O estudo de Fase 2 da Roche se concentra em níveis de dosagem e segurança
Publicado em 1 de novembro de 2024 às 07h02.
Última atualização em 1 de novembro de 2024 às 15h02.
A esperança de tratamentos mais eficazes para o Alzheimer está aumentando.
Nesta semana em Madri, a Roche apresentou a cientistas e investidores resultados promissores na fase 2 de testes um novo tipo de medicamento, batizado de trontinemab.
Num estudo com 160 pacientes, a substância praticamente limpou a placa amilóide que se acumula nos neurônios de pacientes que apresentam a doença.
O principal diferencial da Roche é a maneira como o medicamento penetra no cérebro.
O trontinemab é o primeiro anticorpo contra a doença que cruza facilmente a barreira hematoencefálica, a membra que regula a passagem de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central.
Grosso modo, os vasos sanguíneos atuam como uma barreira para grandes moléculas, como anticorpos. Nas drogas anti-amiloide já aprovadas, como o Kisunla, da Eli Lilly, e o Leqembi, da Esai e da Biogen, apenas 0,1% dos anticorpos administrados atravessarem a membrana.
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A grande inovação da Roche foi uma chave molecular que destrava essa barreira, fazendo a substância penetrar rapidamente no cérebro. A tecnologia, chamada de BrainShuttle, vai ser testada mais à frente em tratamento para outras doenças cerebrais, segundo a empresa.
“A barreira hematoencefálica tem sido o Santo Graal dos tratamentos neurológicos”, disse Azad Bonni, que lidera o desenvolvimento de medicamentos desse setor na Roche, em entrevista a Barron's.
Na segunda-feira, a farmacêutica concorrente AbbVie pagou US$ 1,4 bilhão pela Aliata, uma startup que está em Fase 1 de testes para uma tecnologia de medicamentos que atuam de maneira semelhante.
Como resultado da sua tecnologia, os anticorpos da Roche estão limpando o amiloide mais rápido do que as drogas aprovadas e com doses bem menores, o que tem resultado em relativamente poucos efeitos colaterais.
Nos testes, no entanto, uma paciente de 78 anos morreu, vítima de um derrame cerebral. Foi diagnosticado que ela tinha um distúrbio de coagulação raro que era exacerbado pelas drogas que atuam sobre o amiloide. O distúrbio tinha acabado de ser incluído como contraindicação para os medicamentos da Lilly e da Esai.
A fase 2 de estudos da Roche focava apenas em níveis de dosagem e segurança do medicamento e ainda não houve uma avaliação padronizada e minuciosa sobre a melhora cognitiva dos pacientes.
Outras drogas, no entanto, já tinham mostrado que a limpeza profunda e precoce da placa amiloide leva a melhores resultados clínicos.
Tanto no Kinsula quanto no Leqembi, os medicamentos não são uma cura, mas são capazes de desacelerar o ritmo de declínio cognitivo em pacientes diagnosticados no estágio inicial da doença.
Alguns médicos também são céticos quanto a seus benefícios, já que até 30% dos pacientes nos testes clínicos tiveram efeitos colaterais severos, como inchaço e hemorragia cerebral. O FDA, a Anvisa americana, já deu carta branca para ambos.
O medicamento da Roche, por sua vez, ainda está longe de chegar às prateleiras. A Roche planeja iniciar os ensaios de fase 3 no ano que vem – e eles devem ir pelo menos até 2028.
Com um negócio de diagnósticos, diferentemente de outras farmacêuticas, a Roche também quer evoluir na forma como o Alzheimer é identificado hoje em dia.
Atualmente, os pacientes são diagnosticados e monitorados com técnicas de imagem cerebral, como uma tomografia, ou com uma punção lombar.
A Roche está desenvolvendo exames de sangue simples que podem encontrar o Alzheimer, ou descartá-lo, antes que os sintomas apareçam.“Esse campo está realmente se movendo rápido”, disse Margherita Carboni, que lidera o desenvolvimento dos testes de Alzheimer, no evento.