210 milhões de habitantes e há décadas subatendido não deve ser nenhuma reinvenção da roda.
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