Daryl Akamine, Breno Fortuna e Bruno Batalha, da Gank: a rodada foi liderada pelo Canary e com a participação do Global Founders Capital (GFC) (Keiny Andrade/Gank/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 21 de setembro de 2021 às 06h00.
O icônico caso de short squeeze envolvendo as ações da GameStop, em janeiro deste ano, deu frutos no Brasil: inspirado pelo movimento dos traders americanos organizados em fóruns online, o empreendedor brasileiro Breno Fortuna decidiu criar no Brasil uma plataforma de investimentos com ares de rede social. Inspirada nas comunidades gamers, a Gank foi fundada em março deste ano e captou um aporte de R$ 8 milhões, liderado pelo Canary e com participação do Global Founders Capital (GFC), para tirar sua operação do papel.
Fortuna não é novato no mundo de tecnologia, muito menos no de investimentos. O empreendedor, que trabalhou no banco Rothschild e na startup de dark kitchens Mimic, começou a investir em ações aos 12 anos de idade após pegar emprestado na estante do pai o livro “Faça Fortuna com Ações”, de Décio Bazin. Na época, em 2006, conseguiu triplicar os R$ 1.000 iniciais e decidiu que queria continuar no mundo das finanças — anos depois, se formou em administração na FGV.
A ideia de empreender só veio em janeiro deste ano, ao acompanhar de perto o movimento que alavancou as ações da GameStop. Dentro do fórum do Reddit em que os traders organizaram a ação, Fortuna percebeu o potencial das comunidades de investimento. “80% da jornada do pequeno investidor se dá nas redes sociais, acompanhando influenciadores no Instagram ou participando de grupos no WhatsApp e Telegram. Então, com a Gank, queremos ajudar esse cara a encontrar pessoas que também se interessam por investimentos”, diz o fundador ao EXAME IN.
Convencer os investidores a embarcar no projeto não foi difícil. “Já conhecíamos o Breno da Mimic, então quando ele apresentou a ideia achamos que tinha tudo a ver com o país. As pessoas estão começando a investir, há um caminhão de dinheiro a ser alocado em investimentos, e o brasileiro é muito social, gosta de tomar decisões com base em influenciadores”, diz Marcos Toledo Leite, sócio gestor do Canary.
A proposta da Gank é parecida com a da americana Public.com — fundada em 2018 e hoje avaliada em US$ 1,2 bilhão. "É uma mistura de Twitter com home broker. Vai ser possível seguir amigos, ver o que a comunidade está falando, saber quem comprou qual ativo e negociar ações", diz Fortuna.
A empresa não quer trazer conteúdos de casas de análise ou notícias, mas sim deixar que a própria comunidade traga informações e conhecimento sobre o universo de investimentos. "Nos interessa diminuir a 'sopa de letrinhas': simplificando os conceitos apresentados ao usuários e reduzindo a quantidade de fundos disponíveis. Em vez de um menu gigantesco, queremos ser mais diretos e simples", diz Fortuna.
Internamente, a startup desenvolveu a parte de rede social da plataforma, mas conta com uma parceria com a corretora Ideal para viabilizar os investimentos em ações. O produto será lançado para os primeiros usuários no início de outubro — hoje, há uma lista de espera com cerca de 200 pessoas interessadas em usar a plataforma.
"Vamos começar pequenos, em um ambiente controlado para testes, mas temos grandes ambições", diz Fortuna. A empresa não tem o modelo de negócios definido. Segundo o fundador, a preocupação inicial é construir uma base de usuários sólida, para só depois descobrir como explorar isso financeiramente.
O momento de lançamento não poderia ser melhor: há milhares de novos investidores se aventurando no mercado de ações todos os meses. Atualmente já são 3,2 milhões de CPFs cadastrados na B3, 42% a mais que no primeiro semestre de 2020. Desse total, pelos pelo menos 1 milhão fazem movimentações mensalmente, sendo responsáveis por 25% do volume negociado da bolsa brasileira.
Entre os investidores, as redes sociais, especialmente as de vídeo, tem grande influencia sobre as decisões de investimento. Segundo pesquisa da consultoria financeira MagnifyMoney divulgada em abril, entre os jovens de 18 a 40 anos, o YouTube é a principal fonte de informação para tomar decisões sobre investimento. Entre pessoas de 18 a 24 anos, a chamada geração Z, o TikTok está na segunda posição, citado por 41% dos entrevistados.
O desafio da Gank será capturar a atenção dos investidores em um momento em que novas iniciativas voltadas para o mercado de ações não param de surgir. “As corretoras resolveram o tema do acesso ao mundo dos investimentos, hoje está quase comoditizado. A grande dor agora é descobrir como ajudar os investidores a tomar uma decisão embasada — nós acreditamos que será através da comunidades”, diz o fundador.
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