Temer: se um ministro “piscava feio para outro”, os chamava para uma conversa e as diferenças não iam parar na imprensa (Divulgação/ Brazil Conference)
Repórter Exame IN
Publicado em 12 de abril de 2025 às 12h39.
Última atualização em 12 de abril de 2025 às 13h42.
Cambridge, Massachusetts* -- O ex-presidente da República Michel Temer (MDB) afirmou neste sábado, 12, que um dos desafios do governo Lula são “as divergências internas”, que estariam se sobrepondo às decisões econômicas.
Em painel de abertura da Brazil Conference, evento que reúne a comunidade brasileira em Harvard, o medebista disse ver “certa dificuldade” do atual mandato do petista. “No problema econômico, sem embargo do esforço do ministro Haddad, eu vejo que há muita divergência interna com o governo. Confesso que no meu governo não havia essa divergência”, afirmou.
Segundo ele, se um ministro “piscava feio para outro”, ele os chamava para uma conversa e as diferenças não iam parar na imprensa.
“Neste momento, o que há é isto. Seja em função do partido, seja em função do ministério, há muita divergência. Isto causa uma certa instabilidade, porque o povo quer segurança, e a segurança decorre do exemplo, muitas vezes, que o governo dá.”
O ex-presidente, que ocupou o cargo de maio de 2016 até o fim de 2018, enxerga, porém, espaço para o governo se recuperar. A desaprovação do trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cresceu e atingiu o seu pior patamar desde o início do governo, segundo a pesquisa Genial/Quaest divulgada no começo de abril.
“Estas coisas são extremamente transitórias. Ora, o governo vai mal, de repente se recupera e vai bem. E eu tenho absoluta convicção de que, até o final do governo, também a economia prevalecerá. Agora, existe uma coisa que se chama credibilidade. É preciso que a economia vá bem, mas que tenha credibilidade.”
O ex-presidente falou a uma plateia lotada especialmente de estudantes brasileiros nos Estados Unidos e arrancou risadas da audiência ao afirmar que, embora sua popularidade fosse baixa quando presidente, ela aumentou após o fim de seu mandato. De acordo com ele, a impopularidade o ajudou a cumprir agendas de menor apelo popular, mas de impacto econômico, como a reforma trabalhista.
Em um “conselho” ao governo para lidar com o presidente americano Donald Trump, Temer reiterou a importância de “seguir” a Constituição. “A relação não é de Donald Trump com Luiz Inácio Lula da Silva. A relação é entre o presidente da República Federativa do Brasil com o presidente dos Estados Unidos da América. É uma relação, portanto, institucional. As pessoas têm que ter consciência disso”, disse.
De acordo com o medebista, o que pauta as relações hoje universais entre os Estados é o aspecto comercial, que deve prevalecer em meio às incertezas geopolíticas criadas após o anúncio de tarifas de Donald Trump.
“O aumento das tarifas começa a criar um problema. Seguramente, o presidente dos Estados Unidos deve ter um objetivo. Mas, nos primeiros momentos, cria uma agitação, como foi nos mercados. Também é função do governante com a sua fala e a sua conduta dar ideia de um certo equilíbrio.”
*A jornalista viajou a convite da Brazil Conference