Gonzalo Blanco e Mafalda Barros, fundadores da Quansa: sócios se conheceram na consultoria McKinsey e decidiram empreender juntos em 2020 (Quansa/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 28 de julho de 2021 às 08h00.
Última atualização em 28 de julho de 2021 às 10h34.
Até onde as empresas estão dispostas a ir para atrair e reter talentos? Os departamentos de recursos humanos perceberam que não dá para ficar só no combo de vale alimentação e transporte para conseguir contratar bons profissionais. Hoje, as empresas apostam em benefícios flexíveis, serviços de terapia, atividade física e até mesmo meditação para melhorar o relacionamento com funcionários. De olho nesse movimento, a startup Quansa foi criada em 2020 para mostrar que há um aspecto central da vida dos empregados que as empresas não podem ignorar: a saúde financeira.
Como um “Gympass das finanças”, a startup oferece aos funcionários de empresas clientes uma solução de educação financeira. “A Quansa é uma empresa de tecnologia feita para ajudar as pessoas a usar melhor os próprios recursos sem colocar um peso extra sobre elas”, diz a cofundadora Mafalda Barros em entrevista ao EXAME IN.
Para impulsionar sua operação no Brasil, que começou em junho deste ano, a companhia acaba de captar uma rodada seed de US$ 3,6 milhões, liderada pelo fundo americano Valor Capital Group e com a participação dos fundos Pear VC, Canary, Norte, Magma e Sequoia Scouts (iniciativa da Sequoia em que as startups investidas pelo fundo indicam novos empreendedores), além de investidores-anjo como Ariel Lambrecht (99), Mariana Dias e Bruna Guimarães (Gupy), Maurício Feldman (Volanty), e Mada Seghete (Branch Metrics).
“A Quansa está resolvendo a dor de muitas pessoas e de um jeito que não as atrapalha mais. Vemos algumas companhias nos Estados Unidos fazendo o mesmo, como a Brightside, mas não acredito que seja um problema isolado daqui ou do Brasil. Essa companhia pode ser grande na América Latina toda”, afirma Antoine Colaço, sócio da Valor Capital, ao EXAME IN.
A startup foi idealizada pela portuguesa Mafalda Barros e pelo uruguaio Gonzalo Blanco já de olho no mercado brasileiro. Os dois se conheceram na consultoria McKinsey há cinco anos e decidiram trabalhar juntos em torno de um projeto de impacto. Primeiro, tentaram fundar uma ONG para ajudar pequenas empresas com gestão, mas logo perceberam que o projeto não teria escala suficiente para chegar a milhares de pessoas. Em 2018, partiram para um MBA na universidade de Stanford, nos Estados Unidos, onde se dedicaram à construção do projeto da Quansa.
“Segundo o IBGE, há hoje 68 milhões de brasileiros que ganham até R$ 2.300 e que têm algum tipo de dificuldade financeira para pagar suas contas e sair de situações de endividamento'', diz Barros. Esses problemas no orçamento doméstico são uma fonte constante de estresse que acaba se refletindo na capacidade dos funcionários de focar no trabalho. A situação, que já não era ideal antes da pandemia, piorou com a chegada dela. Pesquisa de 2021 da consultoria PwC sobre saúde financeira dos funcionários mostra que 63% dos americanos está mais estressado financeiramente que antes da crise da covid-19.
A proposta da Quansa, então, é ajudar funcionários de grandes empresas a gerir melhor sua saúde financeira sem necessariamente oferecer crédito. “Algumas fintechs trabalham nesse mercado, mas o modelo mais frequente é o de dívida, que tem um conflito de interesses inerente. No caso da Quansa, somos obcecados em ter incentivos alinhados com o RH e também com o usuário final”, diz Blanco.
Em um primeiro momento, a Quansa trabalha com um modelo digital, via aplicativo, que consegue mapear a situação financeira e as metas orçamentárias de cada pessoa para definir um plano de ação. "Tão importante quanto ter acesso a mais recursos, é aprender a usá-los de forma responsável. Por isso, ensinamos os usuários a organizar as suas contas, entender produtos financeiros, dar os primeiros passos na poupança e, claro, como gastar melhor", afirma Barros.
A startup não vende produtos de crédito nos seus planos, mas pode indicar algumas opções de financiamento quando for necessário para o cliente. A única solução financeira própria que ela oferece é a possibilidade dos funcionários adiantarem o salário dos dias trabalhados no mês sem custos adicionais. "Não é um adiantamento e nem empréstimo, é o pagamento do século XXI - e tem sido uma ferramenta essencial de organização financeira para os nossos usuários”, diz a cofundadora.
Antes de se lançar no Brasil, a Quansa começou a operar no Chile para validar o modelo de negócio e hoje já tem mais de 2.000 funcionários usando a solução. A meta da companhia é chegar até o final de 2022 com 100.000 pessoas beneficiadas pelo seu produto. Para isso, a equipe de cerca de 10 pessoas da startup deve dobrar de tamanho até dezembro, com contratações especialmente nas áreas de tecnologia e atendimento ao cliente.
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