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Rumo capta R$ 1,2 bi em debêntures – e mostra que compressão de taxas pode ter chegado ao piso

Empresa foi a mercado com emissão com prêmio de 0,15% ao ano sobre IPCA para série mais curta, de 10 anos

Rumo: captação vem com spread sobre NTN-B, diferente do que empresa havia sinalizado antes (Rumo/Reprodução)

Rumo: captação vem com spread sobre NTN-B, diferente do que empresa havia sinalizado antes (Rumo/Reprodução)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 25 de março de 2024 às 12h10.

Última atualização em 25 de março de 2024 às 18h54.

(Atualizado às 14h05 para corrigir a informação sobre os spreads da transação: a série de 10 anos saiu com IPCA + 0,15% ao ano e não 1,50%, como informado anteriormente. Na série de 15 anos, o ágio foi de 0,25% e não 2,50%.)

A Rumo  captou R$ 1,2 bilhão em debêntures incentivadas na última sexta-feira, com taxa de 0,15% sobre a NTN-B para a tranche de 10 anos – num spread bastante reduzido, mas que sinaliza que a compressão vista nesse tipo de título depois das regras mais restritivas do Comitê Monetário Nacional (CMN) para papéis isentos chegou a um piso.  

A empresa de ferrovias tinha lançado a oferta com uma característica incomum: os papéis foram lançados com preço indicativo sem spread (ou seja, equivalente ao IPCA), na tranche mais curta, de 10 anos. Além disso, uma tranche mais longa, de 15 anos, a empresa pagaria o equivalente à NTN-B35, segundo informações divulgadas na imprensa. No fim, essa emissão também teve prêmio, de 0,25%.  

A demanda do mercado totalizou R$ 500 milhões, um montante acima das expectativas iniciais, segundo uma fonte próxima à operação.  

O restante foi encarteirado pelos bancos. O BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) foi o coordenador da oferta, com Santander, Safra, Itaú BBA e BV como demais coordenadores. 

A emissão ‘amassada’ vem em meio a um mercado de alta demanda por debêntures incentivadas. Tudo começou em fevereiro, com a publicação da norma do CMN, que reduziu o lastro de CRIs, CRAs, LCIs e LCAs – isentos de IR – e aumentou a procura pelos títulos que seguem incentivados.  

Outro vento a favor veio do fim come-cotas para fundos exclusivos, que engordou a demanda por títulos com benefícios fiscais.  

Dados do IDA IPCA Infraestrutura, o índice da Anbima que mede a rentabilidade de debêntures incentivadas, mostram uma compressão da ordem de 45 pontos-base, saindo de IPCA+6,45% em dezembro de 2023 para IPCA+6,30% em março, o ponto mais baixo desde fevereiro de 2022.  

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A alta demanda por títulos de dívida afetou até mesmo a precificação de ativos não isentos, embora em menor grau: nas debêntures não incentivadas, medidas pelo IDA-DI, a compressão de taxas foi de 30 pontos-base, saindo de CDI+1,95% em dezembro para CDI+1,67% em março, patamar também comparável ao de 2022. 

Diante da alta demanda do mercado por títulos de dívida, bancos têm encarteirado operações com spreads mais apertados — principalmente porque conseguem desovar os títulos no mercado na sequência.  

Do volume total de debêntures emitidas em fevereiro de 2024 (R$ 22 milhões), 69% foi distribuído ao mercado, patamar acima do registrado durante o segundo semestre do ano passado, segundo o BTG Pactual.  

Emissões de debêntures incentivadas: apetite do mercado para absorver prêmios menores (BTG Pactual/Divulgação)

Para os bancos, os spreads chegaram a seu menor patamar e devem subir daqui para a frente. “As taxas devem passar por um ajuste, menos por causa dos bancos e mais por causa da correção de risco para cada ativo, hoje muito distorcida. Deve ser um processo gradual”, diz um executivo de uma instituição financeira.  

No mercado, há a percepção de que esse cenário deve ficar menos acirrado apenas a partir do segundo semestre.  

“Quando a Selic bater um dígito, os alocadores olharão mais para outras classes de ativos, pois os investidores pessoa física ponderam muito as taxas nominais dos ativos, e não necessariamente os prêmios de crédito, como é o caso dos institucionais”, diz Odilon Costa, estrategista de renda fixa e crédito privado do Grupo SWM. 

Vento a favor dos fundos de crédito 

O apetite de investidores, mesmo em um momento de prêmios distorcidos, deu um gás e tanto nos fundos de investimento voltados a crédito privado.  

Um relatório BTG Pactual mostra que o patrimônio líquido dessa classe cresceu de forma consistente desde junho do ano passado, quando somava R$ 637 bilhões, no início da retomada pós-crises da Americanas e da Light.   

De dezembro para cá, cresceu 5%, totalizando R$ 714 bilhões em março. A amostra considera 100 fundos que têm em média 15% do patrimônio líquido em debêntures e letras financeiras. 

Na Sparta, gestora de crédito, o fundo indexado ao IMA-B5 (que acompanha a inflação), isento de imposto de renda, chegou ao primeiro bilhão. “Hoje, estamos captando aproximadamente R$ 20 milhões por dia”, diz Felipe Vidal, gestor de renda fixa da casa.  

Por enquanto, a maior parte do fluxo está indo para fundos mais líquidos, entre D+0 e D+1.  

“É um movimento natural para esse investidor que continua buscando por ativos em que ele pode ter fácil acesso ao dinheiro. Com o tempo, esse dinheiro passa para os fundos D+30 e D+60, até virar uma alocação mais estrutural, em um fundo D+180, por exemplo”, diz Fernando Marinho, gestor da Valora Investimentos.  

 Para Paulo Bokel, da Absolute, o principal catalisador para os aportes em fundos mais longos é a percepção de rentabilidade em relação aos mais curtos — algo que deve ficar claro no decorrer dos próximos meses. 

 “A diferença está sendo muito grande. O fundo D+1 está pagando 100% do CDI, até 102%. Fundos mais longos estão pagando mais de 120%. Daqui a uns três, quatro meses, quando os investidores virem que não tem mais jeito de a norma mudar e que o fundo D+30 está dando mais de 130% do CDI, vão ver que custa caro ficar parado em alternativas de maior liquidez. Por enquanto, tudo ainda está meio conturbado”, afirma.  

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