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Sem espaço na agenda, Privalia suspende oferta em cenário competitivo

Mercado tem dúvidas quanto ao potencial de crescimento da companhia, diante das diversas formas de concorrência ao modelo de negócios

Privalia: número de clientes que fizeram primeira compra em 2020 cresceu 35% sobre 2019 (Getty Images/Getty Images)

Privalia: número de clientes que fizeram primeira compra em 2020 cresceu 35% sobre 2019 (Getty Images/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 21 de julho de 2021 às 00h12.

Última atualização em 21 de julho de 2021 às 00h22.

Ainda não foi desta vez. A companhia de e-commerce Privalia, uma espécie de market-place ou shopping online de outlets de grandes marcas, não encontrou a demanda necessária para conseguir listar ações na B3. A companhia tentava uma operação que, no piso da faixa indicativa de preços, somaria pouco mais de R$ 710 milhões entre colocações primária e secundária. Do total,  algo como R$ 374 milhões iriam para o caixa da companhia, com a emissão de novos papéis. O intervalo de preços variava de R$ 16,30 a R$ 18,10 por ação.

A transação não decolou nem mesmo após ser reestruturada, o que transformou a oferta pública em privada. Nessa remodelagem, foi assinado um acordo com o BTG Pactual (do grupo que controla a EXAME), no qual a instituição assumiria 5% da companhia — pela instituição, leia-se fundos geridos pelo banco. Se tivesse conseguido sair no piso sugerido, a Privalia chegaria à bolsa avaliada em R$ 1,8 bilhão.

Assumir 5% equivaleria, para o BTG, a investir cerca de R$ 90 milhões na transação, ou seja, mais de 10% da oferta total. O BTG+, braço de varejo do banco de atacado, como parte do acordo, também seria parceiro para soluções financeiras voltadas aos os parceiros da empresa, clientes e fornecedores.

Conforme o EXAME IN apurou, a operação será reorganizada e haverá uma nova tentativa. Quando pretendia fazer uma oferta pública, bem no início dos planos, a empresa almejava uma avaliação entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões. Eram outros tempos. Quando as techs, digitais e e-commerces estavam na "crista da onda". Elas ainda estão. Mas só aquelas com robustos resultados, já maduras (maduras, mas  em expansão, de preferência).

Não bastasse essa onda ter passado, o período escolhido pela companhia para vir à B3 não foi dos melhores. Além de volatilidade, a empresa encontrou ceticismo, com a percepção de que alguns negócios estão caros demais (em especial os relacionados ao e-commerce), e uma concorrência aciradíssima pela hora dos gestores de recursos. Uma luta quase inglória.

A Privalia chegou ao mercado no mesmo momento em que ocorre a maior oferta de 2021, a listagem da Raízen, na sequência da listagem da CBA, a empresa de alumínio do grupo Votorantim, e junto com as ofertas subsequentes do Grupo Soma — para pagar a compra da Hering — e da Magazine Luiza. E isso são apenas os nomes ilustres.

Ainda que os ativos sejam todos completamente diversos, os bolsos são, em sua maioria, os mesmos. Estava muito difícil encontrar tempo na agenda dos gestores para argumentar e mostrar o plano contra as críticas.

O que os donos do dinheiro pensam, sem olhar de perto a história toda, é que não há espaço para a Privalia crescer num mundo em que se fala cada vez mais em recirculação (que possui um tíquete altamente competitivo), em que o Mercado Livre é domina o comércio eletrônico no país, inclusive para marcas e roupas, e que tem uma par rival maior, a Dafiti. E isso para não falar da proliferação de market-places por aí afora, incluído o esforço hercúleo dos próprios shopping-centers nessa direção, os físicos.

O plano de como otimizar a sua base de clientes da Privalia, bastante engajada, não encontrou tempo para ser ouvido pelos potenciais compradores — que, com tudo que tinha na mesa ao mesmo tempo, preferiram concentrar os esforços nos “big cases”.

Pelo visto, a Privalia terá de aguardar um momento mais tranquilo para poder ser escutada. Em 2020, a companhia teve uma receita líquida de R$ 926 milhões, com Ebitda de R$ 58 milhões. O negócio gera caixa, segundo as apresentações aos investidores, há mais de cinco anos.

Ainda não há um novo plano de listagem desenhado. Mas tudo indica que haverá. Quando pensou na oferta pública, o grupo controlador francês Veepee almejava vender o controle na oferta — algo a "a la JC Penney", com a Renner, em 2005. Na versão atual, de uma oferta restrita, isso já não mais ocorreria, os franceses da Veepee seguiriam como controladores e embolsariam menos de R$ 350 milhões com a parcela secundária.

A companhia ainda espera conseguir mostrar aos investidores o que entende ser “a beleza” de seus ativos. A Privalia tem uma base superior a 15 milhões de clientes cadastrados, sendo que 1/3 disso foi captado em 2020. “Nossos clientes ativos realizam, em média, 3,46 milhões de visitas à nossa plataforma por semana e navegam por quase 90 minutos por mês no aplicativo mobile e no site. No total, somamos mais de 490 mil visitas diárias”, informava a empresa no prospecto preliminar de quando a oferta ainda seria pública, e não privada. Os números não são de se ignorar.

E, para os mais céticos sobre crescimento, a empresa informava que o número de clientes que fizeram a primeira compra em 2020 cresceu 35% sobre 2019. Um percentual de deixar muito concorrente impressionado. O mundo hoje é dos velozes. Resta saber o que é a linha de chegada.

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