Fintech de Antonio Brito, Daniel Shteyn e Rômulo Coutinho (da esquerda para a direita) atende classes C e D e “non prime” (Divulgação/Divulgação)
Angela Bittencourt
Publicado em 17 de setembro de 2021 às 07h43.
Última atualização em 17 de setembro de 2021 às 10h09.
Se no altar um “sim” é o bastante para selar compromisso com aliança no dedo, imagine o que não faz um “super sim”. Foi com essa intenção – de aprovação firme – que três experientes especialistas em crédito criaram a SuperSim, de microcrédito voltada para as classes C e D. Dois anos após o primeiro empréstimo concedido, Antonio Brito, Daniel Shteyn e Rômulo Coutinho, fundadores e sócios na fintech, têm a comemorar a adesão de um time de primeiríssima linha ao negócio. Por meio de um FIDC, Fundo de Investimento de Direito Creditório, Itaú Asset, Itaú BBA, Franklin Templeton, XP, Verde Asset, Tera e Navi aportam R$ 136 milhões para financiar as operações de crédito da SuperSim.
Esse é o segundo veículo de crédito estruturado em menos de dois anos, mas em modelos diferentes.
Em 2020, a fintech levantou R$ 30 milhões numa operação de securitização, liderada pela Navi, gestora de ações e fundos imobiliários. Anteriormente, a SuperSim também havia levantado recursos de equity com Al Goldstein, criador das fintechs americanas Enova e Avant, Bruno Balduccini, advogado do escritório Pinheiro Neto e o fundo de venture capital Distrito Ventures.
“Pretendíamos, inicialmente, captar R$ 100 milhões via FIDC, mas o valor foi revisado para R$ 136 milhões em função do crescimento acelerado das nossas operações e ao apetite dos investidores trazidos pelas instituições, afirma ao EXAME IN, Antonio Brito, CEO da SuperSim.
“Em dois anos de operação, nossa base de tomadores registrou crescimento mensal de 20% a 25%. Conquistamos uma posição única no mercado por escala, rentabilidade e diferenciação de produtos. O resultado positivo acabou corroborado pela constituição do FIDC que lançamos com investidores de renome e em um processo muito exigente para investimento. A operação confirma que estamos no caminho certo”, diz Brito.
A Milenio Capital, dos sócios Gustavo Ahrends e Fabrizzio Marchetti, é responsável pela estruturação e gestão do FIDC. Os recursos serão destinados integralmente à carteira de crédito, que deverá encerrar 2021 com crescimento de 1.200% em relação a 2020. Apenas em julho deste ano, a SuperSim recebeu cerca de 520 mil solicitações de empréstimos, informa Brito.
Daniel Shteyn, chairman da SuperSim, e Antonio Brito participaram da criação da primeira plataforma de crédito 100% online no Brasil, lançada pela Enova em 2013. Três anos depois, Brito deixou a Enova para atuar na empresa global de crédito ID Finance e Shteyn tornou-se cofundador da Rebel – origem da Open Co em dobradinha com a fintech Geru.
Em 2019, os dois executivos somaram forças com Rômulo Coutinho, também egresso da Rebel e, atualmente, CTO da SuperSim.
A sólida experiência dos três cofundadores da SuperSim em crédito online – que utiliza inteligência artificial e alta tecnologia em seu modelo – tornou-se passaporte para um voo mais alto: emprestar dinheiro à população desbancarizada e carente de informações financeiras.
Shteyn relata que, em 2012, quando liderava as operações internacionais da Enova, se perguntava como um país da dimensão geográfica e relevância econômica como o Brasil – conhecido como a sétima maior economia do mundo – não tinha absolutamente nenhum mecanismo de crédito para atender à população que pode ser chamada de “non prime”, composta por trabalhadores das classes C e D e com alguma renda.
Nesse cenário, comenta o executivo, o mercado apresentou duas oportunidades de negócio: a necessidade de formação de preço condizente ao risco de crédito para as classes A e B; e a inclusão financeira de desbancarizados.
“No Brasil, as classes A e B são bancarizadas e, portanto, têm crédito, mas o custo não reflete o risco oferecido. Esse público paga taxa de juro cobradas de clientes ‘non prime’. A Rebel e a Geru atuam nesse nicho. Oferecem crédito a juros menores. Nossa ideia, na SuperSim, é ir além da taxa de juro. Nosso foco é a parcela da população que sofre por não ter oferta de crédito e, portanto, não ter acesso a produtos bancários como crédito pessoal, cheque especial ou cartões”, afirma Shteyn.
A fintech, que tem em celulares um instrumento de garantia das operações e apoio contra inadimplência, oferece pequenos empréstimos, de até R$ 2.500,00, e vem construindo um histórico de bons pagadores. Em caso de inadimplência, o celular é travado para uso, o tomador terá acesso somente a chamadas de emergência, e o aparelho é desbloqueado automaticamente quando o pagamento da fatura em aberto for efetuado.
O crédito com essa garantia é concedido aos tomadores mais arriscados, negativados ou que dispõem de poucas informações a apresentar à fintech que também oferece crédito sem garantia.
“O tomador tem uma possibilidade de mostrar sua capacidade de pagamento. Pretendemos também, em um prazo de 24 a 36 meses, assessorar esses tomadores para que evoluam para a contratação de um empréstimo ‘prime’. Dessa forma, ele poderá migrar para instituições maiores – com mais capital e a custos menores – que poderá oferecer mais crédito e também em condições melhores”, diz Shteyn.
Ele destaca que a SuperSim está amparada em três pilares: escala, rentabilidade e promoção de um bem social. “Escala porque, sem ela, o negócio não é relevante e nossa meta é alcançar 10% do mercado nacional de crédito em dois anos; rentabilidade porque somos empreendedores, sim, mas não acreditamos em crescimento a qualquer preço e queremos crescimento rentável e sustentável; bem estar social porque acreditamos que podemos ajudar e assessorar dezenas de milhões de brasileiros.”
Em entrevista ao EXAME IN, Daniel Shteyn esclarece que a esperada evolução financeira dos clientes da SuperSim não pressupõe ascensão social. “Não sabemos se o tomador vai subir socialmente. E o nosso papel não é promover essa escalada. Promover crescimento social no Brasil vai além do nosso papel que é o de avaliar o risco de crédito melhor do que ninguém no mercado brasileiro e dar uma chance de inclusão financeira para a parcela da população que é mal atendida pelo mercado e pelos seus participantes atuais. Cabe aos tomadores decidir seu futuro a partir da melhoria financeira. Nós podemos colaborar é com essa melhoria.”
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