Exame IN

SPX: Brasil vive "equilíbrio instável" e não está imune aos efeitos defasados de política monetária

Na visão da gestora, o país está bem posicionado no curto prazo com supersafra e inflação contida, ainda que acima da meta

 (Priscila Zambotto/Getty Images)

(Priscila Zambotto/Getty Images)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 9 de junho de 2023 às 19h38.

Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19h38.

Em meio à inflação persistente em países desenvolvidos e à retomada econômica lenta da China, o Brasil vive atualmente um “equilíbrio instável”, nas palavras de Kym Ardison, gestor de fundos multimercado macro da SPX. Na carta divulgada nesta sexta-feira, 9, o executivo aponta que, em uma perspectiva global, o ano de 2023 deve ser marcado por atividade econômica global desacelerando e que, mesmo com algum alívio em inflação, o afrouxamento monetário não deve vir antes do esperado.

Nesse cenário, o Brasil tem, no curto prazo, uma série de pontos que jogam a favor: a supersafra e os impulsos fiscais — que ajudaram a melhorar as perspectivas para o PIB de 2024 — combinados aos dados de mercado de trabalho resilientes e aos níveis de inflação contidos, ainda que em cima da meta. No entanto, não se trata de um jogo ganho, considerando o que está acontecendo nos países desenvolvidos e na China. O que vai reforçar a atenção a um possível aumento tributário no governo atual, segundo o gestor. 

Os efeitos defasados de política monetária em regiões como os Estados Unidos e as mudanças estruturais no país asiático, com revisões das projeções de crescimento, constroem um ciclo de aperto monetário, que representa uma mudança total em relação ao cenário encontrado nos dois primeiros mandatos do presidente Lula — em que a geração de receita com impulso no preço das commodities ajudou a trazer superávit primário. 

Nesse cenário, a alocação da casa em juros está espalhada em diferentes países, em moedas, principalmente em dólar americano. Em ações fora do Brasil, a SPX mantém alocações relativas nos Estados Unidos, diante de uma visão negativa com o cenário macro e, no Brasil, apenas com posições relativas. A firma também reduziu a exposição a crédito emergente, de olho em ficar menos exposta à volatilidade do mercado de juros global, e, nos países desenvolvidos, reforçou a alocação com o índice US Investment Grade.

Analisando mais a fundo os efeitos globais de contração globais, o gestor começa pela mudança de paradigma da China em relação ao período pré-pandemia. Daqui para a frente, o setor de serviços deve contribuir de forma positiva para o crescimento local, mas de forma gradual (assim como foi no resto do mundo) e considerando principalmente que na China os estímulos foram menos direcionados ao consumidor e mais para infraestrutura. Sem novas medidas anunciadas, a chance maior é de um impulso contracionista por lá.

O que leva a crer, segundo o gestor, que o país deve crescer como reflexo da reabertura, mas que o setor de serviços local será o maior beneficiado. Portanto, apesar da alta, a China não deve trazer estímulos globais. Tanto pelo comportamento de agora quanto pela visão de longo prazo do governo chinês. Ao buscar ser cada vez mais autossuficiente em tecnologia, de olho em segurança nacional, a prioridade deve ser ganho de produtividade nessa frente (reduzindo estímulos usados no passado, como crédito e habitação). 

Os efeitos no país asiático se somam à persistência da inflação nos países desenvolvidos. O gestor direciona a atenção especialmente aos Estados Unidos, em que os índices permanecem consideravelmente distantes da meta estabelecida mesmo com o aumento dos juros, diante de um mercado de trabalho ainda aquecido e de uma deflação de bens mais lenta do que o esperado. 

Ambos os pontos podem ganhar um impulso para voltarem aos trilhos com a queda nos preços de energia e a normalização dos ciclos de estoques da indústria. Mas, a normalização por completo, frisa Ardison, “requer perseverança e entendimento de que sacrifícios precisam ser feitos”. Uma vez que um desvio dessa estratégia pode trazer custos ainda maiores de redução de inflação no futuro.

Para o Brasil, no meio de todos esses acontecimentos — o ciclo de aperto monetário, crescimento baixo e de revisão nas expectativas sobre a China —, o que resta, na visão do gestor, é aumentar a carga tributária e “acreditar que o Estado é mais eficiente do que a iniciativa privada na alocação dos recursos brasileiros, de forma que esse novo equilíbrio resultará em crescimento robusto à frente”. Um ponto que, como o próprio gestor aponta, raramente trouxe efeitos positivos no médio prazo, considerando a história local.

Além disso, Ardison aponta que, em relação à estabilidade das contas públicas, o pensamento de médio e longo prazo vem quase sempre sob hipóteses de estabilidade — quando a possibilidade de choques recessivos é bastante significativa. "Ainda, condicional ao nível de aperto monetário global atual, a probabilidade de acidentes em termos de crescimento hoje é superior à média histórica", diz o gestor. Diante desse cenário, ele frisa que é necessário ponderar riscos envolvidos na estratégia fiscal do governo com a realidade de curto prazo positiva.

Acompanhe tudo sobre:MercadosEconomia

Mais de Exame IN

Vinci compra controle do Outback no Brasil em operação de R$ 2 bi

Magazine Luiza lucra R$ 70 milhões no 3º tri e bate (de longe) consenso

Para lidar com juros altos, Assaí reduz alavancagem e fica menos promocional no 3º tri

MELI despenca 15% com pressão em margens. Os comprados veem um bom deja vu