Christian Gebara, presidente da Telefônica Vivo: "nenhum setor investe tanto quanto o nosso, disputamos com petróleo." (Leandro Fonseca/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 26 de novembro de 2021 às 11h35.
Última atualização em 26 de novembro de 2021 às 11h42.
A Telefônica Vivo (VIVT3) está gradualmente ampliando a abertura de dados da formação da sua receita. O objetivo é simples. Mostrar que a companhia, conhecida como uma operadora de telefonia, é tão ou mais tech que diversas empresas que são exclusivamente techs. Portanto, deveria incorporar em sua avaliação de mercado esse potencial.
No balanço do terceiro trimestre, a empresa informou que a receita líquida de seus serviços digitais alcançou R$ 1,9 bilhão até setembro, em um acumulado de 12 meses, o que já representa 20% do segmento de empresas. Nessa linha estão serviços de cloud, cibersegurança, internet das coisas (IoT), big data, mensageria, venda e aluguel de equipamentos de tecnologia.
O crescimento dessa frente ocorre em um ritmo muito mais acelerado dentro da empresa do que diversos outros negócios. Nesse período destacado pela companhia, a expansão foi de 35%.
“Existem empresa especializadas nesses serviços que ainda não alcançaram esse tamanho”, destaca Christian Gebara, presidente da Telefônica Vivo, em entrevista exclusiva ao EXAME IN. “E isso ainda não está refletido no nosso valor de mercado.”
A companhia, que caminha para terminar 2021 com uma receita líquida próxima de R$ 45 bilhões, é avaliada na B3 a R$ 86 bilhões. Esse valor equivale a um múltiplo de 4,6 vezes o Ebitda estimado para o próximo ano. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a Telefônica Vivo teve um Ebitda de R$ 14,1 bilhões, com margem de 43,3%, após expansão de quase 9%.
No universo digital, muitas companhias são avaliadas por múltiplos relacionados à receita porque sequer chegaram ainda à fase de ter geração de caixa positiva. Por essa lógica, seria como dizer que a Telefônica Vivo é negociada a menos de 2 vezes sua receita.
A Globant, por exemplo, negocia na Nyse a um valor de empresa, preço de bolsa mais dívida líquida, equivalente a 9 vezes a receita estimada para 2022, cujo consenso Bloomber aponta para R$ 8,7 bilhões, após conversão para reais. A brasileira Locaweb, a primeira empresa digital com pinta de startup a abrir capital, gira no pregão a 9,6 vezes nessa mesma base, e sua receita para o ano que vem, sem considerar novas aquisições, deve ser de R$ 1,15 bilhão. A Vtex, que recentemente também se listou em Wall Street, vale nada menos de 19 vezes a receita projetada para 2022, que deve ficar ainda abaixo de R$ 900 milhões.
Como se não bastasse o tamanho que já possui, o futuro é de aumento no ritmo desse mercado. Mais uma vez, o motivo é simples.
Gebara acredita que o 5G vai acelerar ainda mais essa frente de serviços digitais, pois o grande diferencial que essa tecnologia vai permitir é justamente uma redução de latência (o gap de tempo entre a informação ser gerada, enviada e transmitida até o destino final) que vai tornar muito mais eficientes as aplicações de internet das coisas, a comunicação máquina a máquina.
A latência máxima do 5G é ainda inferior ao tempo de resposta do próprio ser humano, explica o presidente da Telefônica Vivo. Além da velocidade maior, também haverá muito mais eficiência para manutenção de diversos dispositivos conectados ao mesmo tempo.
Por isso, a companhia vai ampliar cada vez mais a transparência desse tipo de informação. “Cada vez mais, vamos começar a dar indicadores e contar esses negócios de madeira separada. No ano que vem, vamos abrir mais”, diz o executivo. Esse avanço também vai ocorrer nas soluções adotadas pelos consumidores finais, como, por exemplo, as casas inteligentes. A expectativa é que a empresa também passe a fornecer ao mercado dados sobre serviços digitais para os consumidores.
Assim que a tecnologia estiver aplicada e disseminada, o que vai mudar primeiro não é o que as pessoas fazem pelo celular, nem como, mas as aplicações que surgirão a partir da nova eficiência. “Tudo que necessidade de muita precisão vai ser potencializado”, destaca Gebara, e lembra das necessidades dos veículos autônomos, das cirurgias robotizadas, e das soluções para o agronegócio.
