Stone: esforço para recuperar rentabilidade com alta nas taxas cobradas de clientes (Stone/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 18 de março de 2022 às 18h15.
Última atualização em 18 de março de 2022 às 18h18.
Depois de a Stone ter perdido quase 90% de seu valor de mercado, era difícil imaginar como existiam ainda tantos investidores que viam espaço para apostas negativas com as ações da companhia de meio de pagamentos e softwares. Mas a escalada desta sexta-feira, após o balanço do quarto trimestre de 2021, não deixa muitas dúvidas.
As ações sustentaram alta forte desde a abertura e terminaram o dia com valorização pouco acima de 42%, em US$ 13,65. O valor de mercado da empresa deu um salto de mais de US$ 1 bilhão e fechou o pregão em US$ 4,2 bilhões. Embora os números de 2021 tenham agradado pelo crescimento, o que bateu mesmo forte foi medo do futuro. Mas como isso pode fazer o preço das ações subir?
É o que acontece quando existem muito “vendidos” no papel, que ganham com os preços na bolsa em queda. Houve uma corrida para cobertura das posições, com receio de prejuízo nessa aposta. A força da alta poderia ser compreendida como uma mudança de humor dos investidores em relação à companhia, que sofre desde que foi com muita sede ao pote no mercado de crédito e teve perda relevante com falhas na execução da estratégia, agravadas por problemas na plataforma de registro de recebíveis de cartão (aguardada como uma revolução no mercado).
A receita líquida da Stone alcançou R$ 1,9 bilhões no intervalo de outubro a dezembro, uma expansão de 87%. O crescimento, porém, não foi suficiente para a companhia voltar à lucratividade que já apresentou no passado. Os custos com serviços subiram mais de 200% e quase alcançaram R$ 650 milhões. As despesas financeiras, com o aumento no custo do dinheiro, tiveram alta de 972%, para R$ 989 milhões. Com impacto sofrido pelas perdas com investimento no Banco Inter, a última linha do balanço ficou negativa em mais de R$ 800 milhões. Descontado esse efeito e realizados alguns ajustes, o prejuízo se transformaria em um lucro líquido de R$ 33,7 milhões — mas ainda muito distante dos quase R$ 360 milhões de lucro que teve em igual período de 2020.
A forte alta de hoje, portanto, ainda não é vista como uma mudança na percepção do negócio. Por enquanto, ela foi considerada mais um ajuste técnico de mercado provocado, principalmente, pela fala de Thiago Piau, presidente da empresa. O executivo deu sinais de que os números do primeiro trimestre serão melhores, em especial porque o take rate começou a se recuperar. Desde novembro, a companhia vem passando aos clientes um aumento nas taxas cobradas. Ao longo do ano passado, a empresa privilegiou expansão e retenção de base com taxas mais competitivas.
Como o mês de março está avançado e o primeiro trimestre praticamente fechado, o entendimento dos investidores é que notícias positivas podem estar próximas. Há sim sinais positivos, só que o ceticismo com a Stone ainda segue. Uma mudança mais relevante de avaliação vai demandar recorrência de acertos. Em especial porque a Stone, na Nasdaq, vive praticamente três crises: a de excesso de concorrência no segmento, a das techs e a sua própria, com a questão no crédito. Para se ter uma ideia do trabalho pela frente, a máxima da ação em 52 semanas foi US$ 71,08 e a mínima, de US$ 8,05.
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