Exame IN

Sem 7 x 1: finalmente, jogo do dólar contra o real mudou

Julius Baer Family Office tem visão positiva da economia global e brasileira sem desprezar riscos

Ociosidade no mercado de trabalho, competitividade externa e avanços na infraestrutura favorecem atividade (Divulgação/Divulgação)

Ociosidade no mercado de trabalho, competitividade externa e avanços na infraestrutura favorecem atividade (Divulgação/Divulgação)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 16 de junho de 2021 às 11h30.

Última atualização em 16 de junho de 2021 às 11h46.

Quatorze recessões atropelaram o mundo nos últimos 150 anos, uma instituição europeia testemunhou todas elas: a suíça Julius Baer. Há dez anos, a gestora global de fortunas decidiu fincar raízes no Brasil. Agregou a GPS e a Reliance e brotou o Julius Baer Family Office (JBFO). Reconhecida como a maior gestora de patrimônio do país, por razões estratégicas a JBFO não informa quantos bilhões de reais em ativos têm sob gestão. Em compensação, a empresa revela sua visão positiva para o Brasil, para a economia global e para as perspectivas de investimento.

Nem por isso a gestora abandona a cautela e alerta basicamente para três riscos que devem ser monitorados – e não só por investidores: eventual aceleração da inflação global para além dos efeitos da reabertura das economias; a consistência do crescimento no pós-pandemia sobretudo nos Estados Unidos; e a eleição brasileira em 2022 que deveria produzir um pacto pela modernização do Estado em prol da redução da pobreza que não resulte em conflito de orçamento.

Em entrevista ao EXAME IN, o economista Paulo Miguel, sócio e diretor de Investimentos da Julius Baer Family Office, avalia que o país tem boas condições de crescimento. “O ano de 2022 pode ser complicado, temos eleições em um contexto de debate polarizado, sem termos ainda uma candidatura com um projeto moderno de melhoria da infraestrutura institucional e econômica do país. Portanto, há incerteza pela frente. Por outro lado, assistimos vacinação contra a Covid-19 acelera. Poderemos ter todos os adultos vacinados até setembro e avançamos para uma abertura consistente da economia. A vacinação é pré-condição para isso e o segundo semestre deve ser mais positivo e quando deveremos convergir para a situação de países com imunização mais adiantada e que exibem uma reabertura forte.”

O executivo pondera que o impulso inicial da retomada pode assustar do ponto de vista inflacionário. Contudo, diz, a reabertura pode ser uma solução para reequilibrar demanda e oferta de bens. A pandemia fortaleceu a demanda, enquanto muitos setores passaram a ter dificuldade de produção por falta de fornecimento de insumos. “A oferta foi, portanto, comprometida. Tivemos um grande choque inflacionário no mundo inteiro e também no Brasil. Aqui, mais em função do câmbio. Mas as perspectivas são positivas para a atividade e a reabertura vai reposicionar a cesta de consumo de maneira mais ampla e reduzir alguns gargalos que já estamos observando. Então, após uma pressão em serviços, esperamos melhora da inflação mais adiante.”

Entre as condições mais favoráveis para a economia brasileira apontadas pelo economista Paulo Miguel estão a grande ociosidade no mercado de trabalho e na própria economia, além de competitividade externa positiva e maturação de esforços no arcabouço institucional de infraestrutura. “Tivemos destravamentos relevantes no saneamento que ainda são pouco visíveis e em logística de modais de transportes, setores que acenam com investimentos importantes para os próximos anos. Nossa produtividade também melhora.”

Sem espaço para erro

Apesar dos pontos positivos, o diretor do JBFO alerta que o país não pode errar na política fiscal e que é necessário prestar atenção porque ainda temos baixa visibilidade do quanto de inflação vem por aí. Quanto do choque nos preços do atacado poderá atingir o varejo e quanto ainda teremos de pressão em serviços, além do custo maior de energia.”

Como gestor, Miguel pontua que a “matriz de riscos” brasileiros melhorou. Ele considera que, embora os desafios sejam amplamente conhecidos, é fato que passou a sensação de descontrole de endividamento evidenciada no auge da pandemia.

“Teremos ganho de arrecadação, uma métrica que ajuda também a reduzir o custo Brasil. O jogo do câmbio contra o real também já mudou. E o Banco Central contribui [para essa mudança] com um ciclo de alta rápida de juro. A Selic deve subir mais 0,75 ponto nesta reunião [junho] e talvez indicando outro aumento em agosto. Esse movimento, combinado à eliminação da ‘normalização parcial’ da política monetária de comunicação do BC deve fazer a convergência para a taxa neutra que, supostamente, é 6,50%. Isso quer dizer que vamos para a neutralidade sem abortar a continuidade do crescimento.”

Na gestão de patrimônio, informa Paulo Miguel, a estratégia do JBFO sempre foi ancorada na busca de setores de crescimento mais estrutural. E, segundo ele, o Brasil vem se consolidando como uma praça promissora para ativos privados, venture capital, private equity.

“Os resultados são muito bons e essa exposição não se consegue na Bolsa porque muitas das inovações estão sendo construídas e chegam na Bolsa mais adiante ou chegam em grandes empresas que adotam instrumentos como canal digital, vendas online. Para nós, as inovações chegam como investimentos privados. Consideramos também o universo imobiliário uma aposta vencedora, ainda que de baixa liquidez no curto prazo. Vemos também um movimento crescente de internacionalização de carteiras no Brasil. Esse movimento veio para ficar.”

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