Ramires Paiva e Leandro Moura, fundadores da Tiba: uma só solução de software para o varejo, muitas fontes de receita para o negócio (Tiba/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 10h34.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2022 às 10h37.
A história da digitalização de processos internos e gestão tinha até agora deixado as pequenas empresas fora da festa, inclusive porque começou com grandes nomes internacionais como prestadores de serviço. Companhias nacionais de softwares começaram a desenvolver produtos locais principalmente a partir do ano 2.000. Assim, o pequeno empresário ainda tem, muitas vezes, que fazer suas contas no excel — e quando muito. Essa realidade está pouco a pouco se modificando. Com esse espaço ainda como um oceano azul a ser explorado, Leandro Moura e Ramires Paiva fundaram a Tiba. O registro de funcionamento da companhia saiu nos últimos dias de 2021, mas a companhia já levantou R$ 23 milhões em capital semente com as gestoras Canary e Global Founders Capital (GFC).
A existência dessa lacuna no mercado é tão gritante que os investidores prontamente entenderam o projeto e os sócios puderam aproveitar o grande momento de liquidez para capital de risco, que tem inundado empreendedores de oportunidades.
Os recursos serão usados em tecnologia e na aceleração de contratações, que começaram a ser feitas em janeiro. A proposta da companhia é o desenvolvimento de softwares completos para gestão, que cuidam desde a contabilidade (um desafio para esses empresários), passando por estoques, contas a pagar e receber e até folha de pagamentos. O setor escolhido para começar o negócio foi o varejo, mas mais à frente eles pretendem partir para outras frentes também.
Na visão de ambos, algumas empresas de maior porte estão adaptando suas soluções para tentar chegar mais perto desse público. Essa é uma rota que visivelmente Totvs e Stone (agora com Linx) estão traçando. A questão para eles é que as soluções carregam um legado que, na verdade, foi pensado para companhias maiores ou então vieram de aquisições que ainda precisam ser integradas. “Existem soluções para pequenas empresas muito boas, mas nunca todas juntas e as plataformas não se conversam.”
A expectativa deles é que os clientes atendidos, com suporte na gestão e tempo para se dedicar ao negócio, consigam ter um aumento de vendas entre 20% e 30%, com uma melhor atenção ao estoque e suprimentos.
Por enquanto, a companhia não está em fase operacional. O produto deve chegar ao mercado ao longo dos próximos dois meses, para engatar os primeiros clientes ao sistema — o esforço de relacionamento já existe, pois fez parte inclusive da pesquisa para criação da empresa. O motivo é tempo para estrear com tudo pronto e não em fases, pois esse agregado é maior carência. “Acreditamos que se chegarmos com tudo já desenvolvido vamos ganhar escala muito mais rapidamente que os competidores que oferecem soluções pontuais”, afirma Moura, que além de fundador é COO da Tiba, em entrevista ao EXAME IN.
Antes de colocar a Tiba de pé, os sócios, que têm experiência em contabilidade, produtos financeiros e varejo, inclusive fora do Brasil, eles não só testaram as soluções da concorrência como também viajaram para buscar locais com um varejo tão pulverizado quanto o brasileiro e gostaram muito de encontrar propostas semelhantes funcionando bem em países como Índia, Indonésia, Vietnã e Nigéria, além da América Latina. “São locais muito diferentes, mas o drama do pequeno varejo é sempre muito parecido”, destaca Paiva, que é CEO do negócio.
Embora o ponto de largada da Tiba seja software, o modelo de negócios prevê ganho principalmente com linhas de crédito, na verdade, para esse empresário, com uma atuação de bank as a service. “Esse empreendedor está sempre apertado, basicamente com desconto de cartão”, diz Paiva. A ligação entre software, redução de custo e crescimento está justamente no dinheiro. “O que não falta hoje são recursos nas fintechs que querem chegar até esse cliente, mas muitas vezes o empresário não está preparado para acessar esse crédito”, completa o CEO.
A trajetória que a Tiba vai propor como solução é de adoção do software, e de cara uma eficiência em custo, para então vir crescimento e crédito associados. A monetização do modelo de negócios pelo crédito — e outras soluções que devem vir ao reboque — tanto é o foco que, no início, a solução de gestão será oferecida em uma versão free, ou seja, de graça. “Precisamos colocar para rodar um modelo com grande base e alta eficiência em dados”, enfatiza Paiva.
Esse é o maior desafio da Tiba na largada: nascer com um porte que consiga provar sua razão de ser. Os sócios, contudo, estão confiantes no sucesso da proposta, tanto que muito rapidamente conseguiram fazer uma rodada de capital semente. A série A, inclusive, já está sendo programada para ocorrer dentro de 12 a 18 meses e com conversas em andamento.
No modelo criado por Paiva e Moura, há diversas verticais de negócios que surgem a partir da organização do pequeno varejo. Uma delas, por exemplo, é usar a sua base de dados — que em seu agregado e não individualmente — pode ser vendida para a grande indústria se relacionar melhor com os varejos pequeno. Em geral, esse mercado varejista extremamente pulverizado responde por cerca de 70% das vendas de grandes marcas como Ambev e Coca-cola, as mais organizadas nesse atendimento, e gigantes como Unilever, Danone e tantas outras. A maioria da indústria atua com distribuidores e perdem o detalhe da penetração a partir dessa ponta. "Mas, para indústria, a melhor margem está nos menores clientes e isso ainda não está bem estruturado", afirma Moura.
Na explicação dos fundadores, de um lado um varejista perde porque não consegue ver que o vizinho do lado tem preços melhores e negocia em posição de vantagem. Do outro, a indústria não consegue ter visibilidade desses pequenos, porque não existe nem mesmo a organização interna para isso.
Com escala para crédito eficiente e soluções de dados para indústria, a Tiba vai conseguir ter clareza sobre a monetização de software. Nesse momento, eles sabem que esses ganhos já são suficientes para a operação. A crença deles é que tendo ganhos com crédito e com a indústria, o produto de gestão para o pequeno vai poder ter um custo muito final muito mais interessante e agregar mais benefícios.
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