Mais aplicações, modelo mais flexível
A Telefônica Vivo, para não citar a matriz espanhola, é um colosso e sabe disso. Por isso, além do avanço nos serviços digitais, Gebara prevê novas frentes de negócios, mas que serão feitos no formato de joint-venture, onde haverá um parceiro especializado. Em outubro, por exemplo, uma frente em educação foi anunciada em sociedade com a Ânima Educação. Dessa forma, a empresa obtém muito mais agilidade e aumenta substancialmente a chance de sucessos nas novas atividades.
“Com essa flexibilidade, esses negócios terão marca, gestão e até valor separado. Acreditamos muito nessa construção de ecossistema.” A Telefônica Vivo tem hoje a maior infraestrutura de rede do país, com fibra passada em 18 milhões de casas e a previsão é que esse total alcance 29 milhões ao final de 2024.
Hoje, essa conexão está bastante concentrada em sua área de atuação de origem, que é o Estado de São Paulo, mas a empresa anunciou planos para a expansão fora desse perímetro. A companhia fez uma joint-venture com o fundo canadense Caisse de dépôt et placement du Québec (CDPQ), que vai aportar R$ 1,8 bilhão por 50% do negócio, já para investimentos. A empresa recebeu o nome de FiBrasil.
As parcerias, portanto, não serão exclusivas para novas modalidades de negócio. O core business também ganha celeridade. O futuro exige um ritmo e um formato mais moldável. Por isso, Gebara acredita que outras modalidades e mesmo a contratação de capacidade de outras teles devem surgir, inclusive para o 5G.
“O leilão trouxe uma abertura e deixou muito clara a mudança de modelo para o setor. Várias empresas vieram, além de provedores locais também participaram companhias que serão dedicadas à venda de atacado”. A empresa já tem experiência nesse modelo. Há um grande contrato de compartilhamento da rede de acesso com a TIM para 4G, e com potencial de ser ampliado.
Apesar dessas alternativas todas disponíveis, a Telefônica Vivo não deixou de garantir desde já suas necessidades. A companhia investiu R$ 1,1 bilhão na compra de frequências, e haverá mais investimentos bilionários muito maiores que esse gasto associados. Há R$ 3,5 bilhões já conhecidos em obrigatoriedades, mas muitas definições ainda estão sendo detalhadas e negociadas, o que fará esse total subir.
Há muitos anos seguidos, a Telefônica Vivo investe cerca de R$ 8 bilhões por ano no Brasil. E mesmo assim, a companhia se mantém, com mais caixa do que dívida. É isso mesmo. A empresa tem caixa excedente, para além dos compromissos financeiros, em total superior a R$ 7 bilhões, conforme o fechamento do balanço de setembro.
Em 2019, o montante do investimento chegou a R$ 9 bilhões para expansão da fibra e, no ano passado, o volume foi afetado pela pandemia, mas ainda assim ficou acima de R$ 7 bilhões. “Daqui para frente vamos seguir em uma média dentro desse intervalo.”
Aqui, cabe ressaltar que, além de uma base de clientes de fibra significativa e de uma forte atuação no mercado corporativo, o grupo espanhol tem a melhor e mais saudável base de usuários de clientes móveis — mais pós-pagos e maior receita média mensal por cliente.
Gebara explicou que o 5G, além do pagamento da outorga, não provocará aumento no investimento médio anual porque os desembolsos para fibra foram antecipados e, além disso, há a sociedade com os canadenses. Dessa forma, a distribuição dos recursos investidos vai mudar, com foco maior no 5G daqui para frente. Os investimentos em 3G e 4G vão diminuir, gradualmente.
“Nenhum setor investe tanto quanto o nosso. Disputamos com petróleo, mas em geral investimos mais que saneamento. Deveríamos ser considerado um grande vetor de infraestrutura.” Com essa mistura de infraestrutura e tech, a Telefônica Vivo mantém sua saúde financeira, é destaque da operação global, e ainda é uma das maiores pagadoras de dividendos da bolsa brasileira.
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