Tecnologia: mau humor com setor permanece (Westend61/Getty Images)
Karina Souza
Publicado em 8 de junho de 2022 às 20h19.
Última atualização em 13 de junho de 2022 às 11h50.
O pessimismo com o setor de tecnologia é notícia outra vez. Mais números mostram o tamanho do receio dos investidores com o setor: uma matéria publicada pelo Wall Street Journal nesta quarta-feira mostra que o setor, dentro do S&P 500, caiu 19% do início do ano até a última terça-feira, indicando o pior início de ano desde 2002. O S&P geral caiu 13% no mesmo período – e a diferença entre ambos é a maior desde 2004. Ainda segundo as informações do jornal, os investidores tiraram US$ 7,6 bilhões de fundos focados em tecnologia até abril e o patamar atual está comparável aos níveis de 1993.
Nem mesmo as ‘queridinhas’ do setor, as FAANG – Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google – passaram ilesas do comportamento dos investidores. As empresas tiveram perdas de dois dígitos este ano, descritas pelo jornal como mais acentuadas do que as do S&P 500 de modo geral.
Era um comportamento anunciado. Há três semanas, a pesquisa mensal do BofA com gestores mostrava que a posição ‘underweight’ havia chegado a patamares de alerta – refletindo um dos posicionamentos mais pessimistas dos gestores desde os ataques de 11 de setembro. Entre as baixas, é claro, tecnologia foi o destaque de retiradas.
A retirada de modo geral acompanha o momento atual, de certo nível de incerteza pós-covid-19, somada a um conjunto de incertezas geopolíticas, inflação e à alta dos juros global. E, quando não há nada certo à vista, a tendência quase natural é se agarrar ao que tem retornos mais próximos, ou de onde “o dinheiro está mais perto”. Não é coincidência que apenas os setores de energia e de utilities foram os únicos a ganhar dentro do S&P 500 do início do ano para cá. E ações de companhias como Exxon Mobil, Coca-Cola e Altria Group voltando a trazer ganhos para investidores, como aponta o WSJ.
No Brasil, o comportamento é bastante similar. Enquanto a privatização da Eletrobras tem uma demanda superior em cerca de quatro vezes a oferta – e as ações sobem até mesmo na véspera da definição dos preços dos papéis – o banco Safra corta o preço da Locaweb de R$ 21 para R$ 10. As ações da Sinqia operam cerca de R$ 18 (mais perto da mínima de um ano, de R$ 12, do que da máxima, de R$ 31). Não custa lembrar que a companhia multiplicou o lucro por 12 no primeiro trimestre, com uma estratégia agressiva de aquisições. A Totvs também passou por intensa desvalorização ao longo do ano, operando a R$ 28 (também mais perto da mínima, de R$ 23, do que da máxima de um ano, de R$ 41).
Mesmo diante de tamanho pessimismo, o tom é o de que nem tudo está perdido. Nos Estados Unidos, o WSJ mostra que o setor de tecnologia ainda compõe, mesmo com toda a queda observada até aqui, cerca de 27% do índice. E não se trata de uma bolha como a pontocom, do início dos anos 2000.
Segundo o jornal, apesar da popularidade do setor de tecnologia e dos valuations feitos especialmente durante a pandemia, eles não atingiram os níveis de 22 anos atrás, quando os múltiplos no S&P 500 chegaram a 26,2. No auge do otimismo com as techs, em setembro de 2020, o P/E das companhias de tecnologia chegou a 24,08, de acordo com dados da FactSet.
Mesmo no Brasil, apesar do mau momento, nem todas as empresas estão perdendo na mesma proporção. A Intelbras, por exemplo – que também opera hoje mais perto da mínima de um ano do que da máxima – ganhou recentemente recomendações de compra.
No fundo, a lição que fica é a descrita por David Eiswert, gerente de portfólio na T.Rowe Price, ao WSJ. “Não adianta comprar uma cesta de ações de tecnologia. É necessário diversificar”. Ou seja, não é o fim dos ganhos com as ações de tech, mas uma mudança – ainda que nada sutil – de paradigma sobre o setor.
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