Renato Andrade e Guilherme Nosralla, cofundadores da Merama: startup se inspirou no modelo do unicórnio americano Thrasio (Merama/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 28 de abril de 2021 às 10h04.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 12h37.
Fundada em dezembro de 2020, a startup Merama nasceu com uma proposta ambiciosa: construir o maior conglomerado de marcas digitais da América Latina. Para isso, a empresa acaba de captar US$ 160 milhões em sua rodada series A, uma das maiores da região. Do total recebido, US$ 60 milhões foram via equity e US$ 100 milhões com uma linha de crédito da Triplepoint Capital, que financiou empresas como Facebook e YouTube.
Os fundos de venture capital Monashees, Valor Capital Group e Balderton lideraram a rodada, que ainda contou com a participação da Maya Capital, de Lara Lemann e Mônica Saggioro, e de fundadores dos unicórnios MadeiraMadeira, Rappi, iFood e Loggi.
Mas o que atraiu tantos investidores para um negócio que ainda não tem um ano de vida? Parte da resposta está no time de fundadores. A Merama surgiu da combinação de ideias de empreendedores brasileiros e mexicanos, aproximados pela Maya Capital no ano passado.
Do lado brasileiro, são Renato Andrade e Guilherme Nosralla, que se conheceram na consultoria McKinsey e decidiram empreender juntos. Do lado mexicano, são Felipe Delgado, Olivier Scialom e Sujay Tyle, que tem experiência em empresas de tecnologia e e-commerce. Tyle, inclusive, empreende desde a adolescência. Seu último negócio, a Frontier Car Group, um marketplace de carros usados, foi adquirido em 2019 pela OLX por US$ 700 milhões.
A proposta dos sócios é que a Merama seja “uma espécie de Unilever e P&G” dentro dos maiores marketplaces da América Latina, como Mercado Livre, Amazon e Magazine Luiza. Para isso, ela procura marcas que estejam faturando mais de US$ 1 milhão por ano nessas plataformas e compra 50% do negócio, mantendo os fundadores das empresas na operação.
Com um time de cerca de 40 funcionários especializados em gestão financeira, marketing e logística, a startup espera impulsionar o faturamento das investidas ao longo de dois ou três anos, e, eventualmente, comprar a totalidade do negócio. A empresa não divulga quem são as primeiras marcas latino-americanas em que está apostando, mas afirma que deve terminar o ano com faturamento total de US$ 100 milhões.
"Acreditamos que é possível operar empresas de categorias diferentes no online, só não olhamos para a venda de alimentos. Estamos interessados em setores como eletrônicos, esportes, produtos para pet e bebês", diz Renato Andrade, que comanda a operação brasileira, ao EXAME IN.
O modelo é uma tropicalização do que faz a americana Thrasio, uma das startups mais rápidas a se tornar unicórnio nos Estados Unidos. Por lá, ela conquistou mais de US$ 1,7 bilhão em aportes com sua estratégia de adquirir empresas que vendem no marketplace da Amazon, a varejista líder do e-commerce no país. Fundada em 2018, a Thrasio já soma mais de 100 marcas no seu portfólio. Além dela, se destacam no mercado global a americana Perch, a alemã SellerX e a francesa Branded.
Como é pioneira no modelo na América Latina, os investidores estão confiantes de que a Merama vai conseguir repetir os feitos na região. Espaço para crescer não falta. Com a pandemia acelerando a digitalização do varejo, o e-commerce viveu um boom. Só no Brasil, as vendas pela internet aumentaram em 41% em 2020, com pelo menos 13 milhões de pessoas fazendo a primeira compra pela internet, de acordo com dados da consultoria Ebit/Nielsen. Neste ano, o ritmo deve seguir alto. Projeção da empresa de logística DHL afirma que as vendas pelo comércio eletrônico na América Latina devem crescer 21% até o final do ano.
"A pandemia fez essa grande transformação no varejo digital, vemos todos os dias os sucessos de marcas nativas digitais ao redor do mundo. Mas uma boa marca é diferente de uma boa empresa. Acreditamos que o time de talentos que a Merama reuniu poderá ajudar as marcas digitais latino-americanas a crescer e se transformar em grandes negócios", diz Scott Sobel, cofundador da Valor Capital Group.
O desafio para a startup será provar que as adaptações feitas no modelo de negócio se sustentam. Em vez de trabalhar em um marketplace líder, ela precisará atuar com ao menos dez plataformas em toda a América Latina. Só no Brasil, marcas como Mercado Livre, Amazon, B2W, Magazine Luiza e Via Varejo disputam espaço no varejo online.
Além disso, a companhia já nasce internacional, com operações no Brasil, México, Argentina e Chile, o que pode abrir portas para exportações, mas também dificuldades de gestão devido às particularidades de cada país. Segundo os empreendedores e investidores, a saída para esses problemas está em um processo cuidadoso de seleção das marcas investidas.
Como compra participação em negócios lucrativos, a Merama gera receita desde o começo, mas precisará de aportes constantes para poder girar a operação. Além do dinheiro para bancar os novos investimentos, a startup vai precisar também de recursos para poder alavancar a operação das investidas nos marketplaces, o que demanda gastos com estoque, equipe e marketing.
"Estamos surpresos com a aceitação do mercado. Nossa meta inicial era terminar o ano com faturamento somado de US$ 10 milhões, mas logo vimos que o número seria dez vezes maior, o que nos fez adiantar a rodada de captação. Nosso desafio é executar: conhecemos o playbook e temos um bom time, agora precisamos trabalhar", diz Guilherme Nosralla.