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Smartfit se livra do peso de curto prazo com renegociação de dívida

Empresa conseguiu dispensa dos debenturistas de cumprir limite de alavancagem financeira

Rede de academias enfrenta queda dramática na geração de caixa devido ao isolamento social (Leo Martins/Abril)

Rede de academias enfrenta queda dramática na geração de caixa devido ao isolamento social (Leo Martins/Abril)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 26 de junho de 2020 às 18h08.

Última atualização em 26 de junho de 2020 às 23h34.

A rede de academias Smartfit conseguiu renegociar com os credores para evitar ter de pagar antecipadamente as debêntures da quarta emissão, que totalizam 1,3 bilhão de reais, por estourar os limites de alavancagem previstos na operação. A decisão foi tomada nesta sexta-feira, em assembleia de debenturistas. Com isso, os sócios não precisam aportar novos recursos no negócio, para aliviar a pressão gerada pela crise do coronavírus. Os acionistas estavam dispostos a colocar cerca de 500 milhões de reais apenas para dar um fôlego aos indicadores nesse momento — até o pior passar.

A companhia, assim como diversas outras ligadas a consumo, vai assistir sua linha de Ebitda minguar neste ano, devido ao isolamento social usado como estratégia contra a pandemia do coronavírus. Com isso, o indicador mais tradicional de controle da saúde financeira das empresas, que relaciona a dívida líquida ao Ebitda, vai explodir — não porque os compromissos aumentaram, mas porque a geração de caixa está momentaneamente suspensa.

Depois de captar mais de 1,15 bilhão de reais no ano passado, a Smartfit terminou março com 1,35 bilhão de reais em caixa e vencimentos previstos para o ano de apenas 209 milhões de reais. Até o fim do trimestre, estava tudo muito bem: a relação da dívida líquida sobre o Ebitda acumulado em 12 meses fechou em 1,94 e o teto estabelecido na emissão era de 3. Mas o problema está justamente na vida pós-março, depois que o mundo se trancou.

Pela dispensa de cumprir o limite financeiro, a Smartfit aceitou pagar uma espécie de multa — a taxa do perdão que o mercado chama de ‘waiver fee’ — de 1,18% sobre o saldo da emissão, ou quase metade do CDI, neste momento. A proposta também incluía um limite novo, de 6,75, para o indicador de alavancagem, para medição no fim deste ano e primeiro trimestre do ano que vem. Por fim, diante de uma participação de detentores de mais de 90% das debêntures em circulação no encontro, a empresa concordou ainda em amortizar antecipadamente 10% do saldo dos papéis, incluída remuneração.

A conta total da renegociação, portanto, não saiu por menos de 145 milhões de reais. Além disso, a empresa ainda precisa cumprir alguns limites de liquidez durante o afrouxamento das metas para a alavancagem. Na assembleia, os credores conseguiram melhorar sua situação em relação ao que a Smartfit havia oferecido no início da semana.

Sobre o futuro de médio prazo dos negócios que dependem de inteiração social, ainda pouco se sabe. No longo prazo, a aposta está na “normalidade” ou “nova normalidade” após o desenvolvimento de uma vacina. O modelo de baixo custo e unidades preponderamente próprias desenvolvido pelo fundador Edgar Corona, atualmente alvo do inquérito das 'fake news' comandado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), atraiu diversos fundos de grife e aportes bilionários ao longo dos últimos anos. Atualmente, a gestora de recursos Pátria Investimentos é a controladora da empresa, com 73% das ações ordinárias e 51% do capital total. A fatia gerida pela casa inclui recursos de outros fundos.

 

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