Exame IN

Recuperação judicial da Light avança (pero no mucho)

Companhia está próxima de acordo na geradora, mas negociações com a distribuidora – principal problema da companhia – seguem travadas

Light: conversas com credores da distribuidora seguem sem avanços (Anton Petrus/Getty Images)

Light: conversas com credores da distribuidora seguem sem avanços (Anton Petrus/Getty Images)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 4 de outubro de 2023 às 18h33.

Última atualização em 5 de outubro de 2023 às 12h52.

A Light comunicou ao mercado nesta semana a intenção de tirar geradora de energia da recuperação judicial. De acordo com fontes próximas à companhia, ouvidas pelo Exame IN, as conversas estão mais avançadas com o Itaú, principal credor das debêntures da empresa, somando uma dívida em torno de R$ 300 milhões. O montante é pequeno diante da dívida que a companhia tem na geradora de energia. São R$ 600 milhões com credores e, a maior parte, R$ 1 bilhão, está com bondholders -- com os quais as conversas estão paralisadas. Na mesma situação, estão as conversas os os credores da distribuidora -- o principal gargalo da sua recuperação judicial. 

Depois da rejeição do plano de RJ por parte dos credores em agosto, a companhia chegou a avaliar novos critérios para motivar novas conversas em setembro, como o EXAME IN noticiou, mas, mais uma vez, as conversas não andaram. Hoje, a empresa trabalha em novas alternativas para a negociação, mas, por enquanto, não há nada novo na mesa. 

As dívidas da Light Sesa, a distribuidora, são de R$ 6 bilhões em debêntures — com mais da metade na mão de pessoas físicas, o que, por si só, já traz um desafio na negociação — e de R$ 2 bilhões nas mãos de investidores estrangeiros. 

O documento, apresentado no dia 14 de julho, propôs uma reestruturação dos créditos quirografários (sem garantia real) em três alternativas — que poderiam ser adotadas tanto por credores da Light Sesa quanto da Light Energia, a geradora. A primeira seria de um leilão reverso com desconto mínimo de 60%; a segunda, de conversão da dívida atual em novas ações; a terceira, de conversão da dívida em novos títulos, com desconto de 20%, remunerados pelo IPCA. 

Havia, ainda, outras duas alternativas, uma específica para a distribuidora, que previa a conversão de dívidas em novos títulos remunerados por NTN-B+2% ao ano, com carência de cinco anos e pagamento do principal em dez. 

E outra alternativa, específica para os credores de Light Energia, que previa também a conversão em dívida, esta a ser paga a partir de julho de 2025, por quatro anos (para os credores de debêntures), remunerando a IPCA+4,85%, e, para os estrangeiros, um título com uma única parcela a ser paga em junho de 2026, remunerando a juros de aproximadamente 5,5% ao ano. 

Mas todas essas alternativas pressupunham a adesão dos credores ao critério de não litigar, ou seja, de não processar a companhia. Para quem não aderisse a isso, a alternativa era a de receber o valor da dívida daqui a 30 anos. Nesse período, a companhia pode resgatar os títulos por até 5% do valor da dívida que representam. 

Esse foi um ponto que não agradou a uma parte dos credores da Light Sesa, como uma fonte próxima às negociações apontou ao EXAME IN. 

Outros pontos do plano que também não agradaram a esse grupo, que corresponde a uma dívida de R$ 1,5 bilhão em debêntures, estão relacionados à reestruturação societária proposta pela companhia. No documento, a Light aponta as companhias poderão realizar operações como cisões, fusões, incorporações, transformações e liquidações, entre a própria empresa ou quaisquer de suas afiliadas. O que foi interpretado como uma “carta em branco” para a companhia agir. 

O novo comando da empresa, com a chegada da WNT, de Nelson Tanure (que hoje tem 30,5%) vem com uma estratégia de tentar negociar as dívidas da geradora e da distribuidora fora da RJ, dentro de um processo extrajudicial, deixando na RJ somente a holding — tendo parte das dívidas direcionadas a essa estrutura.. A visão é que a via judicial é um grande empecilho para a renovação das concessões de distribuição, ponto crucial na estratégia de investimento. 

Mas, fora da geradora, ainda há pouco avanço. “Tudo continua péssimo e confuso. Não há nada sério na mesa e as negociações, hoje, estão paralisadas”, resume uma fonte. 

Em meio ao clima tenso, o anúncio de avanços nas negociações da Light Energia foi interpretado pelos credores — e por analistas — como uma tentativa de a companhia mostrar avanços à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de olho na renovação da concessão da distribuidora.

A geradora tinha uma situação financeira menos complicada já de largada. As dívidas da Light Energia são de R$ 600 milhões com debenturistas e de R$ 1 bilhão em bonds. Hoje, o principal grupo de credores da Light Energia é formado por bancos.  

Nos debenturistas, o maior é o Itaú, com uma dívida de R$ 300 milhões. Para este grupo (que inclui o banco) a companhia já firmou um acordo de pagamento de 100% da dívida, como anunciado na primeira versão do plano de recuperação judicial. 

Com os bondholders, ainda não há acordo, mas a companhia, com o apoio do Itaú, está desenhando uma proposta que deve ser apresentada em breve. "O banco tem consciência de que não adianta resolver só comigo, mas sim que é necessário resolver toda a questão da dívida na Light Energia. O Itaú está tentando criar uma solução com bondholders e estamos evoluindo nessa conversa", diz um conselheiro da Light. 

No mercado, foi levantada a hipótese de venda da Light Energia para ajudar a quitar parte das dívidas. Mas essa opção está fora da mesa. "Não temos a menor intenção de vender a Light Energia. Isso é uma demanda de um grupo muito específico de credores, que aponta a venda de um dos melhores ativos. Isso não vai acontecer", diz. 

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