Sergio Silva, Eduardo Duarte e Mariana Fenelon: o trio de crédito privado da Tenax (Foto: Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 4 de março de 2024 às 07h10.
A Tenax Capital nasceu há dois anos depois de uma longa gestação do projeto por uma equipe de gestores renomados no mercado: Alexandre Silverio, Rodrigo Mello, Cassiano Ciampone, Sergio Silva, Vinicius Fukushiro e Adriano Thiago.
O foco é ter um portfólio de poucos produtos, mas assertivos, divididos inicialmente em macro (renda fixa) e ações (renda variável). Num momento de incerteza no mercado e de dificuldades aprimoradas pela alta da Selic, a gestora foi uma das quatro selecionadas pelo programa Rising Stars, do Itaú e recebeu R$ 200 milhões para começar.
Agora, com R$ 1,3 bilhão sob gestão, está entrando em uma nova seara, a do crédito privado.
A gestora lança no mercado o Tenax RFA Incentivado, produto de renda fixa que visa entregar uma rentabilidade de CDI+2% ao ano, liquidação do resgate em D+30 e taxa de administração de 1,0%.
Está disponível na plataforma de investimentos do Itaú, Íon e BTG Pactual e deve ingressar nas demais corretoras ao longo dos próximos meses.
O foco é fazer uma gestão ativa de uma carteira de ativos de crédito privado, títulos públicos e derivativos de juros, no Brasil e no exterior. A estratégia passa pela construção de uma carteira diversificada de ativos de debêntures de infraestrutura no Brasil, o que garante a isenção tributária do produto para investidores pessoa física.
“Toda vez que a gente ia para a prancheta e idealizava como a Tenax ia crescer ao longo do tempo, idealizamos uma casa multiestratégia, que nasceria com duas delas já muito bem definidas, graças a uma equipe que já trabalhava junto há muito tempo. Mas sempre esteve muito claro para nós que o crédito privado poderia fazer parte como composição de portfólio, à medida que a empresa fosse evoluindo e tivéssemos capacidade de estruturar produtos como esses, investindo inclusive em pessoas”, diz Alexandre Silverio, CEO da Tenax Capital.
O caminho para o primeiro fundo de crédito começou a ser traçado no primeiro semestre de 2022, quando a gestora contratou Eduardo Duarte, que tem mais de 30 anos de experiência na área.
Com muito cuidado, a casa começou a aumentar a quantidade de ativos sob gestão dentro das carteiras que permitiam crédito em seus mandatos, o Tenax Macro (macro multimercado) e o Tenax Total Returno, um long bias de retorno absoluto.
“Começamos isso de uma maneira muito cuidadosa, olhando principalmente para ativos high grade no início. Pouquíssimos ativos, focados em crédito bancário e em debêntures corporativas. Fomos aumentando essa carteira ao longo dos últimos três trimestres e aceleramos após o caso de stress no primeiro trimestre de 2023 [quando os prêmios se comprimiram depois dos eventos Light e Americanas]. Ali enxergamos a oportunidade de aumentar a carteira, mas sabíamos que o próximo passo era criar um produto”, diz Silverio.
De olho nessa missão, a gestora trouxe para dentro de casa neste ano a gestora Mariana Fenelon, com sete anos de experiência na Inter Asset para fazer dupla com Duarte. (Silverio tem uma clara preferência por duplas em todas as áreas da gestora).
O novo fundo nasce como o primeiro da casa com a maior parte da alocação destinada ao crédito privado, mas com uma “pimenta” de macroeconomia.
“A maioria das casas se posiciona de duas formas. A primeira, de fundos completamente passivos, que fazem 100% do hedge através de DAP [contrato derivativo normalmente usado para proteção contra flutuações da taxa de juro real] para que possam ter benchmarking em CDI. E a segunda, de fundos que seguem o benchmarking de índices como o IMA-B, também com exposição a juros real. Vimos espaço para fazer algo diferente”, diz Fenelon.
A partir da análise dos diferentes momentos do mercado, comportamento dos spreads de crédito (a remuneração dos títulos em relação aos índices de referência) e até a própria curva de juros real, a Tenax vê um potencial de fazer isso de forma ativa.
Além disso, conta ponto a volatilidade do mercado de crédito privado. “Em momentos em que os spreads fecham demais, a gente vê casas tendo que tomar muito risco de crédito ou alongar muito as debêntures para poder justificar o resultado. Isso não vai ser necessário. Vamos buscar retorno adicional a partir do risco de mercado, não do risco de crédito”, diz Fenelon.
No frigir dos ovos, o objetivo da Tenax é fazer com que o fundo consiga navegar bem em diferentes momentos do mercado, mesmo quando os spreads estiverem mais justos, com o objetivo de manter um equilíbrio de risco do fundo.
A Tenax monta o fundo de infraestrutura em um momento aquecido para as debêntures incentivadas. Após a resolução recente do CMN que restringiu o uso de outros instrumentos incentivados, como LCAa, LCIs, CRAs e CRIs, os spreads ficaram comprimidos – ou seja, o preço dos títulos subiu.
Nesse cenário, a Tenax aproveita o momento para estruturar o fundo com cautela, dentro do que é permitido por lei. O fundo não precisa nascer com a maior parte da alocação em debêntures incentivadas.
Nos primeiros seis meses, pode ficar até zerado nessa classe de ativos. Depois desse período, tem de subir a alocação para dois terços do fundo (proporção que pode permanecer até o fundo completar dois anos). Após esse período, é necessário alcançar 85%.
“Apesar de ter essa flexibilidade, vamos respeitar o mandato de infraestrutura. O fundo vai nascer com as teses de investimento atreladas ao setor, com a habitual concentração setorial com que os investidores já estão acostumados. Isso vem desde o dia 1. Vamos poder comprar debêntures não isentas, por exemplo, e aguardar um pouco essa acomodação do mercado com novas emissões que vão seguir com o pipeline aquecido”, diz Fenelon.