Saúde: setor fez fila de cinco IPOs, mais Dasa, em busca de R$ 13 bilhões (Getty Images/Getty Images)
Graziella Valenti
Publicado em 14 de abril de 2021 às 18h02.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 14h33.
A rede de hospitais Mater Dei conseguiu fechar sua oferta pública inicial de ações (IPO). Mas teve de aceitar um senhor desconto para garantir seu lugar no pregão. A ação ficou em R$ 17,44, o que significa um decréscimo de 20% sobre o piso do intervalo sugerido para a operação, de R$ 21,80.
A companhia, que seria avaliada em no mínimo R$ 7,7 bilhões, terminou em R$ 6,2 bilhões. O valor equivale a cerca de 15x Ebitda estimado para este ano. Ontem, a negociação por uma redução estava entre 5% e 15%, e o livro de reserva já estava bem resolvido. Mas os investidores acordaram decididos a pedir novo ajuste para topar fechar. A oferta — que antes seria de R$ 1,9 bilhão no intervalo da faixa — somou R$ 1,4 bilhão e foi basicamente comprada por investidores locais.
A Viveo, por exemplo, mais uma companhia que anda junto com o setor de saúde, de produtos farmacêuticos, resolveu não aceitar uma dedução de preço. Ontem à noite mesmo, desistiu. O cenário contribuiu para que os investidores que reservaram Mater Dei chorassem por um desconto maior.
O setor de saúde, que segue cultuado no venture capital, com as healthtechs como uma das estrelas das captações, não está com o mesmo brilho na B3. Mas, embora pareça uma questão setorial, não é.
A onda de IPOs, que pretendia surfar o sucesso da listagem da Rede D’Or, em dezembro, pegou um momento de cautela dos investidores de ações. O mês começou com cinco empresas do setor na fila de ofertas públicas iniciais (IPO), com a expectativa de movimentar R$ 13 bilhões, junto com a reestreia da Dasa, de exame laboratoriais. Mas, logo de cara já dá para dizer que o volume não vai nem chegar em R$ 9 bilhões.
Na fila de ofertas públicas iniciais (IPOs), além de Mater Dei, há duas outras redes hospitalares, de diferentes regiões do país e de pequeno e médio porte: Hospital Care e Kora Saúde. A lista de pretendentes fica completa com a Blau Farmacêutica, de medicamentos para casos de alta complexidade.
O cenário mais difícil estava dado já com a redução de preço da Dasa e anúncio no corte do tamanho da oferta da Blau. A piora no cenário doméstico, por questões políticas e econômicas, está pesando sobre as novatas. O fluxo externo está distante de ser animador e tem oscilado. Sem contar que as carteiras internacionais querem apenas grandes operações e a régua fica ainda mais alta em períodos de turbulências .
A expectativa é que da lista já conhecida, a Hospital Care, uma operação estimada em R$ 800 milhões, não avance — a menos que surja um interessado específico em ancorar parte relevante da transação.
Para complicar ainda mais, a Hapvida decidiu acelerar os planos e colocou na rua uma oferta de até R$ 2,7 bilhões. Em momentos de incerteza, investidores preferem os ativos conhecidos e, especialmente, que tenham portas de saída bem largas. Gestores ouvidos pelo EXAME IN apontam a concorrência como um dos argumentos para a dificuldade nas ofertas. Mas, há quem diga que o tamanho da transação é pequeno e não atrapalha as novatas.
Após a fusão com o Grupo NotreDame Intermédica, Hapvida vai tornar um negócio avaliado acima de R$ 100 bilhões, com mais da metade do capital disperso no mercado. Antes de combinar, já vale mais de R$ 55 bilhões.
As empresas a caminho da bolsa são de bem menor porte. Somadas as cinco candidatas a estreantes, o valor de mercado poderia chegar próximo a R$ 30 bilhões, no teto das projeções. Mas, com os ajustes de preço, o agregado delas será inferior a R$ 20 bilhões (sem considerar a Dasa).