Grupo Cosan: captação é a segunda da Rumo em meio à pandemia (Fabiano Accorsi/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 30 de junho de 2020 às 15h26.
Última atualização em 30 de junho de 2020 às 15h46.
A Rumo, maior empresa de transporte ferroviário do Brasil, fechou há pouco sua primeira emissão de ‘green bonds’ com uma demanda quase cinco vezes maior que a oferta. No total, a companhia levantou 500 milhões de dólares, conforme o previsto, com prazo de sete anos e uma taxa pré-fixada de 5,25% — dentro da indicação sugerida para a operação.
Poderia ter levantado 2,4 bilhões de dólares se quisesse, ou mais de 10 bilhões de reais. Foi o que apareceu de comprador dessa modalidade de papéis que é a ultima moda, com crescente valorização dos princípios ESG — ambientais, sociais e de governança — no mundo dos investimentos. O apetite sinaliza espaço para emissões de empresas brasileiras diante da liquidez internacional e o sucesso desse tipo de título.
Os papéis verdes precisam ter a indicação de uso estabelecida previamente para garantirem esse selo. No caso da Rumo, o prospecto da oferta dos papéis indicava modernização da ferrovia, o que amplia eficiência e reduz consumo de combustíveis.
A oferta global foi coordenada pelo Itaú BBA, Morgan Stanley e Santander. Bradesco BBI, BTG Pactual, Citigroup, Goldman Sachs e JP Morgan também participaram do sindicato para a colocação.
No fim de maio, o governo federal antecipou a renovação do contrato de concessão da malha paulista da empresa, o que destravou o investimento de duplicação desse trecho — movimento esperado desde a fusão com a ALL, em 2014. O projeto, que consumirá investimentos entre 5 bilhões e 6 bilhões de reais, pode na verdade mais que duplicar a capacidade, passando das atuais 35 milhões de toneladas anuais para 75 milhões de toneladas. A companhia já deu entrevistas nas quais prevê a possibilidade de chegar a 100 milhões de toneladas anuais, considerando ganhos de eficiência com investimento em tecnologia.
Em maio, a Rumo também concluiu uma emissão local, de 800 milhões de reais em debêntures. Embora tenha um projeto parrudo pela frente, a expectativa do mercado é que a companhia possa aproveitar a boa safra de captações — e consequentemente o reforço de sua liquidez — para recomprar (ao menos parte) de uma emissão de 750 milhões de dólares feita em 2017, com taxas bem mais salgadas, de 7,38% ao ano e que vencem em 2024.
Essa foi a primeira emissão verde do Grupo Cosan, que opera em outros setores com potencial para esses títulos, como a Raízen Energia, produtora sucroalcooleira controlada em sociedade com a Shell